Masayoshi Son, do Softbank, tem menos motivos para sorrir: O executivo Marcelo Claure quer receber US$ 2 bi em pagamento; Masa discorda

Claure criou o fundo de investimentos que apostou em várias startups da região, entre elas Rappi, Gympass e Loggi

Masayoshi Son, fundador e executivo-chefe do SoftBank (Foto: Vision Fund/Divulgação)
Masayoshi Son, fundador e executivo-chefe do SoftBank (Foto: Vision Fund/Divulgação)

O SoftBank, conglomerado japonês responsável por centenas de investimentos em inovação ao redor do mundo, informou, na semana passada, estar “ativamente envolvido em discussões” sobre a função do diretor de operações do SoftBank, o economista Marcelo Claure e sua remuneração. O fundo afirmou ainda que “Marcelo é um importante executivo da SoftBank que ajudou em muitas iniciativas importantes”.

A polidez da mensagem contrasta com o tom de uma das disputas mais ferrenhas em curso no mercado de investimentos da nova economia. O fundador e presidente-executivo do SoftBank, Masayoshi Son, está travando uma batalha por remuneração, que até bem pouco tempo acontecia nos bastidores, com um dos seus principais executivos. Segundo reportagem do The New York Times (NYT), o SoftBank precisa cortar gastos e começou pela remuneração de seus próprios profissionais de alto escalão.

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Claure, que era confidente de Son, pleiteia receber cerca de US$ 2 bilhões, de acordo com quatro pessoas com conhecimento das discussões, entrevistadas pelo NYT, mas que não foram autorizadas a falar publicamente sobre questões salariais. Son e outros executivos seniores do SoftBank no Japão estão procurando pagar a Claure uma quantia muito menor – dezenas de milhões de dólares no máximo, segundo o NYT.

A quantia em jogo reflete o papel singular de Claure no SoftBank. O economista foi parte chefe de operações, parte embaixador da empresa – desembaraçando investimentos complicados, procurando oportunidades lucrativas e cortejando fundadores de startups – desde que ingressou no fundo japonês em 2017.

Claure insiste, em conversas privadas com executivos dentro e fora da SoftBank, que o fundo lhe deve US$ 2 bilhões por vários trabalhos de “limpeza”, incluindo endireitar o investimento da SoftBank no WeWork, a gigante do aluguel de escritórios que abriu capital em outubro, mas sofre com resultados negativos. O valor também reflete a estimativa do economista do valor futuro que ele poderia trazer para o SoftBank, disse um dos executivos ouvidos pelo NYT.

Son e outros executivos do SoftBank, segundo o NYT, estão preocupados que um pagamento tão elevado, caso Claure vença a disputa, desperte a atenção dos investidores no Japão, onde as ações do conglomerado são negociadas e onde grandes pagamentos aos executivos são geralmente malvistos.

Claure, que ganhou US$ 17 milhões no ano passado, já é um dos executivos mais bem pagos do Japão nos últimos anos. Mesmo nos Estados Unidos, poucos executivos de empresas de capital aberto recebem mais de US$ 1 bilhão em salários e prêmios em ações em um único ano. Em 2020, apenas Alexander Karp, o presidente-executivo da Palantir, empresa de software e serviços de informática americana, tinha um pacote de remuneração total de mais de US$ 1 bilhão.

Além disso, o SoftBank, que tem uma capitalização de mercado de cerca de US $ 85 bilhões, está lutando contra a desvalorização. Suas ações caíram mais de 35% neste ano, após uma repressão regulatória na China que pesou sobre as ações chinesas. O Alibaba, o gigante do varejo online chinês, é o maior investimento do SoftBank.

Alguns executivos do SoftBank também questionam as atividades de Claure enquanto executivo da empresa, embora o fundo as tenha liberado. Segundo reportagem do NYT, Claure, ocasionalmente, fazia investimentos pessoais em startups que ele apresentou ao SoftBank.

Quando o fundo, posteriormente, apostava na startup, com avaliações muito maiores, o valor dos investimentos pessoais de Claure aumentavam consideravelmente, dando a ele milhões de dólares em lucros – pelo menos no papel. O diretor financeiro da empresa, Yoshimitsu Goto, está entre aqueles que reclamaram com Masayoshi Son sobre o assunto, segundo duas pessoas ouvidas pelo NYT.

Claure e o SoftBank estão mantendo suas posições na disputa salarial há semanas, cada lado trabalhando com suas próprias equipes de advogados. As negociações, que ainda podem durar semanas, desgastaram os laços estreitos entre Masayoshi Son, 64 anos, e Claure, de 50. Tanto que o economista pode deixar o SoftBank nos próximos meses, receba ou não a compensação que está buscando, disseram quatro pessoas ouvidas pelo NYT.

Investimentos na América Latina

Em setembro, antes da atual disputa ganhar os holofotes, Claure seguia ocupando o espaço dentro do Softbank. Em um comunicado ao mercado, no dia 14 de setembro, o fundo anunciou o lançamento do seu segundo fundo de investimento privado focado em empresas de tecnologia no mercado latino-americano. O compromisso inicial divulgado foi de US$ 3 bilhões.

O Softbank justificou o lançamento do segundo fundo depois do sucesso do primeiro, de US$ 5 bilhões, que foi anunciado em março de 2019 e aportou recursos em 48 empresas com um valor de US$ 6,9 bilhões, em 30 de junho de 2021. Entre as investidas figuram nomes como VTEX, QuintoAndar, Kavak, Banco Inter.

À frente destes projetos de investimentos sempre figurou o nome de Marcelo Claure e time, formado pelos executivos brasileiros Paulo Passoni e Alex Szapiro, sócio operacional e chefe do Softbank para o Brasil.

Há algumas semanas, o Softbank anunciou que pode investir outros 10 bilhões de dólares na América Latina apenas em 2022. “Sabemos que haverá momentos de maior e menor liquidez, mas esperamos uma constância para os próximos anos nesse patamar que temos feito. Vamos investir bilhões na América Latina e no Brasil pelos próximos cinco ou dez anos. É um crescimento sustentável”, disse à Veja, Alex Szapiro, em reportagem publicada na sexta-feira (3).

Aparentemente, Claure, que esteve envolvido nas conversas para levantar os recursos que vão possibilitar que startups latino americanas, em especial às brasileiras, recebam um quinhão mais generoso do dinheiro do gigantesco fundo japonês destina a negócios inovadores, pode não estar mais na empresa para ver o retorno destes investimentos.

A disputa entre o executivo e o Softbank é um daqueles casos de batalha corporativa que cedo ou tarde chega a um desfecho, e, sendo a empresa de capital aberto, em breve será divulgado a que preço a disputa teve fim.

Com reportagem do The New York Times

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