All in no futebol: como o tudo ou nada interfere no futebol brasileiro
Controlar os clubes através de regras duras é uma forma eficiente de obrigar os clubes a se equilibrarem
Iniciando a contagem regressiva para 2024, temos a penúltima coluna do ano, na expectativa do Mundial de Clubes, última competição do ano, que chega depois das definições da fase de grupos das competições europeias. Enquanto a ceia está sendo planejada, vamos falar de uma prática comum nos clubes de futebol, e que remete ao poker: o all in.
O que é o all in no futebol?
Para quem não sabe, all in é a ação de apostar todas as suas fichas numa única rodada. Quem acompanha é obrigado a tomar a mesma decisão. Ou seja, ganha muito ou perde-se tudo.
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Considerando que existe uma boa correlação entre dinheiro e conquistas, clubes com receitas em patamares abaixo dos maiores acabam se valendo dessa estratégia para tentarem ser competitivos e conquistarem títulos.
A lógica do all in no futebol, além de uma conquista épica, que garante aos dirigentes muitas fotos e postagens em redes sociais, e a glória eterna nos braços do torcedor, é de que a conquista trará mais dinheiro, pois o futebol tem premiado cada vez mais a performance esportiva.
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Imagine, então, um dirigente que sabe que vai passar 3 ou 4 anos no ostracismo, porque a estrutura é pouco profissional, incapaz de desenvolver e estruturar formas eficientes de gestão e formação de elenco. Qual a chance de algo diferente? All in!
Contratam muitos nomes de peso, ou apenas muitos nomes. Mesmo que a receita não permita pagar as contas em dia, os atletas são chamados a partilhar o risco, doarem-se um pouco mais, porque a conquista trará o dinheiro que falta no mês.
O que acontece no all in?
Essa história de all in no futebol tem dois finais: ou o clube conquista e isso ajuda a pagar as contas, ou fica pelo caminho, e restam dívidas. Em geral, mais dívidas, porque os clubes que geralmente adotam a estratégia do all in já operam de forma desequilibrada.
O segundo final é líquido e certo, mas o primeiro final passou a ser uma falácia. As conquistas já não reequilibram as contas, pois uma parte importante da premiação é destinada aso atletas. Nada mais justo, afinal, quem fica em situação vulnerável são eles.
Pior: como a situação inicial é ruim, não há premiação que resolva problemas. E a história mostra isso, e se repete como tragédia e depois, farsa. Cruzeiro, Botafogo e Vasco são casos trágicos, e os clubes insistem em repetir a experiência.
Europa também adota o all in
O all in não é uma lógica exclusiva do futebol brasileiro. As segundas divisões das principais ligas da Europa são pródigas nesse tipo de atitude, pois chegar à primeira divisão multiplica as receitas por 3 ou 4 vezes.
Ao mesmo tempo, são 3 os que sobem, o que significa que a grande maioria permanece na segundona e com grandes problemas financeiros.
Este é um problema que precisa ser atacado de forma série pelos órgãos que organizam as competições. Há um incentivo perverso ao gasto, e controles financeiros frouxos.
Reduzir a premiação de algumas competições é necessário.
Incentivar um clube a gastar para conquistar a Copa do Brasil é incentivar o erro. Assim como na Europa, que incentiva clubes a gastarem para conquistar uma vaga na rica Champions League.
Deixar de pagar a parcela de performance para os clubes que caem para a Série B, e não garantir uma regra de paraquedas que ajude a amortecer o impacto da redução de receitas é outro erro.
Controlar os clubes através de regras duras de transfer ban – proibição de contratação de atletas – é uma forma eficiente de obrigar os clubes a se equilibrarem. Atrasou salários? Se endividou além do que é capaz de pagar? Transfer ban!
Darwin no futebol
Ou a solução será dada por Darwin. Veja a dificuldade em recuperação de Cruzeiro, Vasco e Botafogo. Sim, o Botafogo foi bem esportivamente, mas financeiramente segue um caos, e os números escondidos do clube apenas corroboram essa ideia.
Existe alguma chance de mudança por conta própria dos dirigentes? Improvável. Logo, Prêmio Darwin neles!