O que esperar para a Natura (NTCO3) após recuperação judicial da Avon nos EUA?
Ainda não está totalmente clara qual é a importância da Avon no organograma da Natura, que abarca dezenas de subsidiárias sob o guarda-chuva de outras subsidiárias
O pedido de proteção contra credores (‘Chapter 11’) da Avon Products Inc (API), uma das várias empresas sob o guarda-chuva da holding de beleza Natura (NTCO3), trouxe mais complexidade aos desafios enfrentados pela Natura para se reerguer.
A partir de agora, a holding brasileira vai lidar com um processo de recuperação judicial na Justiça americana, um plano de reestruturação que já incluiu a venda de duas empresas compradas no passado, a integração operacional das marcas Avon e Natura na América Latina e o dia a dia das operações em quase 40 países.
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Ainda não está totalmente clara qual é a importância da API no organograma da Natura &Co, que abarca dezenas de subsidiárias sob o guarda-chuva de outras subsidiárias. A Natura &Co tem reiterado que a Avon Products Inc (API) é uma holding não-operacional, mas a API controla subsidiárias de operações internacionais como Polônia, Filipinas, Reino Unido, Itália e Hungria, como destacou a agência de classificação de risco S&P.
A agência rebaixou a nota de crédito de emissor da API de “BB-” para “D” na semana passada, após o pedido de recuperação da API. A nota de crédito da Avon International Operations Inc, que é controladora direta de parte das operações internacionais, é BB-, com perspectiva estável. A expectativa da S&P é que a dívida da Natura não seja afetada por cláusulas de “default” cruzado ou pagamentos antecipados de dívidas.
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Diante disso, a S&P reiterou na sexta-feira (16) as notas de crédito da Natura &Co em “BB”, em escala global, e “brAAA” em escala nacional, ambas com perspectiva estável. Os analistas da agência afirmam que o pedido de recuperação da API não deve aumentar as obrigações de dívida da Natura &Co, e apontam recuperação de margens nas operações da América Latina com a integração das marcas Natura e Avon.
Por outro lado, as ações judiciais referentes à segurança dos talcos da API aumentaram o risco de governança. “Além disso, os riscos reputacionais de longo prazo podem aumentar, o que pode prejudicar a capacidade da Natura&Co de continuar financiando suas necessidades de dívida a custos de financiamento atrativos, deteriorando vendas e margens”, escreveram.
O desempenho negativo da Avon Internacional foi destacado por analistas em relatórios de bancos de investimentos, após o anúncio do “Chapter 11”. O BB Investimentos afirma que a divisão “tem puxado os resultados da companhia para baixo”, e destacou o processo de reestruturação da API. O banco rebaixou a recomendação para as ações da Natura &Co de estável para venda após os anúncios.
Segundo a analista Andréa Aznar, havia otimismo com a possibilidade de separação (“spin-off”) da Avon Internacional, agora afetado pela suspensão dos estudos. “Apesar de a marca Natura estar performando bem e da companhia apresentar rentabilidade crescente, entendemos que o mercado vai continuar exercendo pressão sobre o papel em função do processo de “Chapter 11” na Avon International, com impacto de forma relevante em seu balanço”, apontou.
O BTG Pactual, cuja recomendação para as ações da Natura &Co é neutra, afirmou que o processo pode “simplificar eventualmente” a estrutura da companhia, considerando a resolução dos processos judiciais relativos ao talco com insumos contaminados nos Estados Unidos, mesmo que no momento o “Chapter 11” adicione mais complexidade à tese de investimento da companhia.
Já a XP Investimentos afirmou que a “simplificação corporativa está chegando ao fim”. A analista Daniella Eiger aponta que, caso o pedido de recuperação voluntária seja aceito em Delaware, dois cenários são possíveis a partir da realização do leilão de ativos: a companhia ficará com a Avon Internacional, sem nenhum risco de litígio, ou uma outra empresa arrematará a Avon Internacional e a holding brasileira ficará apenas com as operações na América Latina.
A XP aponta que a receita líquida da Avon Internacional no segundo trimestre ficou 1,9% acima das estimativas, mas o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou 41,6% aquém das projeções dos analistas.
Na avaliação do Citi, a diretoria da companhia “ainda está hesitante em fornecer qualquer visibilidade sobre o cronograma” do “Chapter 11”, embora os executivos afirmem que o processo parece “menos complexo” do que outros de recuperação judicial na corte americana. “Entendemos que o objetivo final de todo esse processo é liquidar potenciais responsabilidades nos Estados Unidos, como processos sobre talco, e facilitar a cisão da Avon”, escreveram os analistas João Soares e Felipe Reboredo.
Com informações do Valor Econômico