Alta da Selic agora pode ter efeito positivo? Entenda a avaliação e como aperto monetário adicional mexe com investimentos

Para economistas, aumento dos juros em setembro não tende a comprometer o desempenho do PIB em 2024 e pode conter expectativas de piora da inflação

Fachada do prédio do Banco Central (BC) na avenida Paulista, em São Paulo (SP). Foto: Fabrizio Toniolo
Fachada do prédio do Banco Central (BC) na avenida Paulista, em São Paulo (SP). Foto: Fabrizio Toniolo

Reiniciar um ciclo de alta da Selic agora, na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, vai ter um reflexo mais positivo do que negativo sobre o crescimento. Já que a decisão pode contribuir para reduzir as taxas de longo prazo, mais relevantes para os investimentos, defenderam economistas durante evento do Santander em São Paulo.

“O crescimento vai ser em torno de 2,5% [em 2024] mesmo com aumento de juros. Mas a gente pode ter uma queda das expectativas de inflação para frente, com redução do risco, que pode baixar a ponta longa da curva de juros. O que vai ser muito bom para novos investimentos”, afirmou Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual.

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Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, concordou. “Subindo os juros agora, teria um efeito muito positivo para o mercado. Vai ter a visão de que o BC está fazendo o que deve ser feito. As expectativas de inflação, pelo menos, param de subir e, eventualmente podem cair, quando houver mais certeza sobre a desaceleração da atividade e de uma política fiscal menos expansionista”, afirmou.

“O câmbio pode apreciar, porque vai ter um diferencial de juros maior, mas com prêmio menor, de uma âncora monetária restabelecida, e isso, eventualmente, vai ser bom até para o crescimento”, continuou.

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Próxima reunião do Copom no foco

Srour disse que “trazer essa âncora monetária em um momento em que não temos âncora fiscal é o mínimo necessário”. Ela ressaltou que o país precisa, na verdade, das duas âncoras. “Mas, se não tem a fiscal, a coisa realmente fica na monetária.”

Por isso, disse Srour, a próxima reunião do Copom será “muito crucial”.

Tanto Srour quanto Mansueto esperam uma alta de juros em setembro. David Beker, chefe de economia e estratégia para Brasil do Bank of America (BofA), também presente no debate, tem uma avaliação diferente.

“A gente não acha que o BC tem de subir juros. Acho que o Brasil é, sim, muito passageiro do global, e a gente vai entrar em um ciclo de afrouxamento monetário global”, disse.

“Na hora em que o Fed [Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos] começar a reduzir os juros, outros países vão também”, afirmou. Esse cenário global pode trazer pressões desinflacionárias às economias, segundo Beker.

“Mas, no limite, o que estamos dizendo é que o juro no Brasil não está baixo”, afirmou. Ele reconheceu que há dificuldade de definir exatamente o juro neutro (aquele que não acelera nem contrai a economia), “mas, na nossa visão, o juro hoje está acima da neutralidade”, disse.

Com isso, ao mesmo tempo em que o cenário externo trouxer ventos desinflacionários, a economia brasileira também vai desacelerar ao longo do tempo.

“A discussão é qual a velocidade de convergência para a meta [de inflação]”, afirmou Beker, ponderando que há dúvidas se o BC conseguirá, no horizonte de 18 meses, levar essa inflação para a meta de 3%, que é “bastante ambiciosa”, afirmou Beker.

“A nossa visão é que vai ser um processo gradual, mas, dado o contexto global e dado que o juro está acima da neutralidade, a gente acha que o BC tem de manter o juro por um período suficientemente longo”, concluiu.

Com informações do Valor Econômico

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