Tênis: por que as premiações são tão altas?
E por que apenas poucos atletas chegam no topo?
Está começando a temporada do tênis mundial, e, na coluna dessa semana, vou trazer alguns aspectos que estão sob discussão na estrutura do esporte, especialmente envolvendo dinheiro. E um spoiler: a grana vai sempre para quem se destaca, em qualquer que seja a área do entretenimento.
Para quem é fã do esporte os próximos dois parágrafos podem ser desnecessários, mas como temos quem ainda desconhece a estrutura, vamos resumir como funciona o tênis no mundo. Primeiro, as competições disputadas de maneira semana, ao longo de 11 meses, entre janeiro e novembro. Há 3 “organizadores”, que são a WTA (tênis feminino), ATF (tênis masculino) e a ITF (federação).
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Há 4 grandes competições, os chamados Grand Slams (Austrália, França, Inglaterra e EUA), e diversas competições menores chamadas de ATP/WTA 1000, 500 e 250 e a Finals. Além dos challengers, competições para iniciantes no ranking.
Todas distribuem pontos por performance, e a soma dos pontos indica o famoso ranking, que no masculino tem o italiano Jannik Sinner como número 1, e no feminino a bielorussa Aryna Sabalenka. Depois temos competições como a Copa Davies (masculina) e Billie Jean King Cup (feminina), por países.
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Tênis: o que move é a premiação
Além da pontuação e dos títulos, o que move os tenistas é a premiação. E aqui entramos numa seara mais complexa e que norteará as conversas daqui em diante.
Os grandes pagam um bom dinheiro aos participantes, especialmente aos vencedores. A fonte de receita está na venda dos direitos de transmissão – sempre eles – e patrocínios, além dos ingressos.
Os 4 torneios do Grande Slam desde 2007 mais ou menos pagam premiações idênticas nos torneios masculinos e femininos, graça ao esforço das tenistas.
E uma curiosidade: apenas a partir de 1968 é que um Grand Slam, o de Rolland Garros, pagou premiação pela participação. O vencedor masculino recebeu USD 3mil e a vencedora feminina levou USD1 mil para casa.
Quanto os campeonatos pagam aos tenistas vencedores
Depois disso os valores foram subindo e hoje o vencedor do Australian Open, primeiro Grand Slam do ano, recebe USD 2,1 milhões, enquanto o US Open paga USD 3,6 milhões. Em 2024 Jannik Sinner recebeu USD 19,7 milhões em prêmios, sendo USD 4,88 milhões pela conquista do ATP Finals. Entre as mulheres, Aryna Sabalenka recebeu USD 9,7 milhões.
Quem chega ao título é altamente premiado, mas quem é eliminado na primeira de Rolland Garros faz USD 80 mil. Na segunda, são USD 120 mil. É um bom dinheiro. Mas praticar tênis de forma profissional é uma oportunidade para poucos.
Como os tenistas ganham dinheiro
Tenistas possuem duas fontes de renda: premiação e contratos de patrocínio. E muitos custos, afinal, são atletas independentes, não possuem estrutura de suporte de jogadores de futebol, basquete, vôlei. Precisam custear o local de treino, a equipe técnica, custos médicos, viagens, hospedagem.
Para atletas bem posicionados no ranking, o rio corre para o mar. No top 30 a premiação anual parte da casa de USD 1 milhão, chegando aos valores de Sinner e Sabalenka. E são esses atletas que conseguem exposição e melhores contratos. Abaixo disso começa a se criar diferenças relevantes, a ponto do Top 100 fazer menos de USD 100 mil em prêmios, porque não se qualifica para os Grand Slams, participa de competições de baixa pontuação, e com menos exposição, tem menos patrocínios.
Altos custos no tênis
Segundo matéria do site Cherwell, 80% do Top 1000 do tênis não conseguem fazer receitas que cubram seus custos. Isto se traduz em abandonos precoces das quadras.
Isto explica porque muitos jovens promissores não se consolidam quando adultos, pois não conseguem suportar os custos, dado que o crescimento é lento e a carreira curta.
Há muitos aspectos que explicam essa dificuldade. O primeiro é da distribuição das receitas das competições. Enquanto os torneios WTA e ATP distribuem 50% do que arrecadam, os Grand Slams só repassam cerca de 20%, sob a justificativa de que há custos de manutenção e desenvolvimento da modalidade que são cobertos por esse dinheiro.
O que está mudando no mundo do tênis
Há algumas ações sendo feitas para tentar diminuir este efeito. Recentemente foi criada a PTPA (Professional Tennis Player Association), liderada por Novak Djokovic e Vasek Pospisil.
A organização congrega o Top 500 do tênis masculino e feminino, e está debatendo reformas nas estruturas do esporte para melhorar a condição dos tenistas.
Recentemente a ATP estruturou um projeto chamado Baseline, que pretende garantir uma espécie de renda mínima para o Top 250 dos tenistas masculinos. A ideia é que cobrir a diferença de receitas com premiação até atingir os seguintes valores:
- Top 100: USD 300 mil
- Top 101 a 175: USD 150 mil
- Top 176 a 250: USD 75 mil
O objetivo é melhorar a capacidade financeira dos tenistas, ajudando no desenvolvimento da modalidade. Além disso, haverá um complemento para aqueles que, por contusão, não atingiram ao menos 9 competições no ano, e um auxílio para quem está no primeiro ano de Top 250.
Pirâmide de remunerações
Estamos acostumados a questionar os salários dos jogadores de futebol, que parecem ganhar muito pelo que fazem. Ignoramos, entretanto, que há uma pirâmide de remunerações.
Estudo recente da Universidade do Futebol aponta que 12% ganham acima de R$ 5 mil mensais, 33% entre R$ 1 mil e R$ 5 mil, e os demais ganham abaixo de R$ 1 mil, na média mensal anual, porque não têm competição ou contrato assinado por 12 meses.
Apenas algo como 2% recebem mais de R$ 200 mil mensais. Pensando num universo de 11 mil atletas profissionais, falamos em cerca de 200 atletas.
Mesmo na Europa, se tomarmos estudo do site Capology que separa os clubes pelo tamanho das folhas de pagamento, os jogadores dos clubes com as folhas entre 61ª e 80ª na Europa recebem € 66 mil anuais, o que dá € 5,5 mil mensais, enquanto aqueles entre 81ª e 100ª recebem € 44 mil anuais, ou € 3,5 mil mensais.
A realidade é que os esportes são estruturas meritocráticas: o talento e a dedicação premiam os melhores com conquistas esportivas e também dinheiro, criando bolhas de sucesso e abismos em relação á grande maioria dos praticantes.
E, no fundo, é assim que deve ser, como é no cinema, onde os atores que fazem mais bilheteria ganham mais, e nem sempre são os mais talentosos, ou músicos que faturam mais com shows e streaming, e nem sempre o que fazem é genuinamente agradável aos ouvidos e à alma.
Vale para atletas, músicos, atrizes, clubes. O entretenimento é um mundo de exclusividades.