Haddad ‘está’ fiscalista e fez ajuste ‘acima do que é realmente necessário’ nas contas, diz André Roncaglia, do FGV-Ibre

André Roncaglia, do FGV-Ibre, diz que ajuste fiscal é 'acima do necessário', mas que Haddad segue forte, com Lula como avalista

André Roncaglia é economista, professor da Unifesp e pesquisador no FGV-Ibre. Foto: divulgação
André Roncaglia é economista, professor da Unifesp e pesquisador no FGV-Ibre. Foto: divulgação

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está fazendo um ajuste fiscal “muito duro, acima do que é realmente necessário”, avalia André Roncaglia, economista, professor da Unifesp e pesquisador do FGV-Ibre.

Mas Roncaglia diz compreender a intenção do ministro, de construir credibilidade. “Ele está querendo mostrar que o governo é sério em relação à responsabilidade fiscal”.

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Apesar do ajuste fiscal e do congelamento de R$ 15 bilhões, Roncaglia, que se coloca entre um dos economistas “progressistas”, diz que Haddad “está fiscalista”, embora não o seja, de fato.

“A decisão do ministro da Fazenda não depende dos seus anseios, mas do que a correlação de forças permite que ele faça”, diz em entrevista à Inteligência Financeira.

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Esse ajuste está relacionado à aprovação no Congresso da reforma tributária para “avançar na agenda da justiça tributária e ao mesmo tempo redistribuir a carga [de impostos], aliviando para quem está embaixo”.

Nesse sentido, Roncaglia avalia que “talvez a agenda da reforma tributária tenha consumido todo o capital político [do governo]”.  

Haddad segue forte, apesar de desgaste com ajuste fiscal

Embora não desconsidere que Haddad tenha perdido forças dentro do PT, Roncaglia avalia que o titular da Fazenda tem em Lula seu avalista e segue prestigiado como ministro. Entre as conquistas de Haddad, o economista destaca a previsibilidade da política econômica.

O prestígio junto a grupos importantes “é a fonte da força” de Haddad, segundo Roncaglia. “Falo dos industriais, grandes varejistas, grandes investidores em infraestrutura, grandes produtores de inovação, universidades públicas, que produzem grande parte das ciências no Brasil”

“Então, todo esse conjunto de players ganha com a estabilidade e a previsibilidade, que não é como antes, uma previsibilidade no sofrimento, quando esses players sabiam que ia demorar muito para chegar aonde queriam”, avalia.

Campos Neto está ‘desrespeitando’ padrão de comunicação do BC

Roncaglia avalia que as divergências no Banco Central foram apaziguadas porque a diretoria indicada por Lula tem sido “cautelosa” na defesa de suas visões sobre a política monetária.

“O jogo é este: se eles [diretores indicados por Lula] falarem, os mercados reagem mal. Se eles ficarem quietos, a desconfiança persiste. Então, num dilema terrível como este, o melhor é ficar quieto”, diz.

Em contrapartida, ele critica a postura de Roberto Campos Neto. “Esses diretores estão respeitando o padrão de comunicação de bancos centrais. Quem está desrespeitando, na minha visão, é aquele que mais se diz defensor da autonomia, que é o atual presidente do Banco Central”, acrescenta.  

Quanto às suspeitas do mercado de uma conduta pouco cautelosa de uma nova presidência, que deve vir a ser ocupada por um dos diretores indicados por Lula, Roncaglia crê que as comunicações mostram o contrário.

“Não tem ninguém ali que está dizendo, ‘olha, a partir de janeiro, nós vamos então soltar aqui a liquidez, abrir as comportas da liquidez do crédito privado’”, avalia.

“Eles estão sendo bastante rigorosos na comunicação formal e nem acho, sinceramente, que o Banco Central permite dar esse tipo de cavalo de pau. A gente já aprendeu com o que aconteceu lá com o (Alexandre) Tombini (ex-presidente do BC, indicado por Dilma Rousseff no final de 2010). Não foi uma boa medida. O Banco Central ficou atrás da curva. Depois, saiu muito mais caro para consertar”, acrescenta.

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