Migrar FGTS de Vale e Petrobras para a privatização da Eletrobras faz sentido?
Se você colocou suas economias em papéis da Vale e da Petrobras agora pode migrar para a estatal de energia. É uma boa troca?
O período de reservas para comprar ações na capitalização da Eletrobras já começou, trazendo a possibilidade de o investidor pessoa física usar até metade do saldo das contas do FGTS. A operação traz à tona novamente o modelo dos fundos de privatização, já utilizados anteriormente em ofertas da Petrobras e da Vale. E também permite que quem colocou suas economias em papéis dessas empresas migre agora para a estatal de energia. É uma boa troca?
Quem manteve o dinheiro investido nos fundos de privatização de Petrobras e Vale desde o começo até agora se saiu bem. Os fundos da Petrobras acumularam alta de 1298,9% até maio, considerando o desconto dado na compra das ações e a taxa de administração. Já os da Vale tiveram aumento de 2881,79% até o mês passado. Atualmente, há R$ 7,4 bilhões nos fundos de privatização das duas empresas, conforme a Anbima.
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Porém, rentabilidade passada não é garantia de ganhos futuros, e as opiniões dos analistas se dividem sobre o que fazer daqui em diante. Entre os profissionais ouvidos pelo Valor, é unânime a avaliação de que o investidor não deve migrar dinheiro aplicado nos fundos mútuos de privatização da Vale para os da Eletrobras, mas não há consenso sobre o que fazer com o FGTS investido em Petrobras.
Os analistas recomendam manter o dinheiro na Vale porque afirmam que a ação está com um bom desconto em comparação ao histórico e às concorrentes. Eles apostam que a alta do preço do minério de ferro na China deve seguir beneficiando a companhia.
João Gabriel Abdouni, analista de ações da Inv, calcula que o retorno esperado para a mineradora deve ser de 17% ao ano ao longo dos próximos dez anos, enquanto o da Eletrobras deve ser de 12% a 15% ao ano. “A Vale aproveita o bom momento das commodities e não tem o risco da estatal.”
“A China está em um momento diferente dos Estados Unidos. Deve experimentar uma desaceleração econômica não tão agressiva, o que beneficia a demanda pelo minério de ferro”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus.
Sobre a Petrobras, há divergências. Alguns analistas até sugerem transferir parte do dinheiro para Eletrobras, mas não tudo. Esse grupo defende que a petroleira também é beneficiada pela alta do preço do petróleo e tem apresentado bons resultados. No entanto, a percepção é a de que a estatal de petróleo e gás corre ainda mais riscos de interferência do governo, após o presidente Jair Bolsonaro demitir três presidentes. “A melhor alternativa é dividir a posição entre Petrobras e Eletrobras para diluir o risco”, diz Abdouni, da Inv.
Mas há também analistas que acham melhor não comprar Eletrobras e continuar tanto em Vale quanto em Petrobras. Flavio Conde, analista da Levante Investimentos, é desse time. Na avaliação dele, as ações da estatal de energia elétrica não estão baratas, apesar de poderem subir no longo prazo. Em primeiro lugar, porque já incorporaram o potencial de alta que poderia vir com a privatização. Em segundo, porque estão mais caras do que os papéis de outras estatais.
Um terceiro motivo, na opinião de Conde, é o risco do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reverter a privatização se ganhar a eleição presidencial. Ele já sinalizou oposição à ideia de privatizar a companhia.
Os investidores dos fundos mútuos de privatização de Petrobras e Vale que o quiserem poderão transferir os recursos para os fundos FMP Migração, e, assim, trocar as ações pelos papéis da Eletrobras na privatização.
Há pelo menos oito fundos dessa modalidade, oferecidos por Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Genial, Itaú, Safra, Santander e XP. As taxas de administração deles vão de 0,20% a 0,40% ao ano. O período de reserva das ações vai até o dia 8 e serão alocados na oferta até R$ 6 bilhões em recursos das contas do FGTS.