J.P. Morgan crava eleição acirrada; diretor da Eurasia espera um segundo turno

Relatório do J.P. Morgan diz que mercado prefere eleições resolvidas no segundo turno; para executivo da Eurasia, esse rumo é mais provável

Foto: Simon Dawson/Bloomberg
Foto: Simon Dawson/Bloomberg

Com a eleição brasileira batendo à porta, o J.P. Morgan divulgou nesta sexta-feira o seu sexto relatório sobre o pleito, assinado pela analista Emy Shayo Cherman. Nele, o banco americano discute possíveis cenários para os resultados de domingo e reação do mercado para cada um deles, levando em consideração os dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

“Como já observamos aqui em ocasiões anteriores, o feedback que temos dos investidores é que é preferível uma estrutura macro mais liberal e menos intervencionista. Assim, a reação do mercado dependerá da probabilidade de que isso seja implementado pelo novo presidente”, diz o texto.

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O diretor-executivo para as Américas do grupo de consultoria política Eurasia, Christopher Garman, espera que a eleição vá para um segundo turno entre Bolsonaro e Lula. O cientista político considera que as chances do candidato do PT de vitória no primeiro turno são baixas, apesar de serem maiores do que uma estimativa feita há duas semanas atrás.

Uma projeção recente feita pela Eurasia confere a Lula uma chance de vitória de 70%. Na avaliação de Garman, o debate presidencial realizado pela Rede Globo não mudou o cenário.

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Vitória no primeiro turno

O J.P. Morgan acredita que uma vitória no primeiro turno, de qualquer candidato também é improvável e, se ocorrer, não está precificada pelos investidores. A visão da casa é que um segundo turno será importante para que o mercado saiba mais sobre as propostas dos candidatos. “É entre o primeiro e o segundo turnos que os candidatos terão a chance de caminhar mais para o centro e serem explícitos sobre as políticas que serão adotadas”, diz o relatório da instituição.

Para Garman, da Eurasia, será muito mais difícil para Bolsonaro reverter a vantagem contra o petista em um segundo turno, cenário mais provável. Isso porque, diz Garman, presidentes com uma taxa de aprovação de governo em torno de 40% tem chances de se reelegerem de aproximadamente 50%. Hoje, Bolsonaro é aprovado por 41% dos brasileiros.

Os cálculos do executivo da Eurasia apontam que a chance de Bolsonaro reverter a vantagem de Lula é de algo em torno de 30%. “Mas não acredito que essa reversão vai ocorrer”, afirma Garman, citando que hoje Lula tem mais armas para vencer a disputa, com o eleitor clamando por melhora na situação social e econômica.

Lula à frente de Bolsonaro em 5% ou menos

O J.P. Morgan avalia que um cenário com Lula à frente de Bolsonaro com margem de 5% dos votos válidos é o cenário mais provável, já que os eleitores de baixa renda tendem a votar mais em Lula, e são os que menos comparecem às urnas no dia da eleição. As pesquisas presenciais, que hoje mostram a maior vantagem de Lula sobre Bolsonaro, tendem a superestimar o voto de Lula; e há eleitores tímidos em ambos os lados.

“Considerando todas as dúvidas que temos, nosso melhor palpite é que será uma disputa acirrada. Acreditamos que os preços das ações brasileiras poderiam reagir bem a esse resultado, pois ele abre duas possibilidades: a do Lula se mover mais para o centro, talvez até precisando indicar quem será seu ministro da Economia; e a de vitória de Bolsonaro.”

A visão do banco de investimentos americano é compatível com economistas ouvidos pela Inteligência Financeira, que apontam que deve ocorrer uma disputa mais acirrada entre Lula e Bolsonaro do que mostram as recentes pesquisas eleitorais.

Lula à frente de Bolsonaro em 5% ou mais

Esse resultado endossaria, segundo o banco, a maioria das pesquisas e provavelmente indicaria que Lula é o candidato preferido para vencer. Assim, afirma Cherman, pode se tornar quase um não-evento para os mercados, que passariam a discutir caminhos para a presidência de Lula, especialmente em relação à política fiscal, à equipe econômica e ao papel das empresas estatais.

Hoje, o mercado ganhou impulso com a especulação de que Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, poder assumir o Ministério da Economia no terceiro mandato de Lula. A informação foi trazida à tona pela Revista Veja. Em entrevista ao Estadão, Meirelles descartou essa possibilidade e disse que não recebeu convite algum para o cargo.

Eleições para o Congresso

A maior expectativa é pelo tamanho do bloco do Centrão, diz a executiva, porque irá determinar seu poder e se conseguirá reeleger Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara em fevereiro. Outro fator importante a se observar, na sua visão, é o tamanho da bancada PT, que pode crescer na medida em que Lula volta a ser candidato.

Christopher Garman espera que o PT obtenha maioria na Câmara após as eleições, e que Lula deve ter folga para seguir com sua agenda. A dificuldade a ser encarada pelo petista, aponta Garman, está nas condições de governabilidade.

O país vive um momento de total descredibilidade e está sob pressão de um cenário econômico doméstico e internacional denso. “Condições de ter uma maioria parlamentar, ele terá. E também capacidade de negociar parte de sua agenda”, avalia Garman. O novo governo deve conviver com uma base de oposição bolsonarista que prefere manifestações na rua.

Projeção feita pela Eurasia estima que o PT irá eleger cerca de 80 deputados federais, o que pode resultar em uma das maiores bancadas da Câmara. Já o PL deve manter seu atual tamanho (76 deputados). PSDB e MDB devem diminuir. PSD, de Gilberto Kassab, deve crescer um pouco.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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