PIB dos EUA deve ajudar a jogar queda de juros para depois de junho; veja efeito na bolsa e câmbio
Segunda leitura do PIB dos EUA aponta desaceleração do poder de compra
O PIB dos Estados Unidos subiu 3,2% no quarto trimestre do ano passado e 4,9% em 2023. Ou seja, a segunda leitura confirmou a primeira divulgada anteriormente.
Antes da divulgação dos dados nesta quarta-feira (28), a Inteligência Financeira ouviu no começo da semana especialistas e ofereceu a eles três cenários sobre o PIB norte-americano e pediu comentários.
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Os cenários previam a manutenção dos dados, como aconteceu, e também para os cenários de elevação em relação à primeira leitura e de queda.
Ao analisar o cenário de manutenção, eles foram unânimes ao afirmar que o corte de juros naquele país vai ficar para depois de junho.
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Essa certeza não se reflete, porém, nos possíveis impactos para bolsa de valores e câmbio, com os analistas divergindo sobre o futuro desses ativos, além das incertezas para a inflação dos Estados Unidos.
A leitura de fevereiro do produto interno bruto (PIB) real dos EUA no 4T23, divulgada pelo Bureau of Economic Analysis, veio um pouco abaixo dos 3,3% da primeira leitura. No terceiro trimestre, o PIB real aumentou 4,9%.
Novidades da segunda leitura
Esta foi a segunda leitura do PIB. A primeira, divulgada no final de janeiro, havia mostrado um PIB de 3,3%, bem acima da expectativa de 2%.
Dessa forma, a novidade da segunda leitura, além da correção discreta para 3,2%, é uma visão mais voltada para o impacto sobre a renda, “o que dá uma visão mais abrangente da atividade e, com isso, uma ideia sobre a resiliência do crescimento econômico”, explica Alejandro Ortiz, economista da Guide Gestão.
Nesse sentido, o rendimento pessoal disponível real (ou poder de compra) aumentou 2,2%. Isso significou uma revisão para baixo de 0,3 ponto percentual.
Impacto do PIB dos EUA sobre juros
Com o PIB forte, “existe a possibilidade de o mercado ir postergando a queda dos juros”, diz Christopher Galvão, analista de Fundos da Nord Research ao mencionar os juros futuros, que são operados pela expectativa do mercado.
Isso porque o aquecimento da economia reforça uma preocupação com a inflação naquele país.
“Não enxergamos uma inflação plenamente domada e a pujança da produção e do mercado de trabalho sugerem maior tortuosidade do que o prometido pelo Fed”, diz João Guilherme Caenazzo, sócio da Aware Investments.
Isso pode criar um espaço para juros “não tão baixos” nos Estados Unidos, segundo avaliação do economista André Perfeito.
Para Perfeito, a instabilidade dos mercados, com volatilidade nas bolsas e no câmbio, registrada desde o começo do ano, está relacionada à trajetória ainda incerta dos juros nos Estados Unidos.
“Ao estabilizar essa leitura da trajetória dos juros nos EUA, vai ficar mais claro o que o Fed vai fazer, e aí o jogo começa a melhorar de novo”, complementa Perfeito.
Tanto Perfeito quanto Caenazzo projetam a queda de juros somente para o segundo semestre, após a decisão de junho.
“É notório que ainda não foram reunidas condições suficientes para tornar a economia menos restritiva”, diz o sócio da Aware.
Há chances de juros altos por mais tempo?
Então, não há uma relação mecânica entre o desempenho do PIB dos Estados Unidos ou qualquer outro dado de atividade econômica e a condução da política monetária.
Assim, os bancos centrais procuram olhar para uma série de dados, para além do PIB, antes de tomar uma decisão.
Nesse sentido, empurrar a mudança da política monetária para mais longe seria mais provável se o PIB americano mais forte do que o projetado viesse acompanhado de um consumo mais forte por parte das famílias.
A manutenção do crescimento do consumo “poderia impactar os preços dos serviços, segmento que ainda não deu contribuição relevante para o processo de desinflação”, explica Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos.
Porém, o rendimento pessoal veio menor que o da primeira leitura, o que pode ser um alívio.
O analista da Genial crê que uma virada na política monetária só seria possível em junho.
Ele avalia ainda que o Fed precisa “ter mais confiança de que a inflação está em trajetória sustentada para a meta de 2,0% antes de começar a cortar os juros”.
Dólar
O diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos deve continuar a ser o principal determinante para a trajetória do câmbio em 2024. A avaliação é de Farina, da Genial Investimentos.
Assim, esse diferencial de juros entre os dois países deve continuar diminuindo. Isso tende a pressionar o real para cima.
No segundo semestre, quando deve ter início o ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, o Brasil deve efetivar a sua paralização na queda dos juros locais, “voltando a ter pressão para a valorização do real”, segundo Farina, com o Brasil voltando a ser um desembarque mais atrativo para o capital global diante de uma renda fixa americana com remunerações menores.
Por outro lado, o PIB do quarto trimestre acompanha o desempenho acima do esperado do trimestre anterior. E, com isso, o dólar também ganha força, o que pode desvalorizar o real, na avaliação de Paulo Gala, economista-chefe do banco Master.
“Isso desvaloriza a moeda brasileira e pode, eventualmente, prejudicar o Ibovespa. Porque o juro mais alto nos EUA deixa o retorno em outros mercados menos atraente”, contrapõe.
Bolsa e renda fixa nos EUA
Para Gustavo Zuquim, especialista em mercado americano pelo Andbank, um eventual deslocamento de abertura de curva de juros, caso a economia siga crescendo acima do esperado, pode fortalecer o dólar.
“A persistência de crescimento da economia também gera uma maior confiança nos níveis atuais de precificação de renda variável, com o S&P perto de 5.100 pontos”, diz Zuquim.
Ou seja, o crescimento consistente do PIB dos EUA pode levar a um maior fluxo de capital no curto prazo, tanto na renda fixa quanto na variável na maior economia do mundo.
Ibovespa e a relação com o PIB dos EUA
Desde o movimento de alta das Treasuries em meados do ano passado, os ativos brasileiros, incluindo o Ibovespa, estiveram muito dependentes da política monetária, do PIB dos EUA e outros indicadores da maior economia do mundo.
“Foi somente com a percepção de que o otimismo do mercado acerca do início do ciclo de corte de juros nos EUA foi exagerado, que a bolsa brasileira passou a apresentar algum movimento de ajuste ao longo de janeiro e fevereiro”, diz Farina.
Dito isso, caso a atividade econômica mais forte nos EUA se traduza em um movimento de abertura da curva de juros, “o Ibovespa deve recuar na esteira de uma igual abertura da curva de juros doméstica”, avalia o economista da Genial.
PIB dos EUA pode impactar menos o Brasil
Mas, para Caenazzo, o Brasil tem conseguido se descolar parcialmente dos efeitos do PIB americano sobre sua própria economia.
Por outro lado, o Brasil tem abraçado mais os asiáticos, o que pode vir a atenuar as incertezas a respeito da economia americana.
Nesse sentido, o Ibovespa tem derrapado com as incertezas no oriente, especialmente na China. Com o mercado de construção civil, especialmente, levantando dúvidas sobre o futuro da bolsa brasileira.
“O Ibovespa vai sofrer no curto prazo, mas tem espaço para subir”, diz Perfeito, que ressalta também a melhora do PIB brasileiro como notícia positiva.
Portanto, um crescimento acima do esperado para o PIB brasileiro pode dar mais força aos ativos de risco no país.
Uma nova demonstração pode ser dada na próxima sexta-feira (1), quando será divulgado o PIB brasileiro de 2023.
A ver.