Em ano de muitas incertezas, elétricas superaram Ibovespa

Ações no Índice de Energia Elétrica da B3, indicador de desempenho médio dos papéis de elétricas, recuaram 7,89% em 2021, ante baixa de 11,93% do Ibovespa

Usina de Itaipu, controlada da Eletrobras (Foto: Alexandre Marchetti/Divulgação ItaipuBinacional)

Mesmo enfrentando a pior crise hidroenergética dos últimos 91 anos, as empresas do setor elétrico listadas na Bolsa tiveram um resultado financeiro melhor do que a média do Ibovespa em 2021. No entanto, isso não significa que os investidores de energia tiveram vida fácil, já que as companhias no Índice de Energia Elétrica (IEE) – indicador do desempenho médio das ações negociadas na B3 – tiveram um tombo de 7,89% no ano.

Já o Ibovespa teve uma queda ainda maior, amargando uma perda média de 11,93% no período. Analistas ouvidos pelo Valor dizem que 2021 foi um ano desafiador para a Bolsa como um todo. Enquanto o Ibovespa foi mal por dilemas políticos e econômicos, as elétricas sofreram com a exposição de falta de água nos reservatórios e desestímulos ao consumo de energia.

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Especialistas dizem que as empresas do setor elétrico costumam acompanhar o Ibovespa, já que muitas delas compõem o índice, amortecendo os movimentos de alta e de queda, reduzindo o impacto de perdas na média geral.

Na análise do diretor da Comdinheiro, Filipe Ferreira, 2021 foi complicado e com muita perspectiva de risco, porém as companhias do setor elétrico tiveram uma volatilidade menor por terem um modelo de negócio mais resiliente às oscilações de curto prazo.

“As elétricas caíram menos do que o Ibovespa porque são papéis mais resilientes de mercado, são boas pagadoras de dividendos, são ativos sólidos, têm contratos de longo prazo e protegidas pela inflação, já que muitas delas têm receita atrelada ao IPCA e transmitem ao investidor uma segurança maior”, avalia Ferreira.

Os ruídos políticos em 2021, como ameaça de golpe no 7 de setembro, afetaram mais o índice Ibovespa. Já a dúvida que pairou sobre a economia foi precificada em todo o mercado de capitais. Exemplo disso foi o temor de descontrole fiscal no Brasil com a fala do ministro da economia Paulo Guedes, em “licença para gastar” fora do teto que limita despesas públicas.

Ferreira acrescenta que a escalada de juros no ano ajuda a explicar também o motivo de os investidores estarem reticentes com a bolsa. “Saímos de um patamar de mínima histórica da taxa de juros e estamos mirando uma taxa de 13% no fim de 2022. O que muda nas elétricas é que a oscilação será menor e ela vai sofrer menos no curto prazo”.

Entre os segmentos do setor, as geradoras hidráulicas estiveram mais pressionadas porque reduziram a produção de energia com objetivo de preservar os reservatórios durante o período seco. Com isso, algumas empresas tiveram que comprar energia no mercado de curto prazo para honrar os contratos.

Já o setor de distribuição foi afetado pelo desestímulo ao consumo de energia, o que impactou diretamente as receitas das concessionárias. Por outro lado, as transmissoras apresentaram mais estabilidade, já que possuem Receita Anual Permitida (RAP) e contratos de longo prazo.

“Muitas das boas empresas na B3 são transmissoras. Elas têm contratos de 35 anos com recebível fixo mês a mês. Já as distribuidoras precisam ter um novo papel no setor elétrico, precisam ter divisão entre lastro e energia, têm que ser prestadoras de serviço. É um papel cruel ter uma concessão de 35 anos e todo ano ter que adivinhar qual vai ser o mercado daqui a 25 anos e entrar nos leilões”, afirma o sócio da área de energia do escritório Lefosse, Raphael Gomes.

O executivo elenca outro fator importante que protege as elétricas de oscilações mais bruscas, como estabilidade regulatória, que traz mais segurança aos investidores. Para Gomes, essas empresas passaram imunes à tensão política, com exceção da Eletrobras, que ainda passa pelo processo de privatização.

“Embora o retorno tenha acompanhado o Ibovespa, elas [empresas de energia] têm uma volatilidade menor porque são empresas pagadoras de dividendos e que têm um fluxo de receita mais garantido”, avalia o executivo.

O sócio chefe de análise da Levante, Enrico Cozzolino, lembra que das 19 empresas elétricas que compõem o IEE, apenas cinco delas performaram pior que o Ibovespa nos últimos 12 meses.

“O ano que passou foi de muitas incertezas com a persistência da pandemia e variantes, a China e atividade econômica no mundo, a redução de estímulos nos EUA. Com isso, houve uma fuga do capital para ações menos arriscadas, uma vez que o setor elétrico é mais previsível, tem mais fluxo de caixa e receitas mais consistentes”, contextualiza Cozzolino.

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