Por que o Itaú se saiu melhor que os concorrentes no 4º trimestre
Balanço superou as expectativas de analistas apoiado numa combinação de linhas de crédito mais rentáveis, avanço em seguros e receitas de serviços crescendo num ritmo mais forte que as despesas
O Itaú Unibanco apresentou o resultado mais forte entre os grandes bancos privados brasileiros no quarto trimestre do ano passado — com um lucro de R$ 7,159 bilhões, 32,9% superior ao do mesmo período de 2020. O balanço reportado pela instituição financeira para o intervalo entre outubro e dezembro superou as expectativas de analistas apoiado numa combinação de linhas de crédito mais rentáveis, avanço em seguros e receitas de serviços crescendo num ritmo mais forte que as despesas.
O presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, já vinha dando a senha há alguns meses. Em mais de uma ocasião, ele disse que via a oportunidade de o banco reocupar espaço em modalidades mais arriscadas de crédito — nas quais havia se retraído no primeiro ano da pandemia. Foi o que aconteceu. Durante o quarto trimestre, a instituição financeira deu um salto no crédito pessoal e nos cartões de crédito, dois negócios bastante rentáveis.
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“Nossa margem está crescendo acima da carteira de clientes impactada pelo mix, pela Selic e pelo saldo médio”, afirmou hoje o vice-presidente financeiro do Itaú, Alexsandro Broedel.
Em outras palavras, o banco conseguiu crescer em linhas que geram spread mais alto (e que têm risco mais alto), conseguiu repassar a alta da Selic e fez um volume maior de operações.
No lado dos serviços, destacaram-se as receitas do Itaú com emissão de cartões e adquirência (serviço prestado pela Rede) — também reflexo da reabertura da economia e da maior propensão a risco. Essas operações ajudaram a compensar o desempenho mais fraco em administração de fundos e assessoria financeira.
De forma geral, as receitas de serviços cresceram 5,8%, ano contra ano, para R$ 11,299 bilhões no quarto trimestre. A receita de seguros, por sua vez, avançou 14,3% e encostou em R$ 2 bilhões. Por outro lado, o banco apertou as despesas, que aumentaram apenas 0,3%, para R$ 13,361 bilhões, apesar da forte inflação no período. Entram em cena aí os os investimentos em TI que, segundo Broedel, cresceram 60% nos últimos anos. “O investimento em tecnologia é o grande mobilizador de eficiência”, disse.
Para analistas, o crescimento da margem financeira foi o que fez a diferença no Itaú no quarto trimestre, ajudando a compensar uma postura conservadora nas provisões contra perdas no crédito.
“As principais tendências positivas no trimestre foram a margem financeira e as despesas operacionais de clientes, parcialmente compensadas por um maior custo de risco”, destacaram analistas do Goldman Sachs em relatório a clientes.
Eles disseram que o ponto médio das projeções feitas do Itaú implica um lucro de R$ 32,4 bilhões em 2022, com um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 21%. A estimativa para o resultado líquido está 11% acima das estimativas tanto do Goldman Sachs quanto do consenso de mercado.
A XP, por sua vez, diz que os resultados vieram acima do esperado. Segundo a equipe de análise da instituição, a melhora no mix de crédito, com maior participação de pequenas e médias empresas e de pessoas físicas, impulsionou a margem financeira — o que por sua vez teve reflexo positivo no lucro. A casa, apesar disso, tem recomendação neutra para as ações do banco, com preço-alvo de R$ 28.
Já o Credit Suisse afirmou que os resultados foram muito positivos para as ações do Itaú, e que aumentam a distância entre o maior banco privado do Brasil e seus pares. Adicionalmente ao trimestre muito forte, os analistas ressaltaram que o guidance divulgado pelo banco reforça a visão de um ambiente positivo para a margem financeira — a previsão é de um aumento de 20% a 23% no indicador em 2022.
Esse aumento de margem seria consequência da taxa Selic mais elevada, do avanço no crédito para varejo e na melhora do mix da carteira, segundo o Credit. Os analistas do banco suíço também disseram ver bons sinais no fortalecimento do balanço do Itaú, que teve uma movimentação mais conservadora nas provisões apesar do bom desempenho na qualidade dos ativos.
“Vemos o guidance para 2022 como altamente alcançável e acreditamos que o ambiente de margens favorável deve continuar em 2023 impulsionado por uma taxa Selic média mais alta, apoiando nossa expectativa de um ciclo de crescimento de lucros plurianual, com pelo menos aproximadamente 10% de crescimento de lucros em 2023, 4% acima do consenso”, destacou o Credit Suisse, que tem recomendação “outperform” (desempenho esperado acima da média do mercado) para as ações preferenciais do Itaú.
O Itaú também agradou os analistas nas projeções para 2022, consideradas fortes e consistentes com o que se viu no quarto trimestre.
Em teleconferência com analistas, Maluhy disse que o banco terá, em 2022, o melhor desempenho em receita de serviços dos últimos 14 anos — o que também agradou ao mercado. Por outro lado, o executivo mencionou que o custo do crédito deverá subir e que a economia está diferente do que se viu no ano passado, com alguns “pontos de atenção” começando a aparecer.