Grendene fará distribuição bilionária de dividendos represados desde 2016; ações caem
Lucro da fabricantes de calçados caiu 12,1% no 4º tri com menores volumes, mas a companhia está otimista para 2023
O conselho de administração da Grendene (GRND3), dona das marcas Ipanema, Melissa e Rider, aprovou a distribuição de proventos no valor bruto de R$ 568 milhões, relativos ao exercício de 2022. Desse volume R$ 237,5 milhões serão distribuídos como juros sobre capital próprio e os R$ 330,5 milhões restantes serão pagos como dividendos.
Além disso, o conselho também aprovou a distribuição adicional de R$ 1 bilhão em dividendos, relativos ao período entre abril de 2016 e dezembro de 2022. Esse valor se refere à decisão do Tribunal Federal da 5ª Região que reconheceu, em dezembro de 2022, o direito de a empresa não incluir valores correspondentes a benefícios fiscais concedidos pelo estado do Ceará na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Com essa decisão, a empresa recebeu a permissão para distribuir valores que até então estavam reservados.
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Dessa forma, desconsiderando valores que foram antecipados, a Grendene deve pagar R$ 1,1 bilhão em proventos aos seus acionistas, o equivalente ao valor bruto por ação de R$ 1,2357.
Os pagamentos serão feitos a partir do dia 17 de maio, com base na composição acionária do dia 02 de maio.
O anúncio, no entanto, não favorecia os negócios da empresa na B3. Os papéis da companhia eram negociado em queda de 2% na tarde desta sexta-feira, cotados pouco acima de R$ 6,80.
Lucro cai, mas Grendene está otimista
A fabricante de calçados registrou lucro líquido de R$ 202,6 milhões no quarto trimestre do ano passado, o que representa queda de 12,1% em relação ao mesmo período de 2021. Já o lucro líquido recorrente trimestral recuou 10,8%, para R$ 209 milhões, enquanto o montante anual ficou em R$ 613,1 milhões, alta de 13,2%.
A receita líquida da Grendene caiu 3,3% no comparativo trimestral, para R$ 763,7 milhões. Já a receita no acumulado do ano foi de R$ 2,51 bilhões, avanço de 7,3% ante o ano anterior.
O diretor financeiro e de relações com investidores da Grendene, Alceu Albuquerque, afirma que o último trimestre “foi mais desafiador do que o imaginado”, em razão de incertezas macroeconômicas que permaneceram mesmo após o resultado das eleições.
Com isso, as vendas de estoques a distribuidores (sell-in) caíram 12,7% no comparativo anual. “Nossos clientes estão operando com níveis menores de estoque em comparação ao ano anterior, estão com 30 dias a menos”, afirmou ao Valor. Por outro lado, a venda desses estabelecimentos ao consumidor final e as operações de comércio eletrônico, que compõem o chamado sell-out, cresceram 8,7% na chamada divisão 1, que não considera Clube Melissa.
Outro fator negativo, de acordo com Alceu Albuquerque, foram as temperaturas mais baixas e o volume pluviométrico mais alto que o habitual nas regiões Sul e Sudeste.
O volume total da Grendene no último trimestre somou 43,6 milhões de pares, queda de 14,9%. O resultado considera os 9,4 milhões de pares exportados e os 34,2 milhões do mercado interno. As vendas internas e externas caíram 20,9% e 13%, respectivamente, ante o último trimestre de 2021.
Apesar da queda de volumes, a receita bruta do mercado interno cresceu 2,5% e somou R$ 710 milhões, impulsionada pela receita média de R$ 20,75 por par, 17,9% acima do quarto trimestre de 2021.
A receita bruta por par de exportação também cresceu, mas não foi suficiente para compensar a queda de volume e o efeito cambial. O valor por par foi de R$ 24,33, alta de 13,4% em relação ao trimestre equivalente.
De acordo com o diretor financeiro da companhia, o fato da Grendene possuir poucas despesas operacionais em dólar faz com que o principal impacto da valorização do real seja a queda da competitividade dos calçados no mercado internacional.
As despesas operacionais da companhia, por outro lado, cresceram 13,3% e somaram R$ 224,8 milhões no último trimestre.