Guedes diz que troca de presidente da Petrobras não é problema dele

Ministro da Economia não foi consultado sobre a troca no comando da companhia

Ministro da Economia, apelidado de "Posto Ipiranga" durante a campanha de 2018, começa a figurar em propagandas do presidente às vésperas da eleição. Foto: Agência Brasil
Ministro da Economia, apelidado de "Posto Ipiranga" durante a campanha de 2018, começa a figurar em propagandas do presidente às vésperas da eleição. Foto: Agência Brasil

O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou que a troca no comando da Petrobras não é um problema dele e que deseja boa sorte ao novo presidente da companhia.

Guedes participou de entrevista coletiva à imprensa francesa e internacional na terça-feira (29), na Embaixada do Brasil em Paris, onde, meio contrariado, comentou a indicação de Adriano Pires para ser o novo presidente da Petrobras: “Não é problema meu”.

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Em Paris para acelerar o processo de adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o ministro, que se autodeclarou liberal repetidas vezes, disse sonhar em privatizar a estatal e que “o novo presidente da Petrobras é menos importante que a sua privatização”.

Na entrevista, que durou mais de uma hora, em inglês, repetiu que já havia indicado um presidente para a Petrobras no início do mandato de Bolsonaro, Roberto Castello Branco.

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Castello Branco afirmaria, depois da sua demissão, em 2021, que teria sido afastado do cargo porque se manifestara a favor da privatização de empresas estatais, o que teria irritado o presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Quando eu penso em Petrobras, eu penso que a gente deveria privatizar a Petrobras, mas eu não tenho votos, sou só um ministro da Economia. Eu não tenho nada a comentar sobre a Petrobras”, afirmou Guedes.

Quando os jornalistas presentes insistiram no assunto, Guedes disse: “O que eu posso dizer? Desejo boa sorte ao presidente da Petrobras. Estou mais preocupado com a guerra, como vamos atenuar os impactos de preços, reduzir os impostos é o primeiro passo, pensar em reforçar ajudas para os mais frágeis, se os preços continuarem subindo, deve ser o segundo passo.”

Alternando um discurso declaradamente liberal a um discurso social – que agrada ao público europeu -, o ministro afirmou que devem ser privatizadas pelo governo até o final do ano Eletrobras, Correios e os aeroportos do Galeão, Santos Dumont e Congonhas.

Segundo ele, o dinheiro das privatizações deveria servir para ajudar os mais pobres. “Por que não distribuímos, além de renda, nossas riquezas?”, questionou o ministro.

Ele comparou a situação do Estado brasileiro com o francês, que tem bilhões de dólares em estruturas e empresas estatais e de vez em quando vemos alguém dormindo debaixo da Torre Eiffel.

“Faça uma transferência de renda, ou melhor, uma transferência de riqueza (do Estado) para ajudá-lo a comprar uma moradia. Eu acho que é melhor do que ter uma empresa estatal que produz uma commodity, eu prefiro vender e dar o dinheiro para os pobres. Acho que teria um impacto muito maior na economia.”

O ministro disse que, como bom liberal, quer remover impostos e que, se pudesse, reduziria os tributos federais a zero. Mas que é contra o subsídio para os combustíveis.

“Isso iria ajudar aos ricos que têm jatinhos, helicópteros, barcos”. Para abordar esta questão, Guedes citou o método socrático (dialético): subsidiar a gasolina ou apostar numa agenda verde?

“Eu não acho que subsidiar a gasolina seja a maneira mais inteligente”, declarou.

O ministro reagiu também à pesquisa Datafolha em que 75% dos brasileiros responsabilizam o governo Bolsonaro pela alta da inflação. Irritado, disse que “o Datafolha está coletando dados para a eleição de Lula”.

“A inflação nos EUA saiu do zero a 8,5%. Na Alemanha, também saiu de zero para 7%. É claramente um fenômeno global e temos dois fatores: o impacto da pandemia, com a contração da cadeia de mantimentos e de fornecedores, menos serviços, e o governo respondeu a isso aumentando as políticas fiscais e monetárias, aumentando a demanda. Então isso gerou inflação, naturalmente, mesmo antes da guerra, mas por causa de Bolsonaro. Ou você tem que dizer que nos EUA é por causa de Biden e que na França é por causa de Macron”, disse o ministro.

“Apenas removam o viés político, a inflação brasileira não tem nada a ver com Bolsonaro. Tem a ver com o choque da pandemia. Todo o mundo teve de lidar com isso.”

Segundo o ministro, agora veio a guerra, que elevou os preços dos combustíveis, fertilizantes e alimentos.

“Se você for para a Venezuela e perguntar qual a causa da inflação, vão dizer que é dos americanos. Então eu acho que o Datafolha está fazendo o seu trabalho, sem problema, está coletando dados para dizer que Bolsonaro é um mau presidente e que Lula está voltando, e vai ter dinheiro para todo mundo, inclusive para a imprensa”, concluiu, acrescentando que estava ficando cansado.

O ministro também comparou as políticas monetárias do Brasil e da Europa.

“Tem algo errado nos Bancos Centrais da Europa. Eles não estão praticando uma boa política monetária, com 8% de inflação e taxas de juros de 0,5%. A inflação vai ser um grande problema aqui. No Brasil, a taxa de juros é 12% e a previsão da inflação para este ano é de 6%, ou seja, as taxas de juros reais são muito positivas. Nos EUA e na Europa, eles estão se movendo muito lentamente”, alfinetou.

No final da coletiva, já em português, o ministro resumiu a visita a diversos diretores e delegados da OCDE.

“O Brasil está muito bem posicionado nesta lista de acesso à OCDE, todos os protocolos estão em andamento. Nós tivemos excelentes reuniões aqui com os diretores das respectivas áreas -legal, de relações globais, tributárias- e nós estamos fazendo convergências em direção às melhores práticas que são usadas internacionalmente”.

Em 25 de janeiro deste ano, os 38 membros do Conselho OCDE decidiram, por unanimidade, convidar o Brasil (junto com mais cinco países: Argentina, Peru, Romênia, Bulgária e Croácia) a dar início ao processo formal de ingresso na organização, que reúne as economias mais avançadas do mundo.

Segundo Guedes, há um reconhecimento de que o Brasil tem feito um bom trabalho e de que o país é um candidato muito forte, em relação aos outros. “Há uma percepção de que o Brasil está bem à frente. Basta ver a lista de instrumentos. São 240 e poucos instrumentos, já temos 104 ou 105 avançados e mais 70 em andamento”.

Sobre as eleições presidenciais de outubro, o ministro declarou: “Se nós tivermos aqui, acho que a convergência vai ser muito rápida. Mas se tiver com gente que é contra a privatização, contra abrir a economia, a favor de recuar em todas as reformas que foram feitas, que aliás nunca deu prioridade nenhuma a entrar na OCDE -os governos anteriores não tinham esta prioridade- então vai ter um retrocesso importante”, finalizou.

 

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