CEO da Latam alerta: passagens aéreas podem ficar mais caras com reforma tributária

Jerome Cadier indica que preços dos bilhetes podem subir até 20% com nova regra de impostos

O atual desenho da reforma tributária em discussão no Congresso Nacional pode levar a passagem aérea no Brasil a subir entre 15% e 20%. A avaliação foi dada pelo presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, em entrevista com jornalistas para comentar os resultados do segundo trimestre do grupo.

“Em todos os países a aviação tem tratamento diferenciado. No Brasil, isso não foi estendido ao transporte aéreo. A gente não seguiu o que todos os países [que usam o imposto IVA] seguiram no mundo. Estamos vendo um texto que faz com que a operação aérea tenha IVA de 27,5% [o próprio percentual ainda tem sido debatido] e com isso vamos ter de repassar para a tarifa. Quando a gente faz as contas dos créditos e débitos nesse futuro regime tributário, a gente vê que o volume de impostos recolhido por qualquer empresa aérea subiria significativamente. Repassado aos preços, a passagem subiria entre 15% e 20%, tendo impacto na demanda. Nossa intenção nos próximos meses é continuar a ter discussões com o Congresso”, disse.

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O executivo destacou que mesmo com o benefício à aviação regional a nova tributação vai continuar “violentíssima” ao setor. “Isso vale tanto no internacional, quanto doméstico”, disse.

O executivo apontou que o desenrolar da reforma contradiz o que a equipe que estuda o texto defende: de impacto neutro nos setores. “Para alguns, ela reduz o imposto, para outros, ela aumenta. E a aviação está entre os setores que tem aumento significativo no formato que está sendo discutido no Congresso”, disse.

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O executivo lembrou que, com a reforma no modelo de hoje, o Brasil passaria a taxar passagens internacionais. “Isso reduz a capacidade de as empresas crescerem. Reduz a capacidade de os brasileiros voarem para fora”, disse.

Desempenho no Brasil

Questionado sobre o desempenho do mercado brasileiro, Cadier disse que a demanda tem apresentado força. Ele destacou o salto de destinos da empresa no país, de 43 antes da pandemia para 56. “Além da parceria com a Voepass, que trouxe mais 30 novas rotas a nossa rede”, acrescentou.

Apenas o mercado doméstico do Brasil representou 35% da receita de passageiros da empresa. Sozinha, a Latam tem 42% do “market share” dos voos dentro da América do Sul.

Cadier destacou que a empresa adicionou um milhão de assentos no mercado doméstico do Brasil no primeiro semestre se comparado com o ano passado. “Estamos firmes com a meta de colocar neste ano três milhões de assentos a mais do que voamos em 2023 [no Brasil]”, disse, reforçando a projeção divulgada em dezembro passado.

O executivo destacou os bons resultados de satisfação de clientes no Brasil, cujas métricas (NPS) saltaram de 33% em 2019 para 54%. “Nos passageiros mais ‘premium’ o NPS saltou de 32% para 59%”, informou. Entre os fatores positivos para o indicador por aqui, explicou, está o assento “premium economy” dos voos domésticos.

Latam avalia aviões da Embraer

Ainda na coletiva, Jerome Cadier, disse que a empresa avalia aviões de menor porte para a sua operação e assim fazer frente à forte demanda por transporte aéreo. Entre as aeronaves no radar estão o Embraer E2 e o Airbus A220, que competem no segmento logo abaixo das famílias hoje operadas pela Latam.

“Estamos enfrentando situação de restrição na disponibilidade de aeronaves. E isso fez a gente desde o ano passado buscar alternativas para continuar crescendo”, disse o executivo, em teleconferência com jornalistas. Airbus e Boeing têm enfrentado desafios para manter o calendário de entregas das famílias maiores, em meio a uma cadeia produtiva ainda complexa.

“A Latam tem capacidade, está gerando caixa e quer continuar crescendo. Para isso, ela precisa de aeronaves. Estamos avaliando e vamos continuar avaliando todas as opções que existem. Ainda existe a opção de crescer com a frota que a gente tem hoje. E também estamos mapeando o que seria crescimento com frota menor. Ela pode vir da Embraer ou da Airbus”, disse.

O governo do Brasil tem feito pressão para que a Latam compre aeronaves da Embraer. Hoje, apenas a Azul opera modelos da fabricante brasileira no mercado doméstico.

Lucro da Latam no 2º tri

Em meio à continuidade da boa demanda por transporte aéreo na região, o grupo Latam fechou o segundo trimestre deste ano com um lucro líquido de US$ 145,5 milhões, salto de 0,2% na comparação com igual período de 2023. Os dados foram divulgados na noite desta quarta-feira (7) pela empresa.

Considerando ajustes (como variações cambiais, os pagamentos variáveis de frota e remuneração de funcionários associada ao Plano de Incentivo Corporativo) o lucro foi de US$ 104,803 milhões, queda de 26,3% na comparação anual.

O grupo fechou o trimestre com uma receita total de R$ 3,029 bilhões, alta de 13,2% na comparação anual. O bom momento veio com a força do setor de passageiros, cuja receita saltou 14,3%, para US$ 2,6 bilhões.

No trimestre, a Latam registrou um salto na oferta de assentos (ASK) de 16,2%. Já a demanda por voos (medida em RPK, ou receita por passageiro por quilômetro) saltou 18.8%.

No trimestre, a empresa transportou 19,1 milhões de passageiros, alta de 11,7%.

O “yield” (ou seja, o preço pago pelo passageiro para voar um quilômetro) caiu 3,8%, para 8,4 centavos de dólar. Já a taxa de ocupação subiu 1,8 ponto percentual, para 82,2%

O Ebitdar (lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e custos de arrendamento) da empresa no fim do período foi de US$ 618,6 milhões, alta de 10,7%.

No trimestre, a Latam gerou US$ 177 milhões em caixa, excluindo o pagamento de dividendos de cerca de US$ 175 milhões. No fim do trimestre, a liquidez da empresa era de US$ 3 bilhões, sendo US$ 1,853 bilhão de caixa e equivalente de caixa — salto de 21% na comparação anual.

A dívida líquida foi de US$ 5,2 bilhões, alta de 0,69%. A relação dívida líquida sobre Ebitdar nos últimos 12 meses ficou em 1,9 vez, contra 2,1 vezes no fim de dezembro.

Com informações do Valor Econômico

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