Como resultado do IPCA-15 de agosto mexe com as expectativas de alta da Selic?
Prévia da inflação oscilou 0,19% no mês; taxa em 12 meses desacelerou a 4,35%
A desaceleração dos serviços subjacentes e intensivos em mão de obra é a principal notícia do IPCA-15 de agosto. Mas é preciso aguardar novas divulgações para ver se a tendência se firma, avalia a estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo.
Na média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada da corretora, os serviços subjacentes desaceleraram de 5,15% na prévia de julho para 4,72% na de agosto. Já o intensivos em mão de obra passaram de 4,94% para 4,43%.
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“A gente não viu uma descompressão como essa este ano e era até fácil justificar a tendência, se olharmos o comportamento do Caged e o crescimento dos salários reais. Então o dado de hoje é uma notícia postiva, ainda que seja cedo para comemorar”, diz Andrea.
Ela pondera que, de um lado, o movimento nos preços de serviços contou com ajuda da devolução de altas recentes em itens como seguro de automóvel, que podem ter tido relação com as enchentes no Rio Grande do Sul. Por outro, também foi ajudado pela desaceleração em produtos que costumam mostrar grande volatilidade, como cabeleireiro.
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IPCA-15 de agosto
Divulgado mais cedo pelo IBGE, o IPCA-15 mostrou alta de 0,19% em agosto e 4,35% em 12 meses. A variação mensal representa uma desaceleração ante os 0,28% registrados em julho e veio em linha com a mediana de 30 projeções colhidas pelo Valor Data, que tinha intervalo entre 0,09% a 0,29%.
Porém, o dado cheio veio acima da projeção da Warren, de 0,12%, que esperava deflação maior em alimentação em domicílio e passagem aérea. “O número de hoje tira da mesa a deflação de 0,05% que esperávamos para o IPCA fechado de agosto, já que ele repete a leitura de passagens e as coletas mostram que a desaceleração intensa dos alimentos cessou no fim do mês”, comenta Andréa.
“De qualquer forma, acho um dado bom para o BC, que precisaria de algo pior para justificar a aposta de alta mais intensa dos juros.
A leitura da parte de industriais, por sua vez, continuou mais salgada que o previsto, diz a economista, o que deve manter no radar o tema do repasse cambial. Pela métrica dessazonalizada e anualizada de três meses da corretora, os bens industriais passaram de 3,77% para 4,99% e os industriais subjacentes, de 1,90% para 2,44%.
Reduz urgência de alta da Selic
A prévia de julho traz bons sinais sobre a inflação brasileira e dá sustentação à postura do Banco Central de “ganhar tempo” para decidir sobre os próximos passos da política monetária. A avaliação é do economista-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, Rafael Gonçalves Cardoso.
O dado veio ligeiramente acima da projeção do Daycoval, de 0,16%. Contudo, a surpresa ficou concentrada em deflações menores que o esperado em passagens aéreas e alimentação no domicílio.
“A despeito do dado cheio um pouco pior, a parte da inflação que gostaríamos de ver cedendo mais, a de serviços intensivos em trabalho, veio abaixo da nossa projeção. Tínhamos 0,40% e veio 0,24%”, diz Cardoso.
“Foi a menor variação desde novembro do ano passado, então é um refresco. Levando em consideração que é a parte que o Banco Central mais tem dado atenção, porque tem a ver com o mercado de trabalho.”
Outro ponto que chamou atenção foi a parte de industriais, que cujos preços subiram mais que o esperado em julho. E levantaram alerta sobre o repasse cambial. Na prévia de agosto, diz Cardoso, esse temor arrefeceu. Dado que houve variações para ambos os lados, sendo que o principal vetor altista – o etanol – tem menor sensibilidade ao câmbio.
“A parte de produtos de higiene pessoal, que é bem dolarizada, não teve esse impacto. Então diferente do mês passado, que colocou uma pulga atrás da orelha, esse mês não sancionou essa dúvida.”
O economista vai aguardar novas divulgações para ver se a leitura mais benigna de hoje se confirma. Mas vê melhora na inflação corrente. “Ainda que não seja o principal mandato do BC, ela cria um alento e reduz um senso de urgência do aperto monetário. Dá mais tempo ao BC para olhar cenário”, diz.
Com informações do Valor Econômico