Reduzir desmatamento está fora do radar de companhias da B3
Levantamento da Luvi One mostra que somente 16% das companhias listadas na bolsa incluem a preservação das florestas em suas metas climáticas
O setor privado brasileiro ainda não coloca o desmatamento no centro de suas preocupações com o clima. Levantamento da consultoria Luvi One mostra que somente 16% das companhias nacionais listadas na bolsa incluem a preservação das florestas em suas metas climáticas. Na Europa, esse percentual é de 90%.
Quando levadas em conta as metas específicas, com estabelecimento de prazo e percentual de redução a ser atingido, o resultado é ainda menor: apenas 5% assumem compromissos de contribuir com um freio no desmatamento no país.
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“O Brasil ficou um tempo no debate de que a preservação de florestas era assunto de governos. A iniciativa privada tinha um papel subordinado ou de terceiro grau da discussão. Agora, o próprio mercado consumidor exige que as companhias tenham posicionamento em relação às florestas, principalmente com relação ao desmatamento da Amazônia”, afirma o economista Felipe Gutterres, presidente da Luvi One.
Na pesquisa, foram analisadas as 384 empresas listadas na B3. Entre os setores da bolsa, as empresas de madeira e papel estão entre as mais bem posicionadas – 67% delas possuem metas neste quesito, seguidas por energia elétrica, com 53%. O setor de bebidas aparece também no topo da lista, representado na B3 apenas pela Ambev, que tem metas elevadas. Na agropecuária, metade das empresas se compromete a reduzir o desmatamento.
A metodologia incluiu a análise dos relatórios publicados e a presença de metas abertas e específicas para reduzir impactos ambientais. Também foi verificado se os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), e se a metodologia Global Reporting Initiative (GRI), que endereça questões de sustentabilidade em seus relatórios anuais, são atendidos, além dos atos de gestão ambiental das empresas.
O levantamento apontou que 100 companhias da B3 têm o pior desempenho na questão de florestas, de setores como produtos de uso pessoal e limpeza, tecidos, calçados e vestuário, computadores e equipamentos. Essas companhias não possuem nenhuma meta para redução do desmatamento.
Apesar do resultado inicialmente negativo, a tendência é que o quadro comece a mudar ainda que paulatinamente. Indústrias em situações mais difíceis, o tema pode ficar para trás, avalia Gutterres. “Quem ficar de fora da tendência mundial também começará a perceber dificuldades de fazer negócios e atrair investimentos. Acabará acontecendo uma seleção natural.
“O ESG não é apenas uma sigla, é um posicionamento”, diz. Para o executivo, há uma ‘grande geração de valor’ a ser descoberta na preservação de florestas com o mercado de crédito de carbono. Segundo a pesquisa, 29% das empresas brasileiras listadas têm metas de redução de emissões de gases. No que se refere a compromissos relacionados à água, o percentual é de 24%.
A chefe de sustentabilidade do banco BNP Paribas no Brasil, Katerina Trostmann, afirma que as empresas estão entendendo que precisam abraçar a agenda de transição, e isso vem acontecendo. “Temos visto uma aceleração por parte dos nossos clientes em adotar metas e serem transparentes. Um das tendências para 2022 é a transparência climática”, afirma.