Vitória de Trump traz para o Brasil pressão no dólar, na inflação e uma palavra de ordem: instabilidade
Eleição de republicano apresenta mudança não apenas nas relações comerciais entre Brasil e EUA, mas uma nova dinâmica para os mercados
Todos os dias, tomando café da manhã e observando uma faixa da minha rua pela janela da cozinha, vejo um pai e um filho – suponho que seja essa a relação deles – trafegando pela calçada de bicicleta. Na contramão. Ambos de capacete, ambos com mochila às costas. Não sei quem são, não sei para onde vão. Mas observar ambos pedalando me dá um senso de normalidade no dia. O dia está começando, vai dar tudo certo.
Agora, transfira isso para uma escala global. Multiplique por um bilhão, dois bilhões. Ter Kamala Harris na Casa Branca, despertaria nos mercados sensação parecida. Um senso de normalidade construído a partir da certeza de saber o que esperar. Mais pra cá, mais pra lá. Mas se saberia o que esperar. Isso agora se perde com a vitória esmagadora de Donald Trump. Principalmente olhando para os efeitos no Brasil.
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Assim, a palavra a ser escrita, falada e debatida partir de agora e nos próximos anos é uma só: instabilidade.
Trump eleito: vitória esmagadora
O republicano vence com 277 votos dos delegados – precisava de 270. Harris tem 224 indicações. E os republicanos ainda levam o Senado. E a Câmara. Assim, é uma vitória esmagadora e como escreveu Carlos Eduardo Lins da Silva na Folha de S.Paulo, uma vitória que confirma: Trump não é um acidente da história.
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Dessa forma, isso ficou claro no discurso do presidente reconduzido agora à Casa Branca. Trump disse que a América lhe deu um mandato sem precedentes. Ele está certo.
Assim, uma nova dinâmica se estabelece no mercado. A da volatilidade.
Trump eleito e a instabilidade
O dólar futuro para dezembro inicia a sessão em alta superior a 1,5%. A cotação? R$ 5,85. Os R$ 6 estão logo ali na frente. Dessa forma, como analisou o CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, na véspera, a vitória de Trump exerce pressão no dólar, na inflação e nos juros por aqui no Brasil.
É parecida a análise descrita recentemente por Renato Jakitas aqui na Inteligência Financeira ao citar David Meier, que é economista-chefe do Julius Baer. Para ele, o plano de Trump pode deteriorar o câmbio e gerar pressão na inflação.
E tem a equação a partir das relações comerciais. Ele vai tarifar produtos chineses, mexicanos e 10% os produtos de outros países, como o Brasil. Não à toa o presidente Lula disse que o republicano era má notícia para a democracia. Para ela, e para a economia brasileira.
Instabilidade política com eleição
Para além da economia, a instabilidade dos mercados se transfere para a política externa. O conflito entre Rússia e Ucrânia, e entre palestinos e israelenses, pode escalar – eis uma dose extra de instabilidade para os mercados colocarem nos preços dos ativos.
Assim, sem contar a questão imigratória, em que Trump já deu mostras de nova realidade de perseguição e deportação. Isso não vai impedir que pessoas fugindo de conflitos e buscando uma condição melhor de vida para si e para os seus arrisque tudo para chegar aos Estados Unidos – como mostra de maneira horripilante, e precisa, edição recente do podcast Rádio Novelo Apresenta. E que vale ouvir aqui.
É muito para absorver e os próximos dias e meses podem clarear muitas das dúvidas e temores atuais.
Por enquanto, o negócio é seguir observando ciclistas acidentais pela janela.