Brasil deve ser forçado a trabalhar com juros mais altos para recuperar confiança do investidor, avalia economista da Itaú Asset
Thomas Wu considera que essa combinação deve levar a Selic para a casa dos 15% ao ano
Embora as condições macroeconômicas do Brasil mostrem números ainda favoráveis, o Brasil perdeu nas últimas semanas o benefício da dúvida. Assim deve ser forçado a trabalhar com taxas de juros mais altas para recuperar a confiança dos investidores, locais e estrangeiros. Segundo Thomas Wu, economista-chefe da Itaú Asset, essa combinação deve levar a Selic para a casa dos 15% ao ano, dos 11,25% atuais.
O dólar, que no início do ano estava cotado abaixo de R$ 5,00 e superou os R$ 6,00 recentemente, também é fruto dessa quebra de confiança. De acordo com o especialista, a cena internacional é insuficiente para explicar a desvalorização do real.
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“Não é que o Brasil era um país solvente e agora esteja quebrado, mas no subjetivo, sofreu os custos dos eventos das últimas semanas, perdeu o benefício da dúvida e os desafios são complicados”, disse Wu ao participar de evento da Itaú Asset.
A apresentação de um pacote fiscal com corte de gastos que veio casado com uma proposta na direção oposta para dar isenção para quem ganha até R$ 5 mil foi o elemento surpresa que mudou o humor dos investidores, com efeitos adversos sobre os ativos.
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“O Plano Real completou 30 anos, mas o Brasil ainda não é um país estável, com inflação baixa e juros baixos. Tem inflação baixa, é uma belíssima vitória, mas não juros baixos. É um paciente que saiu da UTI, até do hospital, mas precisa de doses cavalares de antibiótico e isso tem efeitos colaterais na saúde”, comparou Wu.
Ele ressaltou que os próprios pais do plano de estabilização monetária reconhecem que o quadro fiscal ainda não é compatível com a estabilidade macroeconômica, “a versão atual do arcabouço é inconsistente internamente”.
Regras de ajuste do salário mínimo e indexação de despesas obrigatórias estão no pano de fundo de uma equação difícil de resolver e que demandaria novas reformas estruturais. Com gastos crescendo mais do que as receitas, a estrutura colapsa.
Os investidores que financiam o Brasil e compram títulos públicos no Tesouro Direto, via gestoras de recursos ou o estrangeiro que administra o fundo de pensão de Singapura começam a duvidar da capacidade do governo de pagar suas obrigações. Trocam os papéis prefixados por pós, exigem mais prêmio e assim a taxa necessária para manter esse capital precisa ser mais alta, comentou Wu.
“Justo ou injusto, se a pessoa desconfia que vai ter mais inflação, ela se protege, vende pré, compra pós e pressiona a inflação implícita, se protege no dólar.” Se num primeiro momento isso tem efeitos sobre os ativos, se não recupera a confiança começa a ter custos reais para a economia.
Sem demonizar subsídios ou programas de transferência de renda, Wu disse que a política monetária perde potência diante de estímulos fiscais e parafiscais. Outro fator que tem contribuído para isso é o volume gigante de emissão de dívida privada, compensando eventual contração do crédito bancário.
Com a Selic a 15%, o PIB poderia desacelerar de 3,6% neste ano para 2,6% em 2025. A expectativa de Wu é que o IPCA esteja na casa dos 6%.
Com informações do Valor Econômico