Estrangeiros veem Lula com melhores olhos do que Bolsonaro, diz Rogério Xavier, da SPX
O fato de não caminhar para um regime autoritário tirou da frente um dos riscos, disse Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital
Os estrangeiros avaliam com melhores olhos o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato eleito para assumir a presidência em janeiro, do que o atual presidente, Jair Bolsonaro, segundo Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, que tem uma das suas bases em Londres.
“O estrangeiro tem preferência por Lula por ele ter uma agenda mais amigável do ponto de vista do meio ambiente”, disse Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, que tem uma das suas bases em Londres.
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Ele mencionou também pautas de igualdade de gênero, restrição ao uso de armas e a política externa de Lula como fatores positivos.
Ele comentou que a pauta cunhada pela sigla ESG (de responsabilidade ambiental, social e de governança) não é balela, que lá fora os investidores levam a sério, e que por isso o espaço dos partidos ligados ao meio ambiente tem crescido em número de parlamentares.
“O Brasil, por mais que pudesse ter razão nos argumentos, a maneira autoritária como colocava, que ninguém tem nada a ver com isso, que a Amazônia é nossa, foi afastando o estrangeiro, e quando olho para o Brasil de hoje – não tenho preferência política por nenhum dos dois -, vejo o investidor voltando com uma atenção maior sobre o Brasil.”
O fato de não caminhar para um regime autoritário, à maneira de Turquia ou Hungria, tirou da frente um dos riscos, e aproxima o país de seus vizinhos nas Américas, em especial os Estados Unidos. “[O presidente Joe] Biden [dos EUA] cumprimentou imediatamente o Lula após o resultado e praticamente a América Latina recebeu o presidente Lula com felicitações. A parte do relacionamento diplomático, que não estava tendo nos últimos quatro anos, se restabelece.”
Xavier fez a ressalva de que o novo governo terá uma tarefa dificílima pela frente porque vai encontrar um quadro fiscal extremamente delicado e precisar muita habilidade para formar sua equipe. “Estou convicto de que ele sabe que foi eleito com ajuda da centro-esquerda, se não fizer um movimento caminhando para o centro que o ajudou a ganhar a eleição corre o risco grande de ter dificuldade à frente na condução do seu governo.”
Esse diálogo consiste em avançar com a pauta de reformas num momento em que o cenário externo é bastante desfavorável. “O mundo não vai nos ajudar, e a gente tem uma chance. O Banco Central fez um excelente trabalho, no final colocou a taxa de juros inequivocadamente positiva em termos reais, vai trazer a inflação para baixo, vai colher os frutos em breve em relação ao objetivo da meta. Se conseguir colocar pessoas de qualidade na equipe ministerial, acredito que isso vá acontecer, o Brasil pode se sobressair neste mundo complicado.”
Na bolsa, ele afirmou que em conversas com seus colegas há a percepção que as ações estão extremamente atrativas. “O preço, aliado à estabilidade política do país por algum tempo, pode fazer o Brasil um grande atrator de investimentos neste momento. Tenho visão relativamente otimista com o que pode acontecer nos próximos meses, vejo disposição do investidor estrangeiro, o Brasil está ‘underweight’ [posição abaixo da média de mercado] na maioria das casas, o preço está bom, falta a política ajudar.”
Xavier prefere, contudo, aguardar os nomes que vão compor a equipe econômica, bancos públicos e as principais autarquias, entrar mais atrasado na bolsa, do que “dar um cheque em branco”.
Por ora, o ativo considerado mais interessante ao seus ver são as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), atreladas à inflação, que “oferecem uma oportunidade única porque o nível de taxa de juro real que o país paga é incompatível com a situação fiscal”. Se o Brasil seguir nessa toada, a inflação acabará sendo maior e vai comer parte do juro real implícito nos preços de mercado, avaliou. “Ou bem o Brasil faz as coisas certas e o juro cai pelo motivo bom, ou não consegue avançar e a inflação fica mais alta [levando] o juro real para baixo por dominância fiscal.”
Essa é a razão de o gestor da SPX ainda não ter exposição direcional em estratégias ligadas a juro nominal. Xavier calcula que o máximo de taxa real que o Brasil suporta pagar é de 3%, para uma economia que cresça a 2%.
A SPX tem cerca de R$ 80 bilhões sob gestão e um dos multimercados de melhor desempenho no mercado brasileiro neste ano, com o Raptor com ganhos na casa dos 50% desde janeiro.