Campos Neto, do BC: nível de inflação no Brasil precisa da taxa básica de juros em 13,75%

Os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participam, no Senado, da sessão de debate temático no Senado “Juros, inflação e crescimento”

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, esteve no Senado na manhã desta quinta-feira, onde participou de um debate no plenário sobre “juros, inflação e crescimento.”

Campos Neto compôs a mesa ao lado do anfitrião e senador Rodrigo Pacheco, presidente da Casa, e dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.

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Campos Neto: ‘Não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada’

Campos Neto voltou a defender a atuação da autarquia no combate ao aumento de preços com o aperto monetário. Segundo ele, o nível de inflação no Brasil “precisa do trabalho que está sendo feito”, isto é, com a taxa básica de juros em 13,75%.

“Temos coletivamente, no governo, caminhado na direção correta e precisamos persistir no processo de garantir a estabilidade de preços, tão importante para os mais pobres. Não se consegue estabilidade social, com inflação descontrolada”, disse.

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Na estimativa do Banco Central, o alcance da meta de inflação de 3,25%, para este ano, poderia ser atingido em menor prazo com uma taxa de juros de 26,5%. Mas, segundo Campos Neto, o BC não subiu os juros a essa taxa porque está buscando “suavizar” o ciclo de aperto monetário e os efeitos na economia.

“O Banco Central sempre suaviza os ciclos, o máximo possível, então a nossa tarefa é trazer a inflação para a meta com mínimo de custo possível para a sociedade. O crédito segue desacelerando de forma organizada”, disse.

Campos Neto, contestou a tese defendida pelo presidente Lula e integrantes do governo sobre a “inexistência” da inflação de demanda no Brasil. A ala política do governo argumenta que os juros de 13,75% é “inexplicável” porque não haveria excesso de consumo da população brasileira.

Esse tem sido um ponto recorrente na retórica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao criticar o rumo da política monetária.

“O nosso diagnóstico é que não é uma inflação de oferta. E, por tanto, precisa do trabalho que está sendo feito. E, mesmo quando há inflação de oferta, é importante destacar que a tarefa do Banco Central é combater o chamado efeito secundário, quando a inflação de oferta atinge toda a cadeia”, disse.

O Banco Central, explica Campos Neto, está com atenção no chamado núcleo de inflação, que verifica a tendência dos preços desconsiderando choques temporários. Campos Neto argumenta que a taxa geral de inflação está “contaminada” por fatores de curto prazo, como a desoneração de combustíveis iniciada no governo Bolsonaro.

O núcleo da inflação, portanto, ainda estaria muito resiliente. Nesse cenário, está a inflação de demanda em serviços, que não vem apresentando redução significativa.

O presidente do Banco Central também defendeu nesta quinta-feira o sistema de meta de inflação, que estabelece previsibilidade nas expectativa sobre o aumento de preços.

A meta de inflação para este ano é de 3,25%, com teto de 4,75%. Para os próximos dois anos a meta é de 3%, com teto de 4,5%.

Tebet: ‘Juros, inflação e crescimento precisam andar juntos’

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que o governo tem debatido com o Banco Central questões relacionadas a juros, inflação e crescimento. Para Tebet, os temas devem caminhar juntos. “Juros, inflação e crescimento precisam andar juntos, não podem estar isolados. Crescimento não pode ficar isolado. BC e governo têm debatido muito a questão”, disse a ministra, durante debate no Senado para discutir juros, inflação e crescimento.

Tebet disse que é legítimo que o governo relacione o crescimento da economia com uma queda na taxa de juros, mas também reconhece a preocupação do BC com a inflação como genuína. “Governo diz que é impossível crescer com alta taxa de juros. BC diz que taxa de juro baixas gerariam um preço, que é a inflação. Tem razão o BC quando diz que não podemos descuidar da inflação, é o imposto mais perverso e quem paga isso é a população mais carente”, pontuou Tebet.

Apesar disso, ela disse que é preciso combater a inflação e pediu que o BC pense também no impacto de suas decisões nas políticas públicas para que a economia volte a crescer. “Não há contradição quando dizemos que o BC é responsável pela política monetária, mas é importante ter foco em políticas públicas. BC não pode considerar que suas ações são apenas técnicas, interferem na política, especialmente comunicados e atas”, afirmou a ministra.

Ela destacou que o Brasil cresceu pouco nas últimas décadas e disse que o governo tem o diagnóstico da desigualdade no país. Para Tebet, a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária serão um ponto-chave para solucionar essa questão.

“Precisamos ter planejamento, equilíbrio e racionalidade. É necessário planejar o futuro a médio, longo prazo. Precisamos ter crescimento com produtividade. Sabemos que temos que fazer um dever de casa, que não podemos gastar mais do que arrecadamos e temos que zerar o déficit público e vamos zerar em 2024. Está com o Congresos Nacional a responsabiliade de aprovar a nossa tão sonhada reforma tributária. Ela que vai garantir o crescimento sustentável e duradouro do Brasil”, disse Tebet.

Haddad: sistema tributário é ‘descalabro’

Haddad disse que a maneira que considera correta de fazer o ajuste fiscal é abrindo o que chama de “caixa-preta” de renúncias fiscais. Em debate no Senado, ele defendeu o corte desses benefícios chamados de gastos tributários.

“Qual a maneira correta de fazer o ajuste sem penalizar aqueles que dependem do SUS, da assistência pública? A maneira que escolhemos foi abrir a caixa-preta das renúncias fiscais. É uma demanda antiga de liberais e desenvolvimentistas. Todo economista sério tem um olhar voltado para a eficiência do descalabro que se tornou o sistema tributário brasileiro. Uma colcha de retalhos ingovernável. Uma litigiosidade sem fim”, disse o ministro.

Haddad afirmou que o principal corte de despesas que precisa ser feita é pelo gasto tributário. “Há que se falar de corte de gastos? Sim, sobretudo o gasto tributário.”

O ministro disse também que quer fazer esse debate, e comparou esses gastos a outras despesas, como o salário mínimo e o reajuste na tabela do Imposto de Renda.

“Nós estamos dispostos a enfrentar o debate e francamente. Abrindo as contas e dizendo: nós vamos ficar mais sete anos sem aumentar o salário mínimo, mais 15 anos sem aumentar a tabela do SUS, mais sete anos sem a revisão da tabela do Imposto de Renda, ou vamos fazer o ajuste das contas justo e correto?”

Haddad participa de audiência pública no Senado Federal, para discutir taxa de juros e inflação.

A taxa Selic está estacionada desde agosto do ano passado em 13,75% ao ano, o que vem estimulando críticas diretas do presidente Lula e de seu governo por limitar o crescimento econômico em nome do combate à inflação.

Na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom), o presidente do BC e os oito diretores não apresentaram perspectiva de redução da Selic no curto prazo. O colegiado decide sobre a taxa básica a cada 45 dias. O próximo encontro ocorre nos dias 2 e 3 de maio.

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