‘Fintechs’ e ‘agtechs’ seguem o rastro da inovação no campo, que abre oportunidades para startups
Empresas de tecnologia com soluções financeiras ou operacionais para fazendas crescem com potencial econômico do campo
Com crescimento de 3% ao ano em produtividade impulsionado por novas tecnologias e pesquisas, o Produto Interno Bruto do agronegócio chegou a quase R$ 2 trilhões, corresponde a 26,6% do total do PIB brasileiro, em 2020.
No ano passado, cujos números o IBGE divulga em março, pode ter chegado a 28%, segundo estimativas da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). As cifras atraem cada vez mais dois tipos de start-ups: as agtechs e as fintechs.
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As primeiras são empresas que trazem inovações ao agronegócio, criando tecnologias focadas no setor com o uso de ferramentas de automação, Big Data e Inteligência Artificial.
O segundo grupo é formado pelas startups financeiras, que oferecem novos produtos financeiros e soluções mais ágeis num setor em que o crédito é decisivo.
Enquanto fechar uma linha de financiamento em bancos tradicionais pode levar 30 dias, nas fintechs há processos de dois dias totalmente digitais, incluindo cadastro e liberação do dinheiro.
Segundo a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), há pelo menos 43 fintechs voltadas ao setor agro. Com a sucessão e profissionalização na gestão dos negócios, os agricultores já utilizam aplicativos, assinam contratos digitalmente e compram insumos on-line, inclusive a prazo.
Um exemplo de fintech do campo é a Bart Digital, uma fintech que faz gestão de recebíveis (títulos de crédito) do agronegócio otimizando a tomada de crédito de forma digital, fundada por Mariana Bonora, diretora ABFintechs.
Bonora lembra que a pandemia acelerou a digitalização em todos os setores da economia. A Lei do Agro (13.986/2020), que trouxe mudanças como a emissão digital de títulos do agronegócio, também impulsionou essas fintechs.
Leilão de gado
O gestor financeiro Erli Salgueiro viu uma oportunidade nesse setor e se tornou um dos criadores do AgroPago, uma fintech que é chamada de Banco do Leiloeiro. Trata-se de uma plataforma digital de serviços financeiros para atender a leiloeiros de gado.
Funciona como internet banking e faz gestão de recebíveis, além de agregar informações dos animais, como nome, cor e peso. Também faz o registro de tudo o que foi movimentando e vendido nos leilões. Já atende 26 leiloeiros em sete estados.
“Pelo menos 80% das vendas de animais acontecem em leilões rurais. Na plataforma, o leiloeiro tem toda a logística do dinheiro até a última parcela da venda”, diz Erli.
Já a Lavoro é uma empresa que surgiu para consolidar o mercado brasileiro de distribuição de insumos agrícolas. Foi criada pelo Pátria Investimentos em 2017 e comercializa sementes, defensivos e fertilizantes.
Desde então, comprou nada menos que 21 empresas, a maioria de distribuição de insumos. Já tem 160 lojas físicas e, neste ano, deve abrir novas unidades em estados como Minas e Goiás. O canal digital da empresa também cresce, com o desenvolvimento de um marketplace.
“No fim de 2020, lançamos nosso aplicativo, que é a porta de entrada do nosso cliente no mundo digital, com informações de preços de commodities, crédito, e reagendamento de entregas. Vamos adicionar ainda novos serviços, através de parcerias, como monitoramento da produção”, afirma Ruy Cunha, diretor de Operações da Lavoro.
Agtechs atraem aportes
Há quase 300 agtechs no Brasil, sendo o setor de agricultura de precisão o mais representativo, com 38% do total. De acordo com dados do Distrito Agtech Mining Report, os investimentos nas agtechs no país já ultrapassaram US$ 160 milhões (cerca de R$ 820 milhões) desde 2009. Mais da metade desse valor foi aportada nos últimos três anos.
Filha de produtores rurais do Sul de Minas, Mariana Vasconcelos vive as agruras da lavoura desde muito cedo. Ela usou a experiência pessoal para fundar a Agrosmart, uma agtech que ajuda o agricultor a tomar decisões com base em dados — em vez da velha intuição — para aumentar a produtividade.
“Fazemos monitoramento de plantações, permitindo que o produtor tome a melhor decisão na operação. Do plantio até o melhor momento para a aplicação de defensivos, previsão de doenças, alertas sobre se vai ter geada ou fogo, a melhor maneira de fazer irrigação. Com isso, a gente consegue aumentar em 20% a produtividade, reduzir o uso de insumos e energia em até 40% e o de água em até 60%”, diz Mariana.
Com Agência O Globo.