‘O melhor sócio é aquele que tem paixão pelos problemas, não pelas soluções’, diz Paulo Costa, CEO do Cubo Itaú

Aos 9 anos, hub muda e também vê mudanças no comportamento dos novos empreendedores

Paulo, CEO do Cubo
Paulo, CEO do Cubo

O Cubo Itaú está completando 9 anos, como um hub para startups, ou seja, um ponto de apoio para empreendedores que queiram fazer conexões. De lá para cá, muita coisa mudou. A sede é quatro vezes maior, há novas divisões na estrutura. “As startups que nos procuram estão buscando principalmente acesso a mercado, conhecimento, capital e talento”, afirmou o CEO do Cubo Itaú, Paulo Costa, para a Inteligência Financeira. Abaixo você confere os principais trechos da conversa que tivemos com ele:

O Cubo Itaú tem 9 anos. O que mudou no hub de lá para cá?

A principal mudança no Cubo Itaú foi a evolução. Em 2015, nascemos com uma tese focada em densidade física, um dos cinco pilares que integram a sustentação do ecossistema de startups – talentos, cultura, capital, regulatório e densidade. Atacando a densidade, pudemos gerar as pontes e conexões para resolução de dores dos outros pilares. Isso deu muito certo, a ponto de, em 2018, mudarmos para uma sede quatro vezes maior que a anterior e, em 2019, termos um ápice de materialização dessa tese. Em 2021, em um processo acelerado por conta da pandemia, tivemos que nos reinventar com a nossa própria transformação digital.

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Vocês ainda captam novos empreendedores?

O Cubo Itaú, então, é um hub omnicanal, não só físico, com uma plataforma digital na qual os membros da comunidade podem se conectar 24×7, de qualquer lugar do mundo. Essa transformação potencializou o alcance e a opcionalidade para conexões de negócio – somos um hub always on. Estamos sempre trazendo novas startups, nosso processo de seleção de curadoria está sempre ligado, o que nos permite ter um portfólio de soluções dinâmico para o mercado. Do lado de corporações, evoluímos também cada vez mais com a estratégia de hubs, com exemplos como Cubo Agro, Cubo Construliving e Cubo Maritime & Port, trazendo profundidade para assuntos de indústrias e setores-chave da economia.

O que mudou nas startups em quase uma década do Cubo Itaú?

A maturidade das empresas. Até mesmo em relação a saber o que é uma startup e quais são suas prioridades em diferentes estágios. A difusão de conhecimento foi muito importante para essa evolução. O próprio Cubo foi um grande centro de compartilhamento de conteúdos sobre empreendedorismo, benchmarks, boas práticas, experiências que deram certo e as que não deram certo também. Com o conhecimento mais disponível e tecnologia mais acessível, há uma agilidade mais visível, tanto na criação de startups, como na capacidade delas de resolver problemas reais do mundo real. Podemos considerar a maturidade do empreendedor como um dos fatores mais importantes nesses 9 anos e o Cubo foi um dos vetores dessa transformação.

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O conceito de startup mudou?

O conceito de startup não mudou. Startup continua sendo uma empresa inovadora que resolve um problema real da sociedade. Um negócio escalável que, por meio da tecnologia, oferece uma solução de um problema de forma replicável, one to many – um para milhares ou milhões. São soluções com risco atrelado, que têm também muita agilidade, mudando de direção de acordo com o fit de mercado de uma maneira rápida.

O que é uma startup visionária?

Os empreendedores são sempre muito visionários na criação de suas empresas. Mas aquelas startups que estão mais focadas nos problemas estruturais da nossa sociedade, que vão trazer uma transformação relevante, como as startups focadas em ESG, que têm sonho grande de fazer uma vida melhor para as pessoas por meio dos seus negócios e ainda terem lucro com isso, essas são as mais visionárias.

Como fazer parte do Cubo Itaú?

O Cubo Itau tem um processo de seleção de startups always on. Um processo que avalia a capacidade de receita, tração no mercado, organização societária das empresas e se têm capacidade para receber investimento. Precisam ser produtos prontos para o mercado, escaláveis, com tecnologia própria e pelo menos R$ 1 milhão de receita ao ano.

Outro ponto é o grupo de founders, a maturidade dos empreendedores e o fit cultural da startup com o Cubo. Nós não somos um espaço físico de trabalho, somos uma comunidade de empreendedores, um hub de oportunidades de negócios e o fit, até para ajudar a construir essa comunidade, é captado nesse processo de seleção. É um processo dinâmico e está sempre aberto. A aplicação é feita em nosso site e, dentro dos critérios buscados, as startups são convidadas para o pitch.

Por que fazer parte do Cubo Itaú? O que se ganha com isso?

As startups que nos procuram estão buscando principalmente acesso a mercado, conhecimento, capital e talento. E elas confiam no Cubo como uma dessas plataformas, principalmente de crescimento. O time Cubo e a própria comunidade trabalham fortemente para gerar oportunidades para que a startup se desenvolva nessas frentes e, de fato, cresça com apoio da nossa plataforma.

Quando o empreendedor deve saber que está no caminho certo?

Nada mais real para saber se a startup está no caminho do que o cliente. Se temos uma solução, uma empresa, uma tecnologia, um produto que resolve um problema real e tem cliente que pague por isso, esse é o caminho certo. É preciso levar em conta, também, outras métricas de crescimento, o que se busca em um determinado período e considerar, por exemplo, se é uma estratégia de ocupação de mercado ou criação de valor. Tem uma série de outros olhares que vão inferir no tamanho de crescimento de uma startup, o tempo de crescimento, em qual janela de tempo ele deve acontecer, mas cliente, de fato, é o mais importante para saber se estamos no caminho certo.

E quando ele sabe que fracassou?

É preciso entender muito bem o que se considera como fracasso. Às vezes, a empresa tem clientes e pode vender muito, mas se não tem margem de precificação, não sobrevive. Um sinal importante que vemos aqui no Cubo Itaú são os fundamentos financeiros e de gestão de crescimento, apoiados nas análises de clientes e vendas. E, obviamente, se a empresa não tem clientes ou eles não querem os produtos e serviços, a possibilidade de fracasso é maior.

O que mais derruba um empreendedor?

Esse é um fator muito individual. Depende da característica e até da maturidade do empreendedor. O empreendedor, por natureza, precisa ser resiliente. Ele tem que entender que a jornada não vai ser sempre para cima, ela vai ter altos e baixos, principalmente na introdução do produto no mercado. Tem a fase de estar apaixonado pelo produto, depois o choque de realidade de adoção do mercado, então, uma queda de envolvimento. E, nesse momento, é preciso buscar a melhor solução do problema e ter resiliência. Isso é o que difere os grandes empreendedores dos que vão parar no meio do caminho. Ter um olhar de resiliência nos momentos de baixa e também entender o limite de tentar ou desistir são fatores-chave.

O que mais puxa ele para cima?

O que puxa para cima é, justamente, encontrar o caminho da resiliência, achar um sinal que se está no caminho, visualizar a reação do mercado, a forma como a sociedade recebe e percebe o produto que ele criou. Outro ponto é ter um time comprometido com o produto ou com a solução, ainda que o mercado não esteja entendendo ou consumindo em volume. Ter confiança e segurança no time e sócios ajuda o empreendedor a passar pela jornada, que é muito difícil.

Qual é o melhor sócio de um empreendedor?

Sociedade tem relação com compromisso, não só nos momentos de alta, mas também de baixa. Precisa ter comprometimento e uma paixão pelos problemas e não pelas soluções. A organização precisa estar apaixonada pelo problema que estão resolvendo e não pelo produto que eles criaram para resolver o problema, isso é fundamental. Sócios não podem ter egos, não podem se apropriar da parte do sucesso, com agendas individuais. A honestidade e a confiança um com o outro é ideal. A habilidade A ou B depende da indústria e mercado de atuação. A paixão precisa ser homogênea. Se isso for diferente pode haver um risco de ruptura. E a missão conectada com a ambição é muito importante.

O que é ter inteligência financeira para uma startup?

Esse é um momento que exige muita inteligência financeira para os empreendedores de startups. Tivemos muita euforia em 2020 e 2021, de crescimento a todo custo e ocupação de mercado. Quando temos um aumento de escassez, como o que vivemos agora em termos de venture capital, se destacam os empreendedores que têm o domínio dos fundamentos financeiros, podendo até atrair mais capital, já que os investidores, nesse momento, não estão atrás de crescimento a todo custo. Eles querem investir em teses mais sólidas e coerentes em relação às margens e orçamentos, com bastante raciocínio de modelo de negócio, aderência e recursos disponíveis. Demonstrar essa inteligência financeira é essencial dentro – e fora do Cubo Itaú.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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