Cai número de fusões e aquisições mencionadas em demonstrações contábeis, aponta Ibracon
Menções e comentários sobre temas relacionados a fusões e aquisições caíram nas demonstrações contábeis de 2023, quando analisados os relatórios do auditores externos que acompanham esses documentos divulgados pelas empresas de capital aberto. “Isso evidencia uma mudança relevante no ambiente econômico”, diz Martha Bianchi, coordenadora da pesquisa do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). […]
Menções e comentários sobre temas relacionados a fusões e aquisições caíram nas demonstrações contábeis de 2023, quando analisados os relatórios do auditores externos que acompanham esses documentos divulgados pelas empresas de capital aberto. “Isso evidencia uma mudança relevante no ambiente econômico”, diz Martha Bianchi, coordenadora da pesquisa do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).
Levantamento do instituto analisou demonstrações financeiras entregues até 31 de março de empresas com exercício social encerrado em 31 de dezembro, que constavam do Índice Brasil 100 (IBrX 100) entre setembro e dezembro. Ao todo, foram vistos relatórios de auditoria de 96 companhias.
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O tema apareceu apenas dez vezes entre os chamados principais assuntos de auditoria (PAA) analisados pela entidade, contra 21 na pesquisa feita sobre os relatórios de 2022 e 2021, caindo do 5º tema mais citado para o 7º na pesquisa.
Reportagem recente feita pelo Valor, usando dados da Dealogic, mostram que, em 2024, já foram anunciados R$ 195 bilhões em operações de fusões e aquisições até o início de outubro, um avanço de 56% ante o mesmo período do ano passado. Mesmo com a melhora dos volumes financeiros, a queda ainda é representativa em relação aos números de 2021 e 2022.
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Infraestrutura e óleo e gás
O cenário macroeconômico desfavorável, com juros elevados, além da escassez de ofertas de abertura de capital em bolsa explicam a “seca” nas operações desse tipo. Os setores de infraestrutura e de óleo e gás são dois que ainda se mantêm mais ativos.
Testes de valor recuperável de ativos não financeiros, conhecido pelo termo em inglês “impairment”, mantiveram-se como o tema mais frequente que apareceu nos relatórios de PAA nas demonstrações contábeis de 2023, com 42 menções, praticamente estável contra as 45 menções em 2022, mostra o levantamento do Ibracon.
Esses testes têm que ser feitos pelas empresas pelo menos uma vez por ano para “validar” os números do imobilizado. A redução ao valor recuperável de ativo também é um termômetro de piora no ambiente econômico. Um dos gatilhos para o “impairment” é a queda do valor de mercado da empresa.
“Os relatórios de PAA representaram uma evolução na forma como o auditor conversa com o mercado e evidencia os temas de maior importância nas demonstrações financeiras”, diz Rogério Mota, diretor técnico do Ibracon, em entrevista ao Valor.
Ao todo, apareceram 235 itens classificados como PAA nas demonstrações financeiras analisadas pelo Ibracon na pesquisa, uma média de 2,45 por empresa. Na comparação com o levantamento do ano passado, houve queda de 6,74%, foram 252 aparições de PAA nos relatórios de auditoria.
Sustentabilidade e inteligência artificial
Para Mota, o levantamento é importante porque mostra a mudança de temas relevantes da economia brasileira. “Vimos uma queda nas menções de combinação de negócios e pode ser que, no futuro, temas como sustentabilidade e inteligência artificial apareçam com mais força.”
Os três principais temas tratados pelos auditores se mantiveram praticamente estáveis entre as pesquisas. Os “impairments” foram citados 42 vezes como PAA, enquanto receitas ficaram em segundo lugar, com 34, e provisões e contingências ficaram em terceiro, com 29 menções.
“São temas que se mantêm constantes por causa da complexidade do ambiente de negócios do Brasil, com especificidades econômicas e regulatórias que não existem em outras jurisdições que também lançam esses relatórios”, diz o diretor técnico do Ibracon.
Segundo Bianchi, setorialmente, há movimentos importantes, com empresas de saúde analisadas, por exemplo, mostrando uma média de 3,2 assuntos por relatório, acima da média geral, com concentração em “impairment”, provisões e a adoção do CPC 50, que mudou a contabilização de contratos de seguro.
“Por meio dos PAA, é possível conhecer práticas comuns ao setor, como mudanças nas regras contábeis, reconhecimento de receitas e auxilia o investidor a compreender as contas e valores divulgados pelas companhias”, diz a responsável pela pesquisa do Ibracon.
Para os próximos anos, o objetivo da entidade é tentar expandir o escopo da pesquisa para incluir outras empresas que estão fora dos principais índices de mercado, que acabam não tendo tanta visibilidade, como forma de avaliar se os temas tratados pela auditoria são os mesmos.
A entidade defende que a maior adoção dos PAA é importante para desmistificar a atuação da auditoria perante o mercado e também mostrar tendências que os auditores apontam nas demonstrações financeiras. “Auditoria é baseada em avaliação de risco e isso ajuda o investidor a tomar decisões mais estruturadas”, diz Mota.
*Com informações do Valor Econômico