Risco de Bolsonaro não aceitar resultado das eleições? O que diz o mercado sobre instabilidade na reta final
Risco de Bolsonaro não aceitar resultado das urnas não está precificado, e mercado permanece otimista sobre transição de mandatos
O presidente Jair Bolsonaro e sua campanha deram alguns sinais sobre o enredo a ser seguido pelos próximos dias que antecedem o segundo turno. O PL, partido do mandatário, abriu uma petição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar a falta de inserções da propaganda do presidente em rádios. Apesar do clima de incerteza, o mercado permanece otimista pela transição não tumultuada entre mandatos. O presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes, indeferiu o pedido para investigar a alegação de irregularidades em rádios e ainda acionou o procurador-geral eleitoral, Augusto Aras, para averiguar um “possível cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito”.
A avaliação é de que o investidor está confiante em uma transição entre mandatos sem tumulto. A maior expectativa do mercado está em quem vai ganhar a eleição, enquanto agentes que operam no Ibovespa dependem do resultado do segundo turno para saber quais ações negociar no futuro.
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Risco de Bolsonaro aceitar resultado das urnas
Na visão de um gestor, a perspectiva é de um cenário econômico pós-eleições otimista no médio e longo prazo. “Vamos passar por este momento conturbado e olhar para trás com o alívio de que tudo vai ficar bem”, diz a fonte. “Independentemente de quem vencer [as eleições].”
O maior desafio dos dois candidatos, de acordo com o gestor, está em buscar uma saída para um único problema essencial: o estado das contas públicas do governo federal e do regime fiscal brasileiro.
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Há um consenso entre especialistas ouvidos pela reportagem de que as instituições brasileiras são fortes o suficiente para garantirem uma transição de poder pacífica, repelindo investidas de extremistas. Portanto, o risco de Bolsonaro não aceitar os resultados não está precificado na queda do Ibovespa nos últimos dias.
“Hoje o mercado está muito mais de olho na eleição. Tem muitas variantes à frente”, diz Gabriel Maksoud, CEO da DOM Investimentos. “O que os investidores não gostam é de incertezas, em geral. Quando ocorre uma briga entre poderes, o mercado sente o impacto. Bolsonaro não pode se intrometer nas decisões do Judiciário e, se ele fizer qualquer coisa para interferir, o mercado não deve receber muito bem”, acrescenta. O analista cita que, quando Bolsonaro atacou Alexandre de Moraes, houve baixa no Ibovespa. De fato, após o feriado de 7 de setembro de 2021, por exemplo, quando o presidente chamou o ministro do STF de “canalha”, o índice brasileiro operou em queda de 3,78%.
Caso de Roberto Jefferson pode incitar extremistas
A queda do Ibovespa desde segunda-feira foi influenciada pelo caso de Roberto Jefferson, que resistiu à prisão e feriu dois agentes da PF com 50 tiros de fuzil e três granadas. Ele resistiu a uma ordem de prisão do ministro Alexandre de Moraes.
Especialistas disseram à IF que o episódio mina as chances de Bolsonaro ganharem as eleições, além de fragilizar o otimismo do mercado na reta final do pleito.
A polarização deve somar à volatilidade do período pós-eleição. Analistas estimam que mais ou menos “metade do país” ficará descontente com o resultado das urnas. O próximo governo começará com um alto índice de rejeição, seja com Bolsonaro ou Lula na presidência.
O caso de Jefferson, do ponto de vista de Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, pode incitar atritos com a parcela mais extremista do eleitorado, caso Bolsonaro perca as eleições.
“Após o resultado da eleição, pode haver atritos, principalmente em caso da derrota de Bolsonaro. Entretanto, na prática as instituições brasileiras conseguiriam impedir qualquer ataque à democracia. Caso houvesse esses ataques, isso impactaria o mercado no curto prazo, mas no final das contas acabaria sendo apenas um ruído político. Diante disso, muitos analistas descartam esse risco”, diz o executivo.
Mas Maksoud, da DOM, discorda: o mercado não está preocupado com a chance de um caso parecido com o de Jefferson ocorrer novamente até o domingo, ou mesmo após o fim do segundo turno.
Impeachment de ministros do STF
O senador recém-eleito General Hamilton Mourão, ex-vice-presidente de Bolsonaro, afirmou em entrevista que deve lutar para que o Senado Federal paute o impeachment de Moraes no ano que vem.
Para Maksoud, entretanto, há muita incerteza para que a proposta deixe o “tubo de ensaio” bolsonarista e avance no Senado. O investidor está mais preocupado com como o governo Bolsonaro deve reagir ao resultado das urnas e se, no caso de derrota, como ele deve trabalhar na transição de governo.
“O impeachment [de ministros] do STF ainda está distante. Por mais que as pessoas cogitem um ‘terceiro turno’ na minha visão isso não deve acontecer”, conclui o CEO da DOM.
Outro gestor, contudo, alerta que as tensões estão aumentando para um suposto “terceiro turno”. Com Bolsonaro dobrando a aposta na alegação de inserções de rádios — o presidente deve ir protocolar um recurso contra a decisão de Moraes de negar a investigação no caso —, a fonte explica que uma versão raivosa do presidente na segunda-feira ser desastrosa para a B3.
“Não gosto do flerte com o cenário eleitoral. As pesquisas sugerem com vitória do Lula, o que pode ter algum ruído. Mas basta uma segunda-feira com Bolsonaro raivoso para o tema nas reuniões matinais de investidores serem ‘o que vamos fazer?’. A abertura [do Ibovespa] pode ser um desastre”, comentou o gestor