Entenda como a candidatura de Kamala se desdobrou no turbulento cenário eleitoral dos EUA

Otimismo com a nova candidata democrata ficou evidente com o fluxo do dinheiro da campanha, que se reverteu após os doadores retirarem o seu dinheiro pela preocupação com a posição de Biden na corrida contra Trump

Kamala Harris (ao centro) atual vice-presidente dos Estados Unidos e candidata do Partido Democrata para as eleições presidenciais de 2024, ao lado de Tim Walz (à dir.), atual governador de Minnesota e indicado a vice na chapa liderada por Kamala Foto: Comitê Nacional Democrata/Wikimedia Commons

A consolidação da chapa de Kamala Harris ao lado do governador de Minnesota, Tim Walz, na Convenção Nacional Democrata nesta semana acontece depois de uma reviravolta da trajetória do Partido Democrata nas eleições dos Estados Unidos, com a retirada do presidente Joe Biden da disputa contra o republicano Donald Trump abrindo espaço para ascensão da vice-presidente.

Biden se tornou o primeiro presidente a renunciar à candidatura à reeleição desde Lyndon Johnson em 1968. Enquanto isso, Kamala se manteve discreta em meio às polêmicas sobre a idade do presidente, surgindo agora como a candidata democrata sem ter passado pelo complexo calendário das primárias presidenciais.

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Além disso, sua ascensão ocorreu semanas antes da convenção do partido em Chicago e o Comitê Nacional Democrata realizou uma reunião virtual para antecipar a oficialização de Kamala como a candidata à Presidência do partido no início de agosto.

Entenda a seguir como o processo para a candidatura de Kamala se desdobrou e por que ela foi a escolhida para assumir o lugar de Biden:

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Incertezas e reviravoltas

A idade de Biden sempre esteve entre as discussões do Partido Democrata. Tanto que, em 2020, quando Biden escolheu Kamala como sua vice-presidente, acreditava-se que ela seria a cotada para ser a próxima candidata democrata para a Presidência em 2024, já que o presidente terminará seu mandato com 82 anos.

Quatro anos depois, as vésperas das primárias, as incertezas sobre a idade do presidente perderam espaço para a ideia de que um candidato que está no poder tem mais chances nas urnas, além da confiança de que Biden poderia derrotar Trump novamente na eleição de 2024.

Nesta disputa, no entanto, a situação era diferente da de quatro anos atrás, com Biden atrás de Trump na maioria das pesquisas de intenção de voto.

Foi após o primeiro debate presidencial entre Biden e Trump, em 27 de junho, que a trajetória da candidatura democrata sofreu uma reviravolta. O desempenho considerado “desastroso” do presidente levantou preocupação sobre sua saúde mental e física tanto por parte do eleitorado quanto dentro do próprio partido.

Perda de apoio

Os apelos para que Biden abandonasse a disputa se intensificaram à medida que novas pesquisas de opinião divulgadas após o debate mostravam o crescimento do candidato republicano em Estados decisivos para a eleição, com proeminentes democratas aumentando a pressão para que desistisse da reeleição.

“Embora a escolha de se retirar da campanha seja apenas do presidente Biden, acredito que essa seja a hora de ele passar esse bastão”, disse o deputado Adam Schiff, favorito na Califórnia para conquistar uma vaga no Senado.

“Cabe ao presidente decidir se vai concorrer”, disse a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi à MSNBC, quando perguntada se apoia Biden como o candidato do Partido Democrata. “Estamos todos encorajando-o a tomar essa decisão, porque o tempo está se esgotando”, disse ela

Com seus comentários, Pelosi se uniu a muitos democratas que, embora não tenham afirmado abertamente que Biden deveria desistir, disseram que ele deveria considerar o risco de abrir caminho para a eleição de Trump se permanecesse na corrida e, pior, prejudicasse as chances de eleição de democratas para a Câmara e o Senado.

Além disso, doadores do principal fundo de doação de campanha do Partido Democrata, o Future Forward, ameaçaram reter US$ 90 milhões para sua disputa contra Trump caso ele continuasse na disputa.

Relação Biden x Kamala

Segundo o “Wall Street Journal”, Kamala nunca entrou no círculo íntimo de conselheiros de longa data de Biden, mas os dois desenvolveram uma relação de respeito mútuo e lealdade cada vez maior ao longo dos últimos quatro anos.

Durante a campanha de 2020, Biden e Kamala, que estavam vivendo em cidades diferentes e lidando com restrições devido à pandemia, não tiveram muito tempo para se conhecer melhor. Kamala havia trabalhado com o falecido filho de Biden, Beau Biden, enquanto ambos eram procuradores gerais em seus Estados, mas não conhecia o presidente pessoalmente antes da campanha.

A mudança em seu relacionamento foi gradual, à medida que Kamala navegava sobre como aconselhar melhor o presidente em particular, ganhar a confiança de seus aliados e ajudar a fortalecer sua posição publicamente. Biden, por sua vez, passou a contar com as perguntas de Kamala nas reuniões e confiar em seus conselhos.

Após a atuação do presidente no debate contra Trump, Kamala não hesitou em defender Biden, se tornando sua maior apoiadora pública, enquanto cada vez mais democratas exigiam para que ele se retirasse.

Em contrapartida, quando a pressão sobre Biden tornou sua candidatura insustentável, ele anunciou sua renúncia da disputa da reeleição, em 21 de julho, endossando Kamala como sua candidata 30 minutos depois.

Ascensão de Kamala

A vice-presidente não perdeu tempo para começar a costurar sua candidatura. No dia 22 de julho, passou o dia fazendo mais de 100 telefonemas ao longo de 10 horas, dizendo a membros do Congresso, governadores, líderes sindicais, delegados e outros democratas que estava grata pelo endosso de Biden e que trabalharia duro para conquistar a nomeação por mérito próprio.

Como resultado, cerca de 48 horas após a desistência de Biden, Kamala já tinha sua ascensão na candidatura do partido consolidada.

Alguns líderes do partido não apoiaram Harris imediatamente, como líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, e o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, ambos de Nova York, assim como Pelosi e o ex-presidente Barack Obama, que queria ajudar a unir o partido antes que a nomeação fosse decidida. Todos endossaram Kamala posteriormente.

Até mesmo outros nomes que eram cotados para assumir a candidatura no lugar de Biden, como o governador da Califórnia, Gavin Newsom, rapidamente demonstraram seu apoio à vice-presidente.

As delegações estaduais do partido, que na teoria estariam livres para apoiar outra pessoa na convenção, também não demoraram para apoiar Kamala, que no dia 23 já tinha delegados comprometidos suficientes para garantir sua nomeação na Convenção Nacional Democrata.

Além disso, Kamala tinha mais uma vantagem para assumir a chapa. Isso porque poderia herdar os US$ 96 milhões doados para a campanha Biden-Harris, sem grandes questionamentos judiciais e políticos. Se o partido decidisse indicar outro nome, o caminho para que este possa usar os recursos doados à chapa não seria tão claro.

Esse cenário abriu caminho para que a chapa Harris-Walz fosse oficializada sem maiores impedimentos na votação virtual antecipada de 5 de agosto, convocada para garantir o nome dos candidatos democratas no Estado de Ohio.

Na ocasião, ela recebeu 4.563 votos, representando cerca de 99% dos delegados participantes da votação, e excedeu a maioria necessária de 1.976 delegados.

O otimismo com a nova candidatura democrata ficou evidente com o fluxo do dinheiro da campanha, que se reverteram após os doadores retirarem o seu dinheiro pela preocupação com a posição de Biden na corrida contra Trump. No primeiro mês à frente da chapa, Kamala arrecadou mais de US$ 300 milhões em doações – a maior parte de pequenos doadores.

Com informações do Valor Econômico

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