Mercado não comprou ‘juros altos por mais tempo’, diz ex-vice presidente do Fed

Richard Clarida afirma que mercado estima cortes de juros em 2024 e não gosta do 'higher for longer'

Richard Clarida, Global Economic Advisor - PIMCO, durante o evento Macro Vision. Foto: Bufalos
Richard Clarida, Global Economic Advisor - PIMCO, durante o evento Macro Vision. Foto: Bufalos

Desde a última reunião do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, o mercado financeiro americano não comprou a tese de “juros altos por mais tempo”, chamada de “higher for longer” na economia do país. Esta é a avaliação de Richard Clarida, ex-vice presidente do Fed entre 2018 e 2022. O economista participou de palestra no Itaú BBA Macro Vision 2023.

O “higher for longer” tornou-se um mantra entre bancos centrais ao redor do mundo em resposta a uma inflação em alta e persistente, o que vinha ocorrendo nos Estados Unidos. Por lá, o Fed aumentou a taxa de juros para 5,25% a 5,50% ao ano, o maior patamar desde 2008. “Mas o mercado não está acreditando neste mantra”, diz Clarida. As bolsas dos Estados Unidos engataram a melhor sequência de altas desde 2022 até quarta-feira.

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Mercado precifica corte de juros pelo Fed em 2024, diz Clarida

Ao invés de apostar no higher for longer, o mercado coloca as fichas em cortes de juros. A partir de 2024, investidores preveem que o Fed começara um afrouxamento monetário. “Por isso o preço das ações subiu, enquanto a precipitação da curva de juros caiu”, afirma Clarida.

Já para a inflação nos EUA, Clarida afirma que o Fed não deve aterrissar na meta prevista de 2%, pelo menos no curto prazo. “Eu vejo a inflação do país chegando entre 2% e alguma coisa a mais pelos próximos 2 a 3 anos”, pontuou o economista. Esse seria o motivo de o Fed, inclusive, “mirar em um cenário mais longo” para a política monetária.

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Ex-Fed aposta em manutenção dos juros em dezembro

Clarida estima que o Federal Reserve deve manter a taxa de juros no atual patamar em seu próximo encontro em dezembro. O ex-executivo da autoridade monetária acredita que o quadro de diretores do Fed “acredita que encerrou” o ciclo de alta de juros.

Ele também analisa que o Fed deve manter a margem de retorno dos Fed Funds, títulos ligados à dívida do governo dos EUA e inflação, em 4,5%. “Se observamos uma inflação mais comportada entre 2,5% e 2,9% no final do ano que vem, o banco central pode até pensar em cortes nos juros”, completa.

De qualquer forma, Clarida reforça que “o mercado não gosta da política de juros altos por mais tempo”.

‘Trajetória da dívida dos EUA não é sustentável’, diz ex-Fed

Durante encontro no Itaú BBA Macro Vision 2023, Clarida afirmou que está mais “pessimista” com a trajetória da dívida dos Estados Unidos. Ele analisa a atual trajetória das contas do Tesouro norte-americano como “insustentável”.

“Os Estados Unidos está em uma trajetória de dívida insustentável, e eu não estou muito otimista sobre a austeridade fiscal do país”, disse Clarida. Hoje, a relação da dívida para o PIB dos Estados Unidos é de cerca de 119%, segundo dados do próprio Federal Reserve.

Riscos para o mundo e a economia dos EUA

O principal risco para a economia dos Estados Unidos no curto prazo é “uma inflação persistente”, elenca Clarida. Ele explica que a persistência em demanda pode exigir do Fed um aumento na taxa de juros, o que, por sua vez, diminuiria a credibilidade da autoridade monetária.

No cenário internacional, Clarida afirmou, que para mercados emergentes, é “melhor se acostumar com uma China que não seja a locomotiva”. Ele explicou que o país deve desacelerar em crescimento, com queda nas importações de commodities, “fragmentando o mercado”, diz.

Além disso, o especialista afirmou que as guerras na Ucrânia e na Palestina são “riscos para estabilidade global”. A tensão geopolítica na Ásia também é um fator de risco segundo o economista.

Por fim, ele aposta que o Banco da Inglaterra (BoE) será o primeiro banco central entre os órgãos de economias desenvolvidas a cortar a taxa de juros. Outra aposta é de que o banco central do Japão deve aumentar juros em 2024, saindo de uma taxa nominal negativa.

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