Nova regra fiscal é que vai definir viés do Lula 3, apontam especialistas
Christopher Garman (Eurasia) e Fábio Zambeli (JOTA) discutiram as perspectivas do novo governo em painel do Macro Vision, evento promovido pelo Itaú BBA
Christopher Garman, diretor para as Américas da Eurasia Group, e Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA, debateram nesta quinta-feira (8) ‘Os rumos de Brasília: o que esperar do novo governo’ em painel do Macro Vision, evento promovido pelo Itaú BBA.
Garman destacou que, pelos sinais que estão sendo dados na transição, não é possível afirmar que a futura gestão petista será fiscalmente responsável, como foi o primeiro mandato de Lula, ou terá um caminho mais intervencionista, marca da administração de Dilma Rousseff.
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“A gente vai ter um animal novo. A estratégia da PEC da Transição não é necessariamente para gastar. É mais para buscar um grau de liberdade para não ser refém do Congresso, que será ainda mais conservador a partir de 2023”, disse.
“Lógico que é um governo que acredita no papel dos bancos públicos, no uso de estatais, só que terá que compensar com novas receitas. Não é um governo que vai jogar a responsabilidade fiscal no lixo, mas vai comprar risco. A pressão política no Lula vai aumentar se não tiver crescimento econômico”, acrescentou o executivo da Eurasia.
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Para Zambeli, as condições políticas atuais no Congresso são completamente diferentes do que Lula enfrentou nos governos anteriores. Na avaliação dele, isso contribui para que o mercado financeiro tenha dificuldade para entender o que esperar.
“Lula foi eleito em uma condição adversa para governar. Então, a PEC da Transição é um instrumento para buscar uma maioria, trazer o Congresso para perto, criar um ambiente para poder dar as cartas novamente e propor agendas de interesse dele”, disse.
“O viés definitivo do governo Lula 3 vai ficar mais claro a partir do momento em que for formulada a nova regra fiscal”, completou analista-chefe do JOTA.
Haddad no Ministério da Fazenda
Christopher Garman e Fábio Zambeli discutiram também a potencial indicação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. O ex-prefeito de São Paulo é o mais cotado para assumir a pasta no governo Lula 3.
“Haddad não é um nome que inspira confiança no mercado financeiro”, afirmou o diretor da Eurasia. “Acredito que possa ter um contraponto na área econômica, com a participação de nomes mais respeitados. A pasta do Planejamento é uma possibilidade, mas é difícil, por ser uma função que exige muita articulação política”, acrescentou.
Garman comentou que a tendência é que a incerteza predomine entre os investidores até que o novo governo aponte que vai seguir no caminho da responsabilidade fiscal. “O que temos por enquanto é que o governo transição está minando as condições para que o Banco Central comece a reduzir os juros”, destacou.
Para Zambeli, depois de o mercado ter sonhado na campanha presidencial com um nome ortodoxo na comando da economia, é um baque o indicado ser alguém do PT. “Mas Haddad na Fazenda é o Lula no comando da pasta. É uma sinalização aos agentes políticos de que ‘esse cara fala pelo presidente'”, destacou.
PEC da Transição é sinal de força de Lula?
O avanço no Senado da proposta que aumenta o teto de gastos para que o próximo governo possa manter a parcela de R$ 600 do Bolsa Família e financie outros gastos não pode ser considerado um parâmetro do apoio que Lula poderá ter no Congresso. Na visão de Fábio Zambeli, a aprovação da PEC por ampla maioria (64 x 16) está mais ligada à narrativa que foi colocada, de ser uma medida a favor dos pobres.
“É arriscado dizer que será o tamanho da base de Lula”, comentou. “Só que Lula tem essa característica de negociador, de ter uma atitude pragmática. Ele usa sua influência para destravar agendas. Fala com o STF, fala com Arthur Lira (presidente da Câmara). Sem dúvidas vai se aproveitar disso”, acrescentou.
Christopher Garman observou que a negociação da PEC na Câmara pode ter uma resistência maior. “Mas acho difícil que tenha uma diluição relevante”, afirmou. “Vai ter uma negociação forte que Lula vai precisar fazer com os deputados. Mas não vai ser por responsabilidade fiscal, vai ser por acesso a recursos e promessas do novo governo”, disse.
O executivo da Eurasia apontou ainda que “o mercado entende mal colocando o Congresso como goleiro do lado fiscal”. “Essa relação que está sendo construída agora com Lula é mais sobre barganha e influência do que limitar a licença para o governo eleito gastar. O Congresso pode funcionar como goleiro quando tem uma crise de confiança grave – e o Brasil não está em um momento assim”, completou.