Por mais mulheres líderes e empreendedoras
É necessário e urgente pensar em formas de reinserção das mulheres, especialmente das mulheres negras, no mercado de trabalho
É fato que a desigualdade no Brasil afeta de maneira dramática as classes mais vulneráveis, porém, há vários fatores que precisam ser levados em consideração neste contexto. Apesar da recente melhora na taxa de desemprego, de 11,1% em dezembro de 2021 para 9,3% em junho passado, especialmente em razão da retomada da atividade econômica após o início da vacinação e a melhora dos índices da pandemia da covid-19, a realidade brasileira ainda é muito dura para a relação das mulheres com o mercado de trabalho.
De modo claro e objetivo, a escassez de empregos é um problema recorrente na sociedade brasileira, que impacta majoritariamente as mulheres, como aponta estudo feito por Janaína Feijo, pesquisadora da FGV, entre 2012 e 2021. O trabalho avalia que a taxa de desemprego entre o público feminino atingiu sua alta histórica no último ano, representando 16,45%. Vale ressaltar, também, que o mesmo levantamento verificou que os menores salários no mercado foram de postos ocupados por mulheres. Reforço a importância, mais uma vez, de todo o histórico de luta de gênero para conquistar o direito ao trabalho e, mais recentemente, aos cargos de liderança.
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Se o recorte por gênero nos mostra um quadro alarmante, quando voltamos a atenção para a questão transversal de gênero e raça, vemos que o cenário é ainda pior. De acordo com os dados coletados pela mesma pesquisadora, as mulheres negras apresentam a menor taxa de participação no mercado em comparação aos demais grupos. Além disso, a informalidade impera entre essas mulheres. No primeiro trimestre de 2022, por exemplo, 43% das mulheres negras ocupadas estavam em postos de trabalho informais, taxa superior à média nacional geral, de 40%, e à dos homens e mulheres brancos e amarelos, que gira em torno de 33%.
Para além da sobrecarga com a jornada diária, entre trabalhos formais, informais e domésticos, as mulheres ainda foram as primeiras a perder seus postos durante a pandemia. No mesmo estudo, estima-se, ainda, que de 480 mil postos com carteira assinada perdidos em 2020, mais de 462 mil eram ocupados por mulheres, ou seja, mais de 96%.
Possibilidades de novos caminhos
É necessário e urgente pensar em formas de reinserção das mulheres, especialmente das mulheres negras, no mercado de trabalho, primeiramente pelo direito à vida digna e, também, para uma economia mais justa. Apesar de todos os desafios, o empreendedorismo no Brasil se apresenta como um modo efetivo de sobrevivência e alternativa frente à desigualdade de gênero no trabalho. De forma prática, atualmente as mulheres são responsáveis por cerca de 34% dos empreendimentos no País, presentes principalmente no setor de serviços, como aponta o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Este número está abaixo do recorde histórico de 34,8%, alcançado no fim de 2019.
A capacitação do público feminino é o ponto inicial para o sucesso de muitos negócios. Nesse sentido, para além de esforços do governo, há também programas da iniciativa privada que visam auxiliar o desenvolvimento de mulheres no empreendedorismo. O Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), por exemplo, é uma ONG voltada para geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social por meio do empreendedorismo. Um dos programas executados pelo instituto é o Elas Digitalizam, projeto que busca auxiliar a empreendedora a entender a transformação, estratégia e modelo digital para seu negócio, possibilitando novos caminhos para a independência financeira.
No mesmo sentido, desde 2013, o programa Itaú Mulher Empreendedora desenvolve iniciativas para inspirar, conectar e fortalecer o empreendedorismo feminino no Brasil. É uma parceria do Itaú com a International Finance Corporation (IFC), membro do Grupo Banco Mundial. Com quase uma década de conquistas, o programa já auxiliou mais de 25 mil mulheres a criar e potencializar negócios próprios. E este número tende a crescer ainda mais, pois somente no ano passado, mais de 180 mil pessoas acessaram os cerca de 800 conteúdos disponíveis voltados a gestão, crescimento e sustentabilidade dos negócios.
A vocês diretamente, mulheres, desejo ainda mais coragem, força, ousadia e sucesso, seja no mercado de trabalho, nos negócios ou onde quer que desejem estar. Somem-se em redes de apoio e iniciativas como a WILL (Women in Leadership in Latin America), da qual tenho muito orgulho de fazer parte e que promove o desenvolvimento de carreira de mulheres na América Latina. Juntas vamos mais longe!