Gasto público pesa na Selic e piora cenário para 2025, diz Deutsche Bank; entenda

Banco alemão engrossa o coro de instituições como Itaú e XP, que elevaram previsões de inflação e foram na contramão da Moody's

Taxa Selic é o principal instrumento do Banco Central para concretizar seu objetivo: controlar a inflação e garantir a estabilidade da moeda brasileira.  Foto: Rafael Henrique/SOPA ImagesReuters
Taxa Selic é o principal instrumento do Banco Central para concretizar seu objetivo: controlar a inflação e garantir a estabilidade da moeda brasileira. Foto: Rafael Henrique/SOPA ImagesReuters

O Brasil enfrenta um cenário econômico desafiador devido à política fiscal insustentável e à falta de vontade política para implementar reformas.

Esse é o diagnóstico dos estrategistas do Deutsche Bank em relatório publicado nesta quarta-feira (9).

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Segundo o banco alemão, apesar do crescimento surpreendente da economia doméstica no segundo trimestre, essa tendência deve perder força até o fim de 2024.

O Deutsche espera que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresça 3,1% em 2024.

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O estímulo econômico da China, o pouso suave da economia dos Estados Unidos e a política fiscal frouxa no Brasil limitam os riscos de recessão, aponta o documento.

“Mas essa combinação exige que as taxas de juros sejam altas por muito tempo”, escreveu a equipe do estrategista do Deutsche, Drausio Giacomelli.

Para os economistas, aspectos como contabilidade criativa e desembolsos extraordinários estão prejudicando a credibilidade da política fiscal do governo brasileiro.

Além disso, o baixo nível de poupança pública e privada no país ameaçam o crescimento e a sustentabilidade da dívida.

Consequentemente, isso manterá as taxas reais e a volatilidade cambial elevadas”, sublinharam Giacomelli e equipe.

Deutsche: inflação sob pressão pressiona Selic

A instabilidade financeira derivada desse quadro eleva ainda mais o risco do que a inércia da inflação, segundo o relatório.

Nesta manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro subiu 0,44%.

Com isso, o índice teve alta de 4,42% em 12 meses, muito perto da meta do Banco Central, de 4,5%.

Além disso, a energia elétrica mais cara devido à bandeira vermelha e a tendência de subida dos preços dos alimentos devem piorar as coisas nos próximos meses.

Para conter a pressão inflacionária em consequência desse quadro, o banco acredita que a Selic subirá a 12% “ou mais”.

Atualmente, a taxa básica de juros no país está em 10,75% anuais.

Cenário político adverso para reformas

Para o Deutsche, o governo federal está se adaptando às restrições políticas impostas por sua posição minoritária.

De um lado, isso implica menos espaço para iniciativas mais hostis ao mercado.

Contudo, a falta de vontade política para reverter o aumento dramático nos gastos, tanto do Executivo quanto pelo Congresso, limitam o espaço para reformas necessárias para um crescimento econômico saudável, defende o banco.

Nas estimativas do banco, o Brasil deve ter um déficit fiscal primário equivalente a 0,25% do PIB, perto da meta de déficit zero.

Porém, isso virá em parte às custas de medidas pontuais e exceções contábeis que totalizam cerca de 0,5% do PIB.

Assim, o Deutsche manteve previsão de déficit primário de 0,6% do PIB em 2024 e de 0,7% em 2025, com viés de alta.

Para entender: Deutsche engrossa coro contrário à Moody’s

O relatório do Deutsche Bank engrossa o coro recente de bancos mais pessimistas em relação ao quadro macroeconômico do Brasil.

O Itaú, por exemplo, elevou as previsões de IPCA para 2024 e 2025, sobretudo devido à deterioração do quadro fiscal.

A XP, do economista Caio Megale, foi na mesma direção.

“Não enxergamos estabilização da dívida pública no horizonte de projeção”, escreveu ele.

Esse conjunto veio na contramão da agência de classificação de risco de crédito Moody’s, que elevou o rating do país para Ba1.

Isso deixou a nota de crédito do país a um passo da faixa de baixo risco de crédito. A agência alegou, entre outros pontos, que o governo tem mais condições de cumprir metas fiscais.

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