Por que Bradesco (BBDC4), Nubank (ROXO34) e mais fintechs brasileiras apostam em expansão para o México?

Segunda maior economia da América Latina, o país já seria um destino óbvio pelo tamanho do mercado, mas outros fatores também o tornam atrativo

Logo do Bradesco (BBDC3; BBDC4). Foto: Sheldon Cooper/SOPA Images/Reuters

Fintechs brasileiras — e mesmo bancos tradicionais — têm apostado na expansão para o México. Segunda maior economia da América Latina, o país já seria um destino óbvio pelo tamanho do mercado, mas outros fatores também o tornam atrativo.

O México tem se beneficiado da estratégia dos EUA de “nearshoring” (realocação das cadeias produtivas para mais perto dos mercados consumidores), a agenda regulatória do setor financeiro está começando a avançar com mais força e a população ainda é bastante desbancarizada, o que significa um enorme potencial de crescimento.

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Ao mesmo tempo, o uso do dinheiro físico ainda é muito forte, por questões culturais — o que pode ser um dificultador, mas também abre oportunidades.

Bradesco, Nubank e mais

O Nubank (ROXO34), que entrou com pedido de licença bancária no México no ano passado, elencou o avanço no país entre as prioridades para 2024. O Mercado Pago — que, apesar de ser argentino, tem sua maior operação no Brasil — ingressou com solicitação de licença bancária em maio e também destacou o mercado mexicano como uma importante frente de crescimento.

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Entre os bancos tradicionais, o Bradesco (BBDC4) já tinha uma operação de cartões no país e resolveu ampliá-la em 2022, com a compra de uma financeira mexicana, que só foi aprovada em fevereiro deste ano.

De acordo com relatório feito pela companhia de inovação Finnovista em parceria com a Visa, no fim do ano passado havia 773 fintechs locais no México, enquanto em 2019 eram apenas 394.

O documento indica ainda a existência de mais 217 fintechs estrangeiras, oriundas principalmente dos Estados Unidos, Chile, Colômbia e Argentina.

Entre os segmentos de atuação mais representativos entre as startups locais, aparecem empréstimos; pagamentos e remessas; e tecnologia para instituições financeiras.

Cerca de 60% das fintechs têm seus produtos e serviços voltados para o mercado entre empresas (B2B).

Outro levantamento, do Bank of America (BofA) com base em dados do Sensor Tower, mostrou que o México tem aproximadamente 19 milhões de usuários ativos de neobancos, o que representa cerca de 15% da população.

O patamar é similar ao registrado no Brasil em 2018 — aqui o percentual subiu para cerca de 80% em 2021, se estabilizando desde então.

Apesar das semelhanças entre os cenários brasileiro e mexicano, os analistas do BofA também destacam que há diferenças relevantes.

Elas estão relacionadas, por exemplo, ao ritmo de crescimento mais lento da utilização dessas fintechs no México e maior nível de concentração.

De acordo com os dados, Mercado Pago e Nubank representam, juntos, cerca de 60% dos usuários. Na sequência, aparecem PayPal, Spin e Hey Banco.

Internacionalização

O México representa uma “oportunidade quase perfeita” para fintechs e bancos brasileiros que buscam a internacionalização, diz Daniela Dutra, líder de soluções para bancos da Capgemini.

Isso por reunir características como relativa estabilidade econômica, baixa bancarização e abertura mais recente do sistema financeiro, o que se reflete também em pouca concorrência global.

Ao mesmo tempo, o nível de crédito em relação ao PIB é quase metade do observado no Brasil.

Apesar das oportunidades que o México agrega para empresas de fora, há também desafios, como relacionados à compreensão do comportamento do consumidor.

“O nível de educação financeira é baixo e, pela pouca bancarização, muita gente não tem histórico de crédito, o que torna a concessão mais difícil. Faltam dados também em relação a fraudes”, observa Dutra.

Foto: Divulgação
Fachada da sede do Nubank (ROXO34). Foto: Divulgação

‘Enorme potencial’

Em entrevista ao Valor, Cristina Junqueira, cofundadora e diretora de crescimento do Nubank, diz que o México conta com um PIB per capita aproximadamente 30% maior que o do Brasil e apresenta uma baixa taxa de inclusão financeira, uma grande lacuna que o banco vê como potencial de transformação.

O “roxinho” já investiu mais de US$ 1,4 bilhão lá e alcança atualmente uma base de 7 milhões de clientes. “O México é nossa prioridade número um para este ano. Temos o objetivo de continuar expandindo nossa base de clientes e contribuir significativamente para a inclusão financeira dos mexicano.”

Ela lembra que, para quem está acostumado com a realidade brasileira, onde o mercado já está bem digitalizado com o Pix, vale destacar que cerca de 82% da população na América Latina ainda prefere usar dinheiro como método de pagamento.

Por outro lado, a adoção de smartphones na região deve crescer de 79% em 2022 para 93% em 2030. “Mesmo com suas particularidades, essa conectividade abre um enorme potencial. E é exatamente aí que entram as inovações como pagamentos instantâneos e open banking, que têm tudo para transformar o cenário financeiro no México.”

Crescimento acelerado

Em entrevista ao Valor neste mês, o vice-presidente sênior do Mercado Pago, André Chaves, defendeu que o ponto de partida da instituição no México é sólido justamente devido à experiência da companhia no e-commerce.

Como o nível de bancarização é baixo, enxergar o comportamento do consumidor para além da transação bancária é um diferencial, explicou. Ele disse ainda que, no país, o grande concorrente é o dinheiro em espécie, por isso, há espaço para o crescimento de diversas instituições.

“Tem tanto ‘mar aberto’ que acho que os dois conseguem crescer a taxas muito aceleradas sem se pisar. Dito isso, obviamente quero ser o que cresce mais”, disse em referência ao Nubank.

Daniel Berman, diretor de vendas da Capgemini Brasil, afirma que, no México, o processo de inovação no segmento financeiro se deu de forma mais lenta do que no Brasil e que lá as fintechs enfrentam mais dificuldade de acesso a capital.

De acordo com dados da Finnovista, o segundo principal desafio relatado pelos neobancos locais é acesso a financiamento. O primeiro está relacionado a escalar e internacionalizar operações.

O marco regulatório das fintechs no México, implementado em 2018, é considerado um avanço importante para o segmento no país, embora ainda haja pontos que precisam de detalhamento, diz Brunno Morette, sócio em direito societário e aquisições no Cascione Advogados.

“As atividades permitidas ainda não são tão amplas e faltam regulamentações específicas”, explica. Apesar disso, o Banco Central do México (Banxico) e a Comissão Nacional Bancária e de Valores (CNBV) acompanham o tema e são esperadas inovações à frente.

Morette observa ainda, que, até pelo porte do Brasil, é natural que as empresas olhem primeiro para o mercado interno, para só depois buscar expansão. No caso dos neobancos, no entanto, essa lógica muda um pouco. “Para fintechs, o movimento de internacionalização é mais fácil e rápido. E é comum que olhem primeiro para os países vizinhos ou da região.”

‘Muitas oportunidades’

Entre as brasileiras que se interessam pelo México está a Dock, que em 2021 comprou a Cacao, empresa mexicana voltada a soluções em processamento de cartões. Plataforma de pagamentos e banking para diferentes empresas, a companhia está presente em 11 países da América Latina e tem hoje cerca de 40 clientes no México, o que representa 10% do total.

“Lá atrás já tínhamos essa visão de que seria um mercado com muitas oportunidades. Acompanhamos todo o movimento regulatório e ficamos felizes de termos nos antecipado”, afirma Anderson Olivares, gerente geral para a América Latina da Dock, que vive no México.

Olivares afirma que há uma sinergia entre as atuações da empresa no Brasil e no México e muita coisa pode ser replicada. A grande diferença, acrescenta, está no momento regulatório de cada lugar. Aqui, uma das formas de a Dock atuar é “emprestando” sua licença bancária para outras empresas, modelo conhecido como “banking as a service” (BaaS).

No México, esse formato ainda não é reconhecido pelo regulador e, portanto, cada cliente precisa ter suas próprias licenças. A fintech pode, no entanto, emprestar seu relacionamento com as bandeiras para emissão de cartões. “Mas a agenda do BC para aumentar a concorrência está avançando também no México”, acrescenta.

Bancões

Se para as fintechs o mercado mexicano é relativamente novo, o mesmo não é verdade para os bancos tradicionais. O setor é dominado por players estrangeiros, como Citi, BBVA, Santander e HSBC. Ainda assim, o bom momento tem renovado o interesse de alguns participantes.

O Bradesco tem uma operação de cartões de crédito por lá desde 2010, mas há dois anos anunciou a compra de uma sociedade financeira popular (Sofipo), parecida com a licença de financeira no Brasil. Na ocasião, tinha cerca de 3 milhões de clientes e chegou a dizer que o objetivo era pelo menos dobrar essa base de usuários e multiplicar a carteira por quatro em cinco anos.

Alexandre Monteiro, diretor da Bradescard México, diz que em um primeiro momento o banco acreditou que a aprovação do negócio poderia ser mais rápida, e que acabou desenvolvendo sistemas novos, em vez de escalar o que encontrou na Sofipo.

“Essas metas que a gente comentou na ocasião eram para quando já tivéssemos lançado a conta digital. Nosso objetivo continua sendo crescer bastante. Estamos desenvolvendo novas plataformas para que possamos competir com os principais jogadores, queremos oferecer uma jornada de excelência para o cliente”. Ele diz que atualmente a base tem 3,2 milhões de cartões e que o portfóflio de crédito cresceu 15% nos últimos 12 meses, bem acima da inflação, de 4,5%.

Para ele, se hoje o mercado bancário mexicano se assemelha ao que havia no Brasil há cinco ou dez anos, essa diferença tende a diminuir. “O México começou algumas voltas atrás, mas essa diferença vai diminuir ao longo do tempo. Está acontecendo uma mudança cultural, os jovens já abrem contas digitais, dificilmente vão a uma agência”, conta. Ele mora em Guadalajara, onde fica a sede da Bradescard.

Quem também observa a mudança pela qual passa o mercado mexicano é Carolina Fera, vice-presidente de serviços financeiros da fintech local Clip, que atua com adquirência. Brasileira, ela foi contratada pela Clip para ajudar a expandir a oferta, incluindo contas para pequenas empresas.

“A General Atlantic começou a aumentar seus investimentos no México e procurou no Brasil alguns executivos, já que é o mercado mais avançado da América Latina. Foi assim que vim para o México. Acho que os avanços brasileiros influenciaram a regulação na região como um todo”, conta.

Ainda assim, ela aponta que os sistemas CoDi (de “Cobro Digital”), de pagamentos, lançado em 2019, e DiMo (“Dinero Móvil”), de transferências instantâneas, que entrou em vigor em 2023, poderiam passar por alguns aprimoramentos para terem uma popularização mais rápida como o Pix. “Quase 70% das transações no mercado mexicano ainda são em dinheiro vivo.

A jornada desses sistemas não é tão amigável quanto o Pix, só pode ser cadastrado um tipo de chave”. Ela ressalta que a facilidade trazida pela tecnologia é importante, mas também é preciso olhar para a realidade local. “Acho que querer ter um modelo de ‘full’ digital pode ser um risco.

Não dá para sair do zero direto para o 100%. O relacionamento humano, o atendimento físico, ainda são muito importantes por aqui”.

Com informações do Valor Econômico

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