BlackRock mostra otimismo com o Brasil, mas vê populismo como risco

Maior gestora do mundo avalia que governo Lula reconheceu os desafios do país e está trabalhando para colocá-lo nos trilhos

Painel mostra desempenho das ações na Bolsa de Valores brasileira B3 - Foto: Amanda Perobelli/Reuters
Painel mostra desempenho das ações na Bolsa de Valores brasileira B3 - Foto: Amanda Perobelli/Reuters

A despeito de prever um cenário no qual os mercados emergentes correm mais risco de piora – ainda que leve – no ritmo de crescimento na próxima década, a BlackRock, maior gestora do mundo, com US$ 9 trilhões em ativos, está otimista com o Brasil. A visão é de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu os desafios do país e está trabalhando para colocá-lo nos trilhos, o que significa dar atenção aos problemas fiscais e regulatórios como o complexo sistema tributário. Ele ressalva que os emergentes têm de evitar medidas populistas.

“Não há razão para que o Brasil não possa voltar e crescer de forma muito agressiva novamente. Mas a realidade é que o cenário hoje é mais desafiador. E, como resultado disso, mais esforço é necessário”, avalia o líder de renda fixa para mercados emergentes da BlackRock, Amer Bisat, ao comentar estudo da gestora sobre mercados emergentes, publicado ontem.

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Para Bisat, não só no Brasil, mas nos governos da região, a adoção de medidas para turbinar a economia no curto prazo soa como uma “resposta fácil”, mas pode ser um “vento contrário” para o crescimento no longo prazo. Nos últimos anos, a região foi palco do aumento do populismo e da polarização em meio a anos de baixa atividade e aspirações frustradas, em especial, da classe média.

No Brasil, a polarização vista nos últimos anos ultrapassou níveis de países como EUA e México, mostra o documento. “É fácil ver o populismo como uma resposta fácil. Emprestar mais, gastar mais. E esse é um desafio que os governos em mercados emergentes necessitam enfrentar e lidar porque não há resposta fácil. Pode ser fácil, mas não é sustentável”, diz.

O desafio dos mercados emergentes é justamente fazer o contrário, priorizando medidas qualitativas e que ambicionem um crescimento sustentável no longo prazo, segundo Bisat. É justamente para onde a BlackRock olha quando toma as suas decisões de investimento.

“Não invisto olhando para o curto prazo, mas para o longo prazo. Então, vou procurar ações de empresas e títulos soberanos que estejam pensando no longo prazo”, explica.

A BlackRock vê os mercados emergentes com mais riscos de piora – ainda que leve – do que de melhora no ritmo de crescimento nos próximos dez anos. O seu cenário prevê que a expansão de capital continue estacionada em 2,2% em 2030, mesmo nível de 2019. Para a produtividade desse conjunto de países, a projeção é de alta de 1,4%. Em termos de potencial de crescimento de empregos, porém, prevê uma desaceleração.

Por sua vez, a maior gestora de recursos do mundo não vislumbra uma aceleração de reformas estruturais que leve a uma maior eficiência nos mercados emergentes.

Potencial e problemas

Nem todos os países da região estão predestinados a entregar um baixo crescimento à frente. O Brasil é um deles, com “enorme potencial”, mas com dois problemas centrais, na visão de Bisat.

O primeiro é o fiscal e sua elevada dívida, pautando a agenda do país. Em segundo lugar, o marco regulatório que afugenta o setor privado, em especial, o sistema tributário brasileiro.

Apesar de se dizer “empolgado” e repetir que está “otimista” com o Brasil, Bisat adiciona a palavra “realista” em sua análise. O mundo mudou. Há mais desafios hoje para os mercados emergentes do que no passado. Portanto, é difícil prever forte ingresso de capital na região, considerando pressões de desglobalização, níveis crescentes de endividamento e taxas de juros mais altas ao redor do mundo.

A ótica de investimento para mercados emergentes é foco do estudo capitaneado por ele ao lado da especialista Karen Leiton, no qual defendem uma nova mentalidade de investimento para a região. É o que chamam de “Mercados Emergentes 2.0″”. A teoria tem como pilares diferenciação, diversificação, retorno, qualidade, gestão de risco disciplinada e pesquisa rigorosa. Os mercados emergentes foram uma história de altos e baixos, segundo a BlackRock. De “terra prometida”, os ativos da região perderam força após a crise financeira internacional e a covid. No cenário atual, continuam atraentes, mas as regras do jogo mudaram.

“Está na hora de começarmos a pensar em comprar títulos de dívida de empresas no Brasil. Há muitos nomes interessantes, rentáveis, eficientes e com baixo nível de dívida”, diz, sem citar nomes.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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