Paris FC e Lusa: diferenças e semelhanças entre a Cidade Luz e o Canindé
Nas últimas semanas foram divulgados dois projetos de investimentos em clubes de futebol muito distantes em termos geográficos, mas com similaridades quando pensamos em estratégia. Falamos da compra do Paris FC pelos grupos LVMH – na figura do seu acionista, Antoine Arnault, filho do bilionário Bernard Arnault – e Red Bull. E também no projeto […]
Nas últimas semanas foram divulgados dois projetos de investimentos em clubes de futebol muito distantes em termos geográficos, mas com similaridades quando pensamos em estratégia. Falamos da compra do Paris FC pelos grupos LVMH – na figura do seu acionista, Antoine Arnault, filho do bilionário Bernard Arnault – e Red Bull. E também no projeto de SAF da Portuguesa de Desportos, a nossa Lusa, através da XP, Tauá capital e Reeve.
Muito além do Paris FC
Aliás, grupo LVMH que controla marcas de luxo como Louis Vuitton, Hennessy, Chandon, Dior, Bulgari, Tag Heuer, Sephora. Agora adiciona um clube de futebol para chamar de seu.
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Na semana passada publiquei uma coluna na Inteligência Financeira sobre o projeto de SAF da Lusa, e como ele está amparado em três ações em termos financeiros: reestruturação dos passivos, reforma do Canindé e aportes de recursos na recuperação esportiva.
Um novo projeto para o Paris FC
Nesta semana, o futuro mandatário do Paris FC, Antoine Arnault, apresentou mais detalhes sobre o projeto, em parceria com a Red Bull. Ele está assentado sobre 3 pilares: i) o ativo precisa compartilhar de valores sólidos, ii) o projeto tem como objetivo chegar à Ligue 1 e desenvolver atletas jovens, e iii) a visão de longo prazo.
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No desenho do projeto está a divisão de funções dentro da estrutura. O grupo Arnault será responsável pelo negócio, desenhando o planejamento de longo prazo e aplicando estratégias de gestão fora de campo. E caberá à Red Bull ser uma espécie de “consultora” esportiva.
O clube não terá o nome da marca de bebidas, como acontece com a equipe de Leipzieg ou o Bragantino. Mas a estratégia esportiva contará com apoio da empresa austríaca, agora liderada pelo treinador Jurgen Klopp.
Canindé X reforma do estádio do Paris FC
Se no projeto da Lusa uma parte importante está atrelada à completa transformação do estádio do Canindé numa arena multiuso, o Paris FC fará uma reforma importante no estádio Sebastién Charléty, de forma a dar mais conforto aos torcedores.
Falando em relação com os torcedores, os novos acionistas confirmaram que manterão a estratégia de preços baixos nos ingressos enquanto permanecerem na Ligue 2- a 2ª divisão francesa – o que contempla partidas com entrada gratuita, e que ao chegarem na Ligue 1 haverá a compatibilidade de preços à nova realidade.
O clube francês não tem dívidas relevantes, o que é possível porque o sistema de sustentabilidade financeira local – controlado pela DNCG, órgão independente criado a partir de uma lei de controle financeiro de clubes e associações esportivas – é bastante rígido, como pudemos notar no rebaixamento do Bordeaux e agora no rebaixamento preventivo do Lyon, clube de John Textor.
As dívidas da Lusa
Esta é uma diferença importante quando comparado à Lusa, que carrega mais de R$ 400 milhões em dívidas a valores nominais, para uma receita que não chega aos R$ 20 milhões com o negócio futebol. Assim, o dinheiro investido pelo grupo Arnault vai exclusivamente para a operação.
Falando em operação dentro de campo, temos outra diferença entre Paris FC e Portuguesa.
A primeira é claramente a localização dos clubes nas pirâmides esportivas. Enquanto o clube francês está a um passo da 1ª divisão, a equipe do Canindé vai disputar a Série D em 2025. E isto impacta diretamente na urgência de cada projeto.
Um tem tempo, o outro, pressa
Enquanto o Paris FC pode tratar o negócio com paciência e visão de longo prazo, para os investidores da Portuguesa é mandatório chegar ao topo do futebol brasileiro o quanto antes, pois cada ano abaixo da Série A é um ano de queima de caixa.
Entretanto, um tema que aproxima os dois projetos é o da formação de atletas. A Portuguesa sempre teve nas categorias de base um local de formação de atletas de alta qualidade, e obviamente isto foi perdendo relevância medida em que a capacidade financeira desapareceu. O projeto da “nova” Lusa tem como um dos pilares o investimento na base e na formação, forma natural para alavancar receitas.
O segundo pilar do projeto do Paris FC é a formação de jogadores, e a Red Bull auxiliará diretamente nisso, contribuindo com a construção de um moderno centro de treinamentos, mas também com dados e análises que permitem ao clube explorar a enorme quantidade de jovens na região metropolitana de Paris.
As vantagens do Paris FC
No frigir dos ovos, são projetos que possuem visões parecidas, mas urgências diferentes.
Para o grupo Arnault, fazer parte de um MCO – multiclub ownership, ou seja, um grupo de clubes espalhados pelo mundo – traz o benefício de compartilhar experiências, atletas, ideias, e ter o suporte de um acionista estratégico na indústria.
E a questão temporal é fundamental nesse processo. O futebol é um negócio cuja maturação é de longo prazo. Precisar vencer e conquistar rapidamente traz um risco relevante para o investidor, porque cria o incentivo ao gasto adicional: “Se contratarmos mais dois ou três…”.
Projetos no futebol
Estava comparando os dois projetos ao projeto de constituição de um MCO ao qual estou envolvido, e que tem no Anadia FC de Portugal o primeiro clube.
A base é muito próxima, com pilares associados aos valores da marca, investimentos em formação de atletas e uso de análise de desempenho para encontrar talentos, gestão especializada no futebol – todos temos experiência dentro e fora de campo – e tempo. Projetos de futebol precisam de tempo para se solidificarem. Agora que já estabilizamos o Anadia FC iniciaremos o acesso ao próximo clube, reforçando parcerias técnicas já iniciadas.
Impactos negativos de clubes para as marcas
Por fim, algo que sempre ouço de investidores é que eles têm receio dos impactos negativos que o futebol pode trazer à sua imagem e à de outros ativos que gerem.
É um risco, fortemente mitigado pela presença de profissionais especializados na gestão dentro e fora de campo, e pela construção de um modelo de negócios adequado.
O grupo Arnault sabe dos riscos de contaminação de imagem entre os negócios, diretos e indiretos, mas se posiciona com sua capacidade de gestão e presença de um parceiro estratégico para ultrapassar barreiras.
É possível enxergar o futebol como negócio, sem necessariamente perder o aspecto lúdico. Basta estar nas mãos corretas. Com diferenças e semelhanças, Paris FC e Lusa iniciam novas fases de suas vidas, de olho no futuro.