Já é hora de comprar ações de tecnologia novamente?
Dados de inflação americana, de mercado de trabalho ou discursos de Powell têm sido mais relevantes do que os resultados das ‘Big Techs’ para responder a esta pergunta
No nosso trabalho como analistas de ações de tecnologia, nos deparamos com inúmeros questionamentos. A bolsa vai cair? Vocês gostam de Microsoft? Por que vocês acreditam que Apple não será um bom investimento? Qual o impacto nas ações da NVIDIA das restrições de vendas de chips do tipo GPU para a China? Qual a melhor oportunidade de investimento em tecnologia no Brasil?
Dentro dessa “enxurrada” de perguntas, uma das mais comuns – seja de pessoas físicas ou clientes institucionais – é se “já é hora de comprar ações de tecnologia novamente?”. A pergunta é tão presente, e a resposta tão importante, que resolvemos dedicar um relatório inteiro para explorá-la. E é com base nele que escrevemos este artigo.
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O macro é “quem manda” no mercado atualmente
Por mais que possamos discorrer sobre aspectos específicos das companhias – o que levaria a conclusões sobre seus resultados ou tendências – o “macro” tem sido o tema dominante na explicação dos movimentos das ações. Nesse sentido, dados de inflação americana, de mercado de trabalho ou discursos de Jerome Powell têm sido muito mais relevantes do que os resultados da Apple, da Amazon ou do Google. Do lado técnico, medimos esse fenômeno por um aumento das correlações entre ações do mesmo tipo. Por exemplo, se analisarmos os retornos das ações de empresas de software, a dispersão dos mesmos diminuiu consideravelmente nos últimos meses.
E o que explica então a queda de diversos papéis? O principal fator é o movimento de aumento de juros. E o “poder” desta variável é simples de se visualizar no gráfico abaixo, que ilustra a taxa de juros dos títulos do tesouro americano de 10 anos e o múltiplo (valor da empresa/receita) das empresas de software americanas (que é uma boa proxy para empresas de tecnologia como um todo).
Depois de um movimento de grande expansão neste múltiplo durante a pandemia, houve uma enorme compressão do mesmo, chegando a patamares abaixo do histórico de longo prazo. Isso veio acompanhado de uma forte subida nas ditas taxas, ao maior patamar em muito tempo. Em resumo, a empresa de software que gerava X de receita anual e valia 10X a um ano passou a valer 5X agora.
Taxa de juros dos títulos do tesouro US-10 anos X Múltiplo das empresas de tecnologia
Então, o que fazer?
Se os movimentos são explicados de maneira relevante pela taxa de 10 anos, a pergunta mais importante passa a ser: o que ocorrerá com ela?
Nós não somos macroeconomistas, portanto os escutamos. A princípio, o consenso é que existem riscos altistas para elas no curto prazo. Porém, se a história serve de algo, é razoável supor que em algum momento haverá uma acomodação das mesmas e um retorno à uma redução nas taxas – como em qualquer ciclo econômico.
Com isso em mente, acreditamos que a resposta à pergunta do título do artigo se encontra no indivíduo, seus objetivos e seus parâmetros de risco. Para facilitar a compreensão, dividimos estes em dois grupos:
Grupo 1: Se você precisar gerar retorno em prazos mais curtos ou tem necessidade de liquidez sobre o montante investido, de tal forma que possa ser forçado a vender num momento específico do tempo (e de curto prazo), nossa recomendação é para que você tenha paciência e não entre nesse mercado! Isso é baseado em dois pontos:
- Se o consenso de mercado estiver correto, as taxas de 10 anos deverão seguir aumentando, o que deveria levar a uma “pernada” adicional de desvalorização no múltiplo das empresas e, por consequências, de seus valores.
- A incerteza em relação à taxa deverá fazer com que a volatilidade de mercado permaneça alta, o que aumenta o risco de se vender num dia/semana/mês desfavorável.
Grupo 2: Se você for um investidor de longo prazo (pelo menos um horizonte de 5 anos), então esta pode ser uma oportunidade atrativa de compra. Isso por alguns motivos:
- É impossível “acertar na mosca”. Nem nós, investidores profissionais, conseguimos acertar exatamente qual o dia perfeito para se comprar uma ação para se carregar pelos próximos anos.
- É razoável supor que num prazo muito longo, exista alguma convergência à média de taxa histórica e, por consequência, de múltiplo das empresas. Esta média (de 10, 12 anos) é superior ao múltiplo negociado hoje.
- O “carrego”, ou seja, o desempenho médio das empresas de tecnologia é superior ao do resto da economia, pelo menos do ponto de vista de crescimento. Como diz o Satya Nadella (CEO da Microsoft), o setor de tecnologia só ganhará participação no PIB. Transformação digital, cybersegurança, comércio eletrônico são alguns temas seculares que suportam a continuidade dessa tese. Portanto, a valorização da ação – medida simplesmente pelo crescimento de receita ou de resultado – deveria ser maior do que a média da economia (que poderia ser representada por um índice de bolsa como o Ibovespa ou o S&P500, por exemplo).
Então fica a dica: organize-se bem e pense nos seus objetivos financeiros! Este passo é fundamental para ganhar dinheiro no mercado de ações, em especial num setor tão interessante e inspirador como o de tecnologia.
Este artigo contou com a valiosa colaboração de Thiago Kapulskis, analista do setor de Tecnologia do Itaú BBA.