É hora para uma virada de chave na alocação do investidor internacional?

A safra de balanços nos EUA é um grande teste para entender até que ponto a desaceleração da economia vem afetando o dia a dia das empresas

- Ilustração: Marcelo Andreguetti/IF
- Ilustração: Marcelo Andreguetti/IF

Na semana passada, escrevi sobre as expectativas acerca da safra de balanços nos EUA – confira aqui. Penso que esse será o foco do mercado por pelo menos essa e a próxima semana.

Isso porque 87% das empresas do S&P 500 reportam os seus números até dia 5 de maio. E a safra de balanços é um grande teste para entender até que ponto a desaceleração da economia afeta o dia a dia das empresas.

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Em linhas gerais, até agora, nesta temporada de resultados nos EUA, cerca de 16% das empresas do S&P 500 relataram resultados, com cerca de 76% superando as expectativas de EPS, mostrando que o pessimismo com os números das empresas talvez já esteja incorporado nos dados. Mas é ainda cedo para afirmar isso.

Como comentei na semana passada, a expectativa do mercado para essa safra de balanços é uma redução de margens de lucratividade após o pico atingido em 2022, algo normal e em linha com a ciclicidade da economia.

No geral, o mercado acredita em crescimento de vendas, mas com lucros menores. Ou seja, menos margens. Por outro lado, os indicadores econômicos seguem mostrando que alguma desaceleração da economia não “casa” muito bem com a ideia de expansão de vendas olhando à frente.

Ao olhar para os dados do ISM Manufacturing Index, considerando a variação de vendas das empresas nos 12 meses subsequentes, notamos que se, de fato, as vendas não avançarem, o impacto em margens de lucro podem ser ainda maior.

O ISM Manufacturing Index é um indicador econômico importante para o nível de atividade econômica no setor manufatureiro nos EUA. Uma leitura acima de 50 pontos indica uma expansão da manufatura dos EUA, enquanto uma leitura abaixo de 50 pontos indica uma contração.

Os dados mais recentes para o ISM Manufacturing Index mostram que a tendência para o ano é de queda na atividade econômica, com a curva ficando próxima dos 50 pontos em 2024.

Quem está certo nessa análise?

Não sabemos ainda, mas me arrisco a dizer que essa será uma semana decisiva para o mercado nesse sentido. Uma coisa chama atenção apesar da recuperação vista até aqui – alta de 16,2% no Nasdaq e de 8,1% no S&P 500 no ano, o percentual de fundos e gestores que estão mais alocados em ações do que em bonds (renda fixa) é o menor desde 2009.

Além dos receios que comentei acima, sobre a perda de margem de lucratividade das empresas nos EUA, no momento atual de mercado a alta dos índices tem sido concentrada em alguns poucos nomes, em especial as ‘big techs’.

Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet, Nvidia, Tesla e Meta juntas somam quase 25% da composição do S&P 500. E suas fortes altas no ano acabam “puxando” o índice para cima.”

Juntas, as ações das ‘big techs’contribuíram para a quase totalidade de alta do índice S&P 500. Ampliando a fotografia, fica mais fácil ver que a alta recente não encontrou suporte no mercado como um todo. Dito de outra forma, se você equalizasse os pesos do S&P 500 (equal index), a alta no ano seria bem menor

E quem investe no mercado americano?

Antes de falar sobre investimentos em renda fixa, vimos mais uma empresa de varejo americana entrar em concordata, a Bed Bath and Beyond (Nasdaq: BBBY).

Você, que investe no mercado americano, pode ficar preocupado com notícias de bancos em momentos turbulentos, agora uma tradicional empresa de varejo em bancarrota. Mas, calma. Na verdade, a situação da empresa já vinha sendo difícil há anos, com declínio de receitas e prejuízos elevados; não por acaso suas ações negociavam a centavos de dólar.

Outro ponto é que, historicamente, o varejo é um setor bastante suscetível a momentos de desaceleração econômica e com elevada volatilidade de resultados.

Enquanto isso, na Renda Fixa

Quem me acompanha por aqui sabe que tenho seguido reforçando nossa preferência de alocação conjuntural em renda fixa versus investimentos em renda variável no exterior.

Isso porque, apesar da queda recente nas taxas dos yields dos títulos de dívida soberanos americanos – especialmente pós-evento da quebra do SVB – ainda assim, as taxas observadas atualmente são as maiores dos últimos 16 anos (desde 2007).

Apesar da queda recente frente aos patamares de 5% atingidos em março, os yields (rendimentos) dos títulos de 2 anos, nesse caso, ainda são bastante elevados quando comparados ao seu histórico.

Além disso, olhando à frente, grande parte do mercado acredita numa normalização de política monetária, entenda-se como uma resposta à desaceleração da economia. Pesquisa do Bank of America Merril Lynch mostra que mais e mais investidores e gestores acreditam em juros menores olhando à frente. E a mesma pesquisa mostra que, desde a crise de 2009, não víamos gestores tão alocados em bonds (renda fixa americana).

Conclusão

Sigo vendo sinais de desaceleração da economia americana e é sempre difícil estimar até que ponto a mesma já está ou não precificada no atual valuation das empresas.

Essa, bem como a pergunta de “quando os juros podem vir a ceder nos EUA”, são questões fundamentais para um verdadeiro turning point de alocação nas carteiras globais.

Por enquanto, ainda me parece uma alternativa mais óbvia buscar rendimentos acima da média nas alternativas disponíveis de renda fixa global e, eventualmente, se aproveitar de fechamentos de curva que gerem impactos positivos de marcação a mercado lá na frente.

Seguimos acompanhando.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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