Nota de R$ 20 faz 20 anos. Veja o que era possível comprar em 2002 e o que dá para colocar no carrinho agora

Se atualizada pela inflação, que corrói o seu poder de compra, a cédula do mico-leão-dourado deveria valer hoje R$ 69

A nota de R$ 20 foi lançada pelo Banco Central em junho de 2002. Foto: Divulgação
A nota de R$ 20 foi lançada pelo Banco Central em junho de 2002. Foto: Divulgação

Parece que foi ontem, mas já se passaram duas décadas desde que a nota de R$ 20 foi lançada. De lá para cá, além do visual da cédula, repaginado em 2012, muita coisa mudou, principalmente o que é possível comprar com esse valor.

Se atualizada pela inflação, que corrói o poder de compra dos brasileiros, a cédula do mico-leão-dourado deveria valer hoje R$ 69, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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Em 2002, ano de lançamento da nota de R$ 20, o salário mínimo subiu de R$ 180 para R$ 200. Os R$ 20, portanto, representavam 10% da renda de quem ganhava o piso nacional. Agora, o valor equivale a 1,65% dos atuais R$ 1.212.

Dados do Índice Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também mostram que, nestes 20 anos, o carrinho de supermercado ficou 360% mais caro, e a lista de compras paga naquela época com R$ 20 foi minguando.

“O poder de compra encolheu bastante. A inflação acumulada é de 254% pelo IPCA e, com isso, a realidade dos preços se alterou brutalmente. É como se a gente multiplicasse o preço dos produtos por quatro. A nota de R$ 20 compra muito menos diante de uma inflação tão alta. Em termos reais, se a gente a divide pela inflação acumulada, é como se ela comprasse algo equivalente a R$ 5,65 atuais”, calcula André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Um encarte de supermercado do dia do lançamento da cédula — em 27 de junho de 2002 — mostrava que com R$ 20 era possível comprar 1 kg de alcatra ou contrafilé, 5kg de arroz, 1kg de feijão, 1kg de açúcar, 500g de café, uma lata de leite em pó, um pacote de 1kg de sabão em pó, um sabonete e um detergente de 500ml. Ainda sobravam R$ 0,06.

Já no encarte desta semana da mesma rede de supermercados, é possível comprar apenas 500g de café e um frasco de detergente, ou um pacote de 5 kg de arroz e outro de 1kg de açúcar — neste caso, ainda completando R$ 0,94.

Ainda segundo o folheto da época, uma embalagem de 500g de achocolatado custava R$ 2,37. Com R$ 20, era possível comprar quase dez unidades. De lá para cá, a mesma marca diminuiu a lata, hoje com 370g, vendida por R$ 7,19. O consumidor não conseguiria comprar três unidades.

Uma lata de azeite de 500ml custava R$ 4,56 em 2002. Assim, uma cédula de R$ 20 pagava quatro unidades. Hoje, um vidro de 400ml sai por R$ 17,98.

O quilo do filezinho (sassami) de frango, que na época saía por R$ 4,39, hoje é vendido por R$ 11,98, considerando a marca mais barata. Com pouco mais de R$ 20, portanto, é possível comprar apenas duas embalagens (desembolsando uns trocados a mais), bem diferente das quase cinco que poderiam ser levadas em 2002.

Ano do Penta

A cédula de R$ 20 foi a última a ser lançada na chamada primeira família do Real, e levou 18 anos até que outra nota entrasse em circulação: a de R$ 200, lançada em 2020. Nesse meio tempo, além da remodelação das notas, que passaram a ter tamanhos diferentes e novos dispositivos de segurança, a nota de R$ 1 foi suspensa.

Na semana em que a cédula foi lançada, a seleção masculina de futebol estava em busca do pentacampeonato na Copa do Mundo, realizada no Japão e na Coreia do Sul. Para assistir às partidas, muitas famílias e amigos se reuniam durante a manhã ou ainda de madrugada, por conta da diferença de fuso horário.

Mas quando a comemoração pelas vitórias da seleção de Luiz Felipe Scolari se estendiam, o churrasco estava garantido — e por pouco.

Na semana da conquista do Penta, a mesma rede de supermercados vendia o quilo da alcatra e do contrafilé por R$ 4,49. Hoje, o valor na mesma rede é de R$ 34,98 ou R$ 36,98.

A linguiça toscana era vendida há 20 anos por R$ 2,29 o quilo, e a bandeja de coração de frango saía por R$ 4,55. A lata de 350ml de cerveja de uma marca popular, hoje vendida por R$ 2,89 no mesmo local, custava R$ 0,59. Já a garrafa de refrigerante saía por R$ 1,28, R$ 4,71 a menos que os R$ 5,99 atuais.

Braz explica que, além da alta acumulada de 360% dos alimentos para consumo em domicílio, as carnes tiveram um aumento ainda maior. “A carne subiu mais do que o aumento médio. O Brasil está exportando mais, e as commodities que fazem parte da produção estão mais caras. Se fosse apenas pela inflação geral acumulada, o quilo (da alcatra ou do contrafilé, com o preço de referência do supermercado citado) estariam por volta de R$ 16. Se levamos em conta a inflação dos alimentos, R$ 21, mas ainda distante dos preços que temos hoje”, diz.

Outro item cujo preço atual impressiona na comparação com os encartes antigos é o café. O pacote de 500g saía por R$ 1,88 em 2002. Hoje, a embalagem da mesma marca é vendida por R$ 17,48. O produto ficou 70% mais caro nos últimos 12 meses.

“No ano passado, tivemos um frio muito intenso, o que provocou um prejuízo grande no setor. Foi um superchoque. A safra do café é bianual, o que quer dizer que a produção de uma boa safra acontece a cada dois anos. Então, custa a restabelecer o mercado e o preço voltar ao normal.”

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