‘Todas as possibilidades estão em aberto’, diz José Orrico, sócio-diretor da Futura Inteligência
A IF entrevistou o instituto de pesquisa independente que melhor previu o resultado das urnas no 1º turno
A Inteligência Financeira entrevistou o economista José Luiz Orrico, sócio-diretor da Futura Inteligência, instituto independente de pesquisa de mercado, com sede em Vitória, no Espírito Santo. Eles foram o instituto de pesquisa que melhor previu o resultado das urnas no 1º turno.
Publicada na sexta-feira (30), última pesquisa Futura Inteligência de intenção de voto mostrava que a diferença entre Lula e Bolsonaro seria bem menor (2,9 p.p.) do que apontavam os grandes institutos.
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Datafolha e Ipec deram 14 e 15 pontos de vantagem para Lula, respectivamente, em seus levantamentos divulgados na véspera da votação. Quaest mediu 11 pontos de diferença. Os três institutos realizam pesquisas presenciais. A Futura, ao contrário deles, utiliza a técnica de pesquisa telefônica assistida por computador.
Com 100% das urnas apuradas, de acordo com os números divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lula recebeu 57.259.504 (48,43%) votos, já Bolsonaro, 51.072.345 (43,2%). Após a divulgação do resultado das urnas no domingo (2), aliados do atual presidente lançaram uma ofensiva contra os institutos de pesquisa.
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O líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR) propôs na quinta-feira (6) pena de reclusão entre 4 e 10 anos e multa de mil salários-mínimos (equivalente a R$ 1,2 milhão) para quem “publicar, nos 15 dias anteriores à data da eleição, pesquisas com dados que divirjam, além da margem de erro, do resultado apurado nas urnas.” O projeto de Barros quer enquadrar institutos de pesquisa de opinião e veículos de comunicação.
A disputa final para a presidência será muito acirrada e é muito cedo para dizer quem será o vencedor do segundo turno em 30 de outubro, segundo avaliação da Futura. “Todas as possibilidades estão em aberto”, avalia José Orrico.
Leia a seguir a entrevista com o economista José Orrico, sócio-diretor da Futura
Ao contrário de outros institutos, vocês utilizam a pesquisa telefônica assistida por computador. Quais as vantagens desta técnica?
A primeira é poder ter acesso a mais áreas do país. Nós temos feito entrevistas em mais de 800 municípios por rodada e a possibilidade de acessar qualquer município brasileiro. Nossa amostra é distribuída por todos os Estados do país e, cada estado, separamos em: capital, outros municípios da região metropolitana (onde elas existem) e, por fim o restante das cidades, que classificamos como interior.
Alguns institutos disseram encontrar resistência para as pesquisas eleitorais. Neste sentido, você acredita que a sua técnica consegue um melhor acesso ao entrevistado e respostas mais fidedignas de intenção de voto?
A cada dia, a pesquisa presencial vem enfrentando maiores dificuldades para acessar os entrevistados, seja ela feita nos domicílios ou em pontos de fluxo, tanto em áreas de alta renda (condomínios ou edifícios) como em algumas áreas de baixa renda, dominadas por grupos criminosos, sejam milicianos ou traficantes. Nesse sentido a pesquisa por telefone não encontra essas dificuldades, além da questão dos custos, que em um país como o Brasil, chegam a valores muito altos. Quanto as respostas serem fidedignas ou não, não vejo tanta diferença.
Na última pesquisa Futura Inteligência a diferença entre Lula e Bolsonaro era de 2,9 p.p., enquanto nos demais institutos ela foi bem maior. Ao que você atribui o “acerto” da Futura, retratando uma disputa mais acirrada entre os candidatos à presidência?
Não conheço o método dos outros institutos profundamente para opinar, mas o que posso lhe dizer é que temos uma estrutura de controle muito bem pensada e montada, o que, no nosso entender, permite um alto controle de qualidade.
Uma parcela significativa do eleitorado migrou o voto. Você diria que o eleitor teve atitude de 2º turno, no sentido de tentar resolver a eleição em torno dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas?
Certamente ocorreu um movimento de votos para os dois principais candidatos na última hora, mas isso, por si só, não explica as diferenças. Se assim fosse outros institutos como o nosso também não teriam chegado mais perto do resultado final.
A intenção de voto em Ciro no 1º turno era de 6%; ele teve 3%. As pesquisas mostravam em torno de 3% de indecisos enquanto a pesquisa da Futura mostrava quase 8% de indecisos. Por que essas diferenças?
A questão do Ciro foi o movimento para tentar terminar a eleição no primeiro turno, tentado por um número razoável de eleitores – o chamado voto útil. Já os indecisos, pode ser que a pergunta formulada ou a forma de perguntar possam ter influenciado de alguma forma.
Após a divulgação do resultado das urnas, veio a notícia da proposta do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), em criminalizar as pesquisas eleitorais. Quais seriam as consequências caso uma proposta como essa fosse aprovada?
Pesquisas são um instrumento de informação e hoje tem um peso grande no processo, mas não acho que seja o caso de criminalizar, até porque entendo que, a maioria dos institutos, trabalhem com seriedade e no intuito de acertar o resultado. O instrumento é técnico e científico, mas sujeito a erro e confiança, além disso e, principalmente, a eleição é um processo em movimento. A cada ano o eleitor vai se acostumando e sabendo que pode decidir no final. Como no Brasil não temos partidos ideológicos com programas claros, o eleitor decide com outras informações e em cima da hora, dificultando a vida dos institutos. Criminalizar pode significar ficarmos sem esse tipo de informação.
Olhando para o cenário de segundo turno, em sua última pesquisa em 30/09, Lula pontuou 47,7% e Bolsonaro 42,9%. Esse cenário deve ter uma mudança?
Eleições de segundo turno não costumam apresentar grandes surpresas, mas essa tem uma disputa muito competitiva. Nós achamos que todas as possibilidades estão em aberto, dependerão da campanha e de vários fatos que ocorrerão durante essas quatro semanas. Não arriscaria um palpite, até porque nosso negócio não é achar.
Para o segundo turno, a abstenção deve sofrer alguma alteração?
Tradicionalmente a abstenção aumenta do primeiro turno para o segundo, pois alguns eleitores dos que ficaram no 1o. turno não se sentem motivados a ir votar, mas essa é uma eleição diferente que está monopolizando o país. Pode ser que não ocorra um grande aumento ou até algum aumento da abstenção.