Choque de juros não vai resolver problemas, diz economista-chefe do Bradesco

Fernando Honorato Barbosa defende que o Copom não acelere o ritmo de alta da Selic

Agência do Bradesco na Avenida Paulista. Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo
Agência do Bradesco na Avenida Paulista. Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo

Enquanto grande parte do mercado financeiro se divide entre 0,75 e 1 ponto percentual, o Bradesco aposta em alta menor da Selic. Em relatório divulgado nesta terça-feira (10), o economista-chefe do banco, Fernando Honorato Barbosa, defendeu um aperto de 0,50 ponto na taxa básica de juros.

No documento, Honorato levanta a discussão sobre o que o Copom deve fazer diante da depreciação do real e da desancoragem das expectativas de inflação. Bem como do aumento da incerteza fiscal após a frustração com o pacote de cortes do governo.

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Para o economista, duas opções estão no radar do comitê de política monetária: adotar uma convergência gradual ou praticar um choque de juros.

Bradesco: acelerar o ritmo da Selic, uma análise

Antes de tudo, ele menciona que um ritmo como o de 0,75 ponto foi usado em apenas 13% dos ciclos de altas de juros. Sendo que quase metade deles se deu durante a pandemia, período em que o Banco Central “estava normalizando os juros do patamar atípico de 2%”.

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“Aqueles que defendem aceleração do ritmo de alta da taxa de juros, tipicamente enxergam um ciclo bastante maior, receiam pela deterioração adicional das expectativas, depreciação da moeda e inclinação da curva de juros, caso o Banco Central não o faça”, escreve Honorato no relatório.

“E, além disso, enxergam que o Banco Central é a última fronteira para defender a ancoragem nominal da economia, que requer demonstração de força, neste momento”, acrescenta.

Manter o passo

No entanto, para o economista-chefe do Bradesco, a aceleração do ritmo “não resolverá os problemas que nos trouxeram até aqui”.

“A essa altura, não há nada que o Banco Central possa fazer para impedir que a inflação dos próximos meses seja pressionada pelo repasse do câmbio, pela elevação dos preços de proteínas e pela deterioração das expectativas”, anota.

“Essas, por sua vez, devem seguir ainda mais desancoradas com as incertezas fiscais – que levarão alguns meses para serem dirimidas. A depender da intensidade dos ajustes do pente-fino e das eventuais modulações no Congresso da agenda de gastos ou do IRPF”, prossegue.

Adicionalmente, considera o profissional do banco, não haverá ajustes nas expectativas enquanto não houver melhora na inflação corrente. Ele frisa que as expectativas de até um ano à frente são bastante influenciadas pelos dados correntes. Portanto, não há perspectiva de melhora no curto prazo.

Meta para o dólar?

Já quanto aos preços de mercado, Honorato avalia que, sem apoio da política fiscal, as altas de juros recentes não têm contribuído para a apreciação da taxa de câmbio.

“Sempre pode-se argumentar que, sem elas, o câmbio poderia depreciar ainda mais. Mas, se a origem do problema é a incerteza fiscal, os preços relativos precisam de fato mudar. É para isso que serve o câmbio flutuante.”

“Mais do que nunca, o Banco Central deve se concentrar nos efeitos secundários e persistir elevando os juros até que a economia desacelere e produza acomodação dos preços. O regime é de metas de inflação. E não de taxa de câmbio. Sem déficit externo, é difícil argumentar pelo choque de juros.”

Riscos para a economia

Por fim, o economista-chefe do Bradesco afirma que um eventual choque de juros apenas ampliará a volatilidade do PIB.

“Os eventos que ocorreram desde o último Copom são alheios à política monetária. E, a essa altura, acelerar o passo pode agravar o equilíbrio de riscos na economia, sem que haja ganhos substanciais para a inflação, vis-à-vis à estratégia alternativa.”

“A serenidade, a persistência e a convergência gradual, ao ritmo de 50 p.p., ainda parecem a melhor escolha para lidar com o momento peculiar e com a incerteza que vivemos.”

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