Icônica marca Tupperware pede recuperação judicial nos Estados Unidos

Empresa famosa por seu modelo agressivo de venda direta vem sofrendo com digitalização do comércio e concorrência chinesa

Logo da fabricante de utensílios domésticos Tupperware. Foto: Rafael Henrique/SOPA Images/Reuters
Logo da fabricante de utensílios domésticos Tupperware. Foto: Rafael Henrique/SOPA Images/Reuters

A Tupperware (TUP), marca pioneira de recipientes plásticos e por décadas sinônimo de venda direta para donas de casa, entrou com pedido de recuperação judicial (chapter 11) no final da tarde de ontem, terça-feira (17), nos Estados Unidos.

O pedido foi protocolado no Tribunal de Falências dos EUA, em Delaware.

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A recuperação judicial, assim, é mais um capítulo na dura luta da empresa contra as dívidas e as vendas continuamente fracas.

A empresa vem há alguns anos sofrendo com o processo de digitalização do comércio de utensílios domésticos. E, sobretudo, a concorrência com fabricantes e sites chineses, como Alibaba e Shopee.

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Ímpeto de credores

No pedido, a Tupperware aponta que pretende usar o recurso da proteção judicial para suspender o ímpeto de seus credores.

Ao mesmo tempo, tentará encontrar um comprador pelo mercado, alguém com caixa e interesse para manter viva a marca septuagenária.

“Nos últimos anos, a posição financeira da empresa foi severamente impactada pelo desafiador ambiente macroeconômico”, disse a presidente-executiva Laurie Ann Goldman, em nota divulgada à imprensa.

Tupperware: empresa de 78 anos

A Tupperware foi fundada em 1946, há 78 anos, por Earl Tupper. O norte-americano era um químico e projetou recipientes plásticos herméticos para ajudar as famílias a economizarem dinheiro na escassez do pós-guerra.

A empresa tornou-se mundialmente famosa não apenas por seus recipientes originais. Também ajudou a disseminar um agressivo modelo de marketing de vendas diretas que ganhou o mundo.

Tupperware no Brasil

No Brasil, a marca desembarcou na segunda metade dos anos 1970. Aqui, a Tupperware sempre contou com um exército de revendedoras independentes. Elas exibiam e testavam os produtos em igrejas, centros comunitários e casas de amigas nas chamadas reuniões de Tupperware.

Mas, nos últimos anos, principalmente da pandemia para cá, as reuniões desapareceram, as vendas despencaram e a empresa passou a enfrentar desafios contínuos de liquidez.

Sofre com o aumento da concorrência e enfraquecimento da demanda por seus principais produtos plásticos.

Dívida bilionária

Para piorar, a empresa emitiu uma série de bonds no mercado nos últimos anos. No total, sua massa de dívida acumulada chegou a pouco mais de US$ 700 milhões (aproximadamente R$ 3,86 bilhões).

Com as ações negociadas a US$ 0,50, o valor de mercado desceu ontem a US$ 23,73 milhões, quando a Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) interrompeu a negociação dos papéis.

Mercado já contava com o pior

De forma geral, o processo de recuperação judicial da empresa não pegou ninguém de surpresa. Aliás, até surpreendeu positivamente. Isso porque desde segunda, após matéria da Bloomberg, a expectativa era de que a empresa poderia entrar em falência imediatamente.

No ano passado, a empresa fez mudanças em sua equipe de gestão. Substitui o CEO Miguel Fernandez. No lugar, nomeou Laurie Ann Goldman.

Em março último, a nova executiva da Tupperware afirmou que atrasaria a divulgação de seu balanço financeiro referente ao período de 2023.

Na ocasião, ela informou que problemas internos, principalmente com a administração de suas dívidas, motivavam a decisão.

Em junho, a companhia soltou um comunicado adiantando o fechamento de sua única fábrica nos Estados Unidos. Demitiu nesse processo quase 150 funcionários.

O último relatório da empresa data do terceiro trimestre de 2023. Nele, a Tupperware relatou receita de US$ 259,6 milhões para o período encerrado em 30 de setembro de 2023, queda de 14% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Seu prejuízo líquido foi de US$ 55,8 milhões no trimestre.

Tupperware não se reinventou

Para a especialista em vendas e canais de distribuição, Tania Zahar Miné, a empresa falhou em seu processo de digitalização das vendas.

“As empresas de venda direta que sobreviveram bem a esse crescimento do e-commerce, dos marketplaces, foram as que conseguiram digitalizar as vendas, protegendo sua base de consultoras”, afirma.

“A Tupperware não parece ter conseguido isso, ao passo que a concorrência com os chineses impactou nesse mercado”, afirma a professora de marketing da ESPM.

Como exemplo de caso de sucesso, ela cita a brasileira Natura e a também americana Mary Kay. “Essas são empresas que estão se reinventando, em termos de inovação de produtos no go to market (canais de venda)”, destaca.

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