PIB do Brasil pode recuar pelo menos 0,3 ponto por efeito de enchentes no Rio Grande do Sul

Economistas que calculam dano das enchentes no Rio Grande do Sul podem reduzir PIB do Brasil em 0,3 a 0,4 ponto; drama vai além dos números

Área afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Área afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O PIB do Brasil para 2024 pode sofrer um revés com as enchentes do Rio Grande do Sul. O estado representa 6,5% de todo o Produto Interno Bruto e é assolado por enchentes desde o final de abril. Economistas estimam que a paralisação de empresas, perdas de safra e danos às indústrias da região podem levar a uma queda da atividade econômica, além da perda de produtividade.

As enchentes no Rio Grande do Sul já fizeram 116 vítimas fatais e afetam cerca de 1,9 milhões de pessoas, conforme os últimos dados da Defesa Civil do Estado. Segundo um relatório do Itaú BBA, o impacto da calamidade pública no PIB de 2024 deve chegar a 0,3 ponto percentual. Mas outros economistas explicam que ainda é cedo para calcular o estrago.

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Como as enchentes no Rio Grande do Sul podem afetar o PIB do Brasil?

Com base no PIB do Brasil em 2021, o Itaú calcula em relatório que o PIB do Rio Grande do Sul tem peso de 6,5% em toda produção nacional bruta.

Do total das atividades que compõem o PIB do Rio Grande do Sul, a maior parte vem do setor de serviços, que responde por 61%. A indústria vem em segundo lugar, com 24% e, por fim, o agronegócio contribuiu com 15%.

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De acordo com estimativas do banco, as enchentes devem provocar queda de 0,1 p.p. do PIB do agronegócio em 2024, principalmente pela perda de cerca de 4% da safra de soja no Rio Grande do Sul.

Dentro da parcela de 24% do setor de indústria, 18 pontos percentuais correspondem à indústria de transformação. O Itaú BBA prevê queda de 0,1 a 0,2 p.p. do PIB no Brasil com as enchentes na região. O banco destaca que a paralisação pode levar a uma baixa de produtividade “semelhante ao covid” na indústria.

O maior ponto de atenção, segundo o banco, gira em torno de “alguma destruição de capacidade” em indústrias próximas de Porto Alegre.

Assim, na última linha, o Itaú BBA estima um impacto de 0,3 p.p. no PIB do Brasil em 2024.

Perda no PIB pode chegar a R$ 30 bilhões

Ao calcular a queda percentual em valores, o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirma que o impacto pode se traduzir em R$ 30 bilhões no PIB do Brasil.

“Vale destacar que esse não é o custo da reconstrução, nem o prejuízo com o estoque de infraestrutura”, avalia Gala.

Claudio Considera, economista e autor do Monitor PIB, do FGV IBRE, afirma que 25 municípios gaúchos respondem por pelo menos metade do PIB do estado. Ou seja, com mais de 80% dos municípios atingidos, “estamos falando de um impacto em uma região responsável por 3,5% do PIB”, diz.

Mesmo assim, para o economista, ainda é difícil calcular efetivamente os danos.

“O PIB do Brasil vai ser atingido certamente, mas o quanto eu não sei. Brumadinho teve efeito sobre o PIB do país, o mesmo ocorreu quando houve a greve dos caminhoneiros”, aponta Considera.

“Todos vão reduzir as previsões de PIB comparado com o dado antes das enchentes.”

Claudio Considera, autor do Monitor PIB, do FGV Ibre

Além do PIB: ‘Enquanto a água não baixar, não sei o que perdi’

A programadora Marina Rocha detalha como sua própria vida foi afetada pelas enchentes. Ela explica que serviços básicos e produtos como comida têm sido difíceis de acessar. O próprio trabalho remoto que realiza como desenvolvedora de software, que depende de conexão, sofre com a falta de internet.

Marina estava em Canoas (RS) quando as enchentes começaram. Teve que sair da cidade. Levou consigo quatro animais de estimação, uma fonte de energia e o computador profissional. “O pessoal eu deixei em casa”, conta à Inteligência Financeira.

Foi por meio de uma foto que recebeu de um supermercado local que soube que sua casa em Canoas ficou totalmente submersa. “O mercado é num lugar mais alto que minha própria casa. Enquanto a água não baixar, não sei o que perdi”, diz a programadora.

Foto de enchente no Rio Grande do Sul por vista aérea

Marina relata dificuldades para retornar à rotina normal de trabalho. “Meu lugar de trabalho agora é uma cadeira de praia”.

A história dela se assemelha a de outros 337 mil desalojados pelas chuvas, segundo o último dado da Defesa Civil do Rio Grande do Sul.

Para Considera, o setor de serviços tende a sentir mais o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul. “As pessoas não conseguem sair de casa, não estão consumindo.”

Já Paulo Gala lembra que o estado tem importantes polos industrias que, por enquanto, estão parados. O Sul é muito industrial, tem contribuição de 6% para o PIB da indústria no Brasil”, afirma.

O destaque vai para a indústria petroquímica: a Braskem, por exemplo, interrompeu atividades no polo Triunfo.

“O setor petroquímico afeta todas as outras indústrias porque produz polietileno, resina, e mais materiais de base usados pela cadeia produtiva”, pontua Gala.

MB Associados: impacto no PIB do Brasil pode chegar a 0,4 p.p.

Em relatório, a consultoria MB Associados afirma que o impacto das enchentes pode chegar a 0,4 p.p. do PIB de 2024.

“A MB já espera 2% de PIB este ano e se havia chance de revisão para cima, a tragédia gaúcha diminui essa possibilidade. Reforçamos assim nosso número de 2% e diminuímos a chance de números mais próximos de 2,5%, que poderia ser uma possibilidade”, diz a equipe de economistas da consultoria.

O relatório compara as enchentes no Rio Grande do Sul com a inundação do estado norte-americano de New Orleans, em 2005, quando enfrentou cheias após o furacão Katrina.

“Talvez, o melhor comparativo seja com crises climáticas semelhantes no passado e o furacão Katrina, em 2005, possa ser o mais parecido com o tipo de devastação com que o Sul está vivendo.”

Saiba como ajudar as vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul.

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