Empresa prepara a maior distribuição de dividendos da história do private equity
Belron tem entre seus acionistas BlackRock e o fundo soberano de Cingapura
Uma empresa que tem entre os acionistas Clayton, Dubilier & Rice (CD&R), Hellman & Friedman (H&F), BlackRock e GIC está preparando um dos maiores pagamentos de dividendos financiados por dívida da história do private equity.
A inciativa acontece no momento em que companhias que fazem parte dos portfólios de fundos especializados em aquisições aproveitam uma recuperação dos mercados de dívida para devolver dinheiro aos investidores.
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A Belron, maior empresa de reparos de para-brisas do mundo, está em negociações com credores para levantar US$ 8,1 bilhões via novos bônus e empréstimos. Ela pretende usar o dinheiro para pagar um dividendo de US$ 4,4 bilhões. Isso, a um grupo que inclui firmas de private equity, gestoras de ativos e o fundo soberano de Cingapura. As informações são de reportagem do jornal Financial Times.
A Belron é dona das marcas Safelite nos Estados Unidos e Autoglass no Reino Unido. Tem metade de seu capital controlado pelo conglomerado belga de capital aberto D’Ieteren Group.
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Dividendos financiando por dívida
A distribuição é o maior pagamento de dividendos financiado por dívida recente tentado por uma empresa de private equity. Supera assim os pagamentos feitos a empresas de aquisição pela loja de materiais de escritório Staples. Assim como a gigante europeia de segurança residencial Verisure e a ferrovia Genesee & Wyoming. Os dados são da PitchBook LCD.
A operação acontece no momento em que firmas de aquisições alavancadas lutam para devolver dinheiro aos seus investidores. Isso, já que um ritmo lento de fusões e aquisições vêm limitando a capacidade desses grupos de sair dos investimentos.
Mais de US$ 3 trilhões
A consultoria Bain & Co estima que o setor de private equity investe em um recorde de 28 mil empresas. A somar chega a mais de US$ 3 trilhões. Mas que está mantendo essas companhias por mais tempo do que gostaria.
Os dividendos financiados por dívida têm uma reputação controvertida em Wall Street. As companhias que contraem essas dívidas precisam dedicar uma parte maior de seus fluxos de caixa para os pagamentos de juros. Isso, aumenta a possibilidade de inadimplência em suas obrigações.
Analistas das agências de classificação de crédito Moody’s e S&P Global rebaixaram a Belron para o território “junk” nesta semana.
Mas as empresas com recursos para financiar dividendos aos seus proprietários geralmente apresentam um bom desempenho. Além disso, para os credores são empresas lucrativas o suficiente para cobrir seus pagamentos de juros e reduzir rapidamente sua alavancagem.
Recapitalização via dividendos
Existem dados de “recap de dividendos” (recapitalização via dividendos) limitados. A maioria dos provedores de dados monitoram o tamanho dos empréstimos ou bônus que estão sendo emitidos. Mas não a parcela desse capital que se usa efetivamente para financiar dividendos.
Em muitos casos, incluindo o da Belron, uma grande parcela da dívida é usada para refinanciar obrigações existentes.
Segundo o Financial Times, essa é a maior transação do tipo que eles conseguiram encontrar em seus registros. E, assim, os registros datam de mais de uma década.
O dividendo irá quase dobrar a dívida geral da Belron, de menos de US$ 5 bilhões para quase US$ 9 bilhões. A relação de sua dívida sobre o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) aumentará para cerca de 5,8 no fim do ano, de 3,3 em 2023, segundo a S&P.
Dividendos vão gerar grandes retornos
Os bilhões de euros que deverão ser pagos em dividendos aos proprietários da Belron gerarão grandes retornos iniciais para uma transação observada de perto, realizada no auge do boom da realização de negócios em 2021, quando as gestoras de private equity estavam pagando preços altos para comprar empresas.
A CD&R comprou uma participação de 40% na Belron da D’Ieteren a um “valuation” de US$ 3 bilhões em 2018, mas retirou seu investimento inicial em um acordo complexo em 2021. Esse acordo avaliou a companhia de reparos de para-brisas em impressionantes US$ 21 bilhões, sete vezes o que ela pagou três anos antes, devido ao aumento dos lucros operacionais.
Mas a CD&R estava interessada em manter um investimento na empresa e criou um fundo especial conhecido como veículo de continuação para comprar parte da Belron de seu principal veículo de private equity.
O novo fundo, CD&R Value Building Partners, comprou uma participação de mais de 20% na Belron, enquanto a H&F, a GIC e a BlackRock juntas compraram uma participação de mais de 15% que ajudou a confirmar esse “valuation”.
Se a operação dos dividendos for concluída, os investidores que entraram na empresa em 2021 terão tido 35% de seu capital original retornado via dividendos sem ter vendido nenhuma de suas participações.
Esses retornos tornariam a Belron uma exceção entre uma onda recente de negócios de private equity firmados em 2021, em que pouco capital foi retornado.
Segundo o Financial Times, CR&R, D’Ieteren Group, BlackRock, Belron e GIC não quiseram comentar o caso.
Com informações do Valor Econômico.