Botafogo, Corinthians e Vasco: o mais do mesmo que não leva a lugares melhores

Três clubes com história e torcida deveriam liderar movimentos de crescimento e reconstrução do futebol brasileiro

Não adianta reclamar quando os clubes que conquistam prêmios seguem sendo os mesmos de sempre - Foto: Vasco da Gama/Divulgação
Não adianta reclamar quando os clubes que conquistam prêmios seguem sendo os mesmos de sempre - Foto: Vasco da Gama/Divulgação

Na semana passada, meu artigo falava sobre a necessidade de entendermos como as coisas funcionam antes de opinar. Parece óbvio, mas sabemos que não é. Especialmente num momento da humanidade em que as melhores fontes de informação são o Tiozão do Zap e um canal do Youtube com alguém vendendo soluções mágicas ou contando segredos de estado que justificam teorias da conspiração baseadas em fatos verídicos do folclore universal. Nada sobre inovação no futebol.

Acontece que no futebol não vemos isto apenas quando se opina ou se discute numa mesa de bar sobre um tema aleatório qualquer.

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Inovação no futebol

A verdade é que mesmo na gestão de clubes e projetos existe enorme falta de conhecimento sobre o tema, e muita gente querendo recriar a roda.

E isso é diferente de inovar. Inovação é fazer melhor algo que que era feito. É aportar melhorias de processos, estruturas, desenvolver formas diferentes de execução que levem a resultados melhores.

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No futebol há muito espaço para evolução em diversas áreas, do próprio jogo ao marketing, passando por comercial, departamento médico, finanças, formação. Mas o que é fundamental, antes de tudo, é entender do que se faz e construir um processo de melhorias.

O futebol brasileiro tem, hoje, três exemplos de posicionamentos e comportamentos que mostram que boa vontade e algum dinheiro, sem conhecimento e planos factíveis, não levará a um resultado positivo.

O que aconteceu com o Corinthians

Vamos começar pelo Corinthians. Um clube capaz de fazer cerca de R$ 900 milhões em receitas, mas que tem dívidas de difícil controle, e cuja nova gestão optou por seguir caminhos completamente distantes do que a realidade impunha.

Mesmo com atrasos de diversas origens, seguiu contratando. Já comentei que a ideia de que é preciso investimentos para ter performance e melhorar desempenho esportivo não é realista, mas o clube preferiu seguir este caminho.

Conseguiu novos contratos comerciais, mas adotou práticas que comprometeram o relacionamento, que culminaram na rescisão contratual.

Abriu mão de um goleiro que era ídolo, mesmo sabendo que o novo titular estava na iminência de deixar o clube.

E recebe dia si, outro também, informações de cobranças, sendo a mais recente de um time mexicano.

Quem acompanha a situação com mais atenção sabia que o comportamento era estranho. No lugar de entrar num processo de controle e austeridade, buscando aumentar eficiência, reforçando departamentos de análise e priorizando reestruturações de dívidas – coisa que disseram estar fazendo nos últimos anos, mas não se vê o resultado – optaram por seguir uma cartilha de cartola, e não d egestão que se precisa em 2024.

O futebol mudou, não dá mais espaço para quem gere como se fazia na década de 80, apoiados em pessoas que não entendem de gestão e de futebol.

Como costumo dizer, aquilo que parece estranho, é estranho mesmo. E aqui temos mais uma confirmação.

O caso do Vasco

Depois, temos o Vasco, mais precisamente a 777 Partners. Caso clássico de grupos que crescem alavancados e criam uma bolha que precisa ser murcha antes de estourar. Grupo que formou um MCO completamente desorganizado e sem critério, combinando operações que não se comunicam, e que demorou para construir uma gestão global centralizada.

Acontece que a bolha estourou, atingida de diversos lados. Primeiro, no exterior, porque está sofrendo uma série de questionamentos sobre sua capacidade financeira, a ponta de não conseguir concretizar a compra do Everton, da Inglaterra.

No Brasil, flechados por uma ação da associação que questiona mais o desempenho esportivo que alguma quebra de contrato. Desempenho esportivo que qualquer um que entende um pouco mais de futebol é construído com o tempo. Ainda mais num clube que precisou se reinventar.

A 777 Partners conseguiu recuperar o Genoa, da Itália, mesmo após um início ruim, com rebaixamento à segunda divisão.

De forma tardia, estruturou uma área esportiva global, mas tem que lidar com a pressa e suposta capacidade de uma associação que trouxe o Vasco à condição atual.

Não era o Pedrinho o presidente, mas foi a associação e seu ambiente político que criaram os problemas. Associação não tem dono, nem cara; é de todos os sócios.

Bofafogo: dívidas elevadas

Por fim, o Botafogo, que tem um dono com jeitão de cartola. Que também construiu um MCO de forma atabalhoada, mal assessorado, que começou com uma participação no Crystal Palace da Inglaterra. Participação que agora ele diz querer vender para comprar um clube capaz de disputar títulos.

Grande incentivo a potencias compradores: anunciar que está vendendo algo que vale pouco. Isso é inovação no futebol?

Mesmo com melhorias no Botafogo, ainda segue um negócio com dívidas elevadas, operando com prejuízo, e seu dono resolveu salvar o futebol brasileiro falando em manipulações de resultados.

E ainda usa inteligência artificial para isso. Olha que coisa bacana: usar algo supostamente inquestionável, moderno, impessoal, para analisar comportamento humano!

Falar sem entender de futebol

Falar de resultados manipulados sem entender a dinâmica do futebol, a qualidade técnica dos atletas, o efeito psicológico num determinado momento, e o próprio risco de falha, natural em todo ser humano, mostra apenas que falta entendimento do negócio em que se está metido.

E falta alguém para dizer “Para, respira. Senta aqui que eu te explico como funciona o futebol”.

Agora, depois de um bom tempo, a Eagle tem um gestor que vem do futebol, mas que levará um bom tempo para organizar um ativo que tem o personalismo dos cartolas dos anos 70 e 80 comando a estrutura.

Três clubes com história e torcida deveriam liderar movimentos de crescimento e reconstrução da inovação do futebol brasileiro.

Mas que se perdem porque seus dirigentes não entendem do negócio. São times que não sabem que caminho tomar, e no lugar da inovação, optam pelo atraso de fazer mais do mesmo.

Não adianta reclamar quando os clubes que conquistam prêmios seguem sendo os mesmos de sempre.

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