Novatas do Ibovespa têm difícil teste à frente

CSN Mineração, 3R Petroleum e Positivo precisam atrair investidor

Foto: Divulgação

O momento volátil do mercado acionário local se juntou, mais recentemente, a um ambiente externo bastante desafiador, com os investidores receosos com o processo de retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos. Assim, gestores e analistas acreditam que as ações de CSN Mineração, 3R Petroleum e Positivo Tecnologia – papéis que estrearam recentemente no Ibovespa, após o último rebalanceamento da carteira teórica do índice – podem encontrar dificuldades para tirar proveito da exposição adicional que a “Série A” do mercado proporciona.

Apesar de estarem em setores conhecidos da bolsa – commodities e tecnologia -, alguns aspectos podem dificultar a performance dessas ações. Em momentos de crise, papéis de menor porte, conhecidos como “small caps”, são por vezes preteridos pelos investidores por serem menos líquidos. Especialmente no caso do investidor estrangeiro, que acompanha o mercado brasileiro mais de longe, os aportes costumam se concentrar nas ações mais representativas do índice. Exemplo disso é que, enquanto o Ibovespa recuou 11,93% em 2021, o Índice Small Cap (SMLL), referência para ações de pequeno e médio porte da B3, caiu 16,20%.

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CSN Mineração e 3R Petroleum, além de novatas no Ibovespa, também entraram na bolsa recentemente, o que pode afastar agentes que buscam empresas mais consolidadas e com histórico de divulgação de resultados. A primeira delas realizou IPO em fevereiro de 2021, enquanto a segunda abriu capital em novembro de 2020. Já a Positivo, que negocia suas ações desde 2006, sofreu por uma década antes de retomar para valer sua relação com os investidores em 2019.

Um relatório da XP mostra, inclusive, que apesar dos 46 IPOs concluídos em 2021, a performance das novatas foi fraca. “Na média, três meses após o início das negociações as ações caíram 4,2%, e seis meses depois elas registraram uma queda de 9,6%. E, no total, as empresas que se tornaram públicas em 2021 tiveram um desempenho médio negativo de 26,1% no ano”, escreveram Fernando Ferreira, Jennie Li e Roberta Nossig.

“Desde julho do ano passado, com o surgimento de problemas que afetaram o ambiente macroeconômico local, o mercado buscou ativos mais estáveis e passou a evitar, por exemplo, ações com tese de crescimento e de menor porte. A liquidez que os papéis maiores proporcionam é um fator, assim como o grande número de IPOs recentes. Por vezes, o mercado nem conhece profundamente as empresas, o que se torna um complicador”, diz Antonio Heluany, sócio e analista de commodities da Taruá Capital.

Heluany lista ainda outros problemas com impacto sobre a performance da classe de ativos, como o crescimento nos resgates dos fundos de investimentos, que por vezes obriga os gestores a vender suas posições para cobrir as solicitações, e a participação dos investidores estrangeiros no mercado local, que normalmente é realizada através de ações “mais robustas”.

“Comparando com o futebol, fazer parte do Ibovespa é como sair da Série B para jogar a Série A. Os ativos passam a fazer parte de fundos passivos do índice e ganham cobertura mais próxima do mercado, tendendo para uma precificação mais justa. Mas isso pode ser bom ou ruim, a depender do ambiente macro e dos próprios fundamentos das empresas, que ficam mais visíveis”, diz Filipe Villegas, estrategista da Genial.

Werner Roger, gestor da Trígono, casa especializada em small caps, afirma que atualmente sua preferência é por ações que possuam receitas em dólar ou que tenham seus negócios voltados para o exterior. Atualmente, as principais apostas da Trígono estão nos setores da indústria, metalurgia, agronegócio e químico.

Assim, mesmo com a queda do SMLL no ano passado, o Trígono Flagship Small Caps FIC FIA fechou 2021 com alta de 43,60%. A divergência, segundo Roger, se explica pela composição setorial do SMLL, que tem exposição importante a construtoras, ao setor de consumo e ao comércio. “Não temos posições relevantes nesses setores que estão muito expostos à alta dos juros e à economia doméstica. No curto prazo, eles devem continuar sofrendo bastante.” Ele pondera que, quando houver sinalizações mais claras de que o processo de aperto monetário do Banco Central chegou ao fim, oportunidades podem começar a surgir, devido à queda forte dos preços.

Nessa linha, a Positivo, que avançou 120,4% em 2021, soma queda de 24,77% no ano. “Ela acabou apanhando por estar ligada ao consumo e tecnologia, nesse cenário de alta de juro. Mas o mercado ignora um fator importante que vai impulsionar os resultados, que é o das urnas eletrônicas”, diz.

Segundo o gestor, a companhia venceu a licitação para a entrega dos equipamentos eleitorais em 2022 e 2024, de valor superior a R$ 1,1 bilhão, o que deve contribuir para os resultados corporativos da empresa nos próximos trimestres. “Havíamos montado uma posição antes da alta do ano passado e voltamos a comprar com esta queda recente”, afirma.

Também otimistas, os analistas da XP afirmaram no final do ano passado que enxergavam o papel com “bons olhos, pois a comunicação da empresa com o mercado tem melhorado de forma consistente no último ano e os resultados estão no caminho certo”.

Sofrendo menos setorialmente, a 3R Petroleum, que recuou 9,81% em 2021, marca avanço de 9,54% em 2022. A Genial tem visão construtiva do ativo, sublinhando que a falta de investimentos globais no setor, não amparada por uma queda brusca na demanda por petróleo, abre espaço para que novos “players” cresçam no mercado.

Também pouco dependente do cenário local, a CSN Mineração, que perdeu 21,92% em 2021 e ganha 6,82% este ano, tem um desafio robusto por concorrer diretamente com a Vale. Heluany, da Taruá, diz que a gestora dá prioridade à maior empresa do índice por contar com crescimento “mais garantido” em sua produção. “A CMIN, para entregar o que apresentou no seu roadshow, vai precisar investir. Além disso, o investidor estrangeiro conhece mais a Vale, é um investimento mais cômodo.”

Já o Bank of America tem recomendação de compra do papel, com preço-alvo de R$ 8,50. “Apesar da nossa visão conservadora em relação aos preços do minério de ferro, consideramos que a empresa tem um perfil proeminente de crescimento com ‘valuation’ atraente, além de dividendos robustos”, escreveram Leonardo Neratika e Guilherme Rosito.

No curto prazo, é importante o monitoramento do avanço das chuvas em Minas Gerais, que fez com que Vale, Usiminas e CSN paralisassem algumas de suas operações. Heluany diz que os próximos dias serão essenciais para mensurar o quanto as paralisações devem afetar os volumes das companhias, ponderando que o primeiro semestre já costuma ser menos produtivo por conta das chuvas. Diz ainda que, por outro lado, a diminuição pontual da oferta de minério pode ter um efeito positivo no preço do ativo.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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