Apps do mercado de ações e de ativos digitais levam mais homens ao vício

Alguns partilharam sua luta contra o vício — não em aplicativos de esportes, mas no uso de apps de corretagem

Pessoa observa e consulta aplicativo. Foto: Getty Images
Pessoa observa e consulta aplicativo. Foto: Getty Images

Um novo tipo de viciado está aparecendo nas reuniões do Jogadores Anônimos (JA) por todo o país. Trata-se de investidores obcecados pelas negociações mais arriscadas do mercado financeiro.

Assim, no local de encontro do Jogadores Anônimos no bairro de Murray Hill, em Manhattan, nos Estados Unidos, um homem chamou as opções de “crack” do mercado de ações.

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Um outro disse que se viu diante de perdas de centenas de milhares de dólares. Isso depois de ter feito um empréstimo com um agiota para dobrar suas apostas em ações.

E um jovem levou sua mãe e a namorada para a reunião, para comemorar um ano desde que fez sua última aposta.

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Então, eles faziam parte de um grupo de cerca de 60 pessoas. Quase todos homens, que estavam sentados em fileiras de cadeiras dobráveis de metal no porão apinhado de uma igreja naquela noite.

Alguns partilharam sua luta contra o vício — não em aplicativos de esportes, mas no uso de aplicativos de corretagem, como o Robinhood.

Viciados: operações são tão fáceis como pedir comida por delivery

Vários desses homens, e muitos outros por todo os EUA, descobriram o comércio de ações e as apostas durante o boom da pandemia que começou em 2020.

Alguns foram atraídos pelos elevados ganhos em ações “memes” e de outros papéis que viralizaram e foram sensação do momento. Isso os levou a apostas ainda mais altas. Quase sempre acompanhadas de perdas devastadoras.

Outros compraram e venderam criptomoedas em aplicativos que tornam as operações tão fáceis como pedir comida para viagem no Uber Eats.

Em uma época em que as apostas esportivas se tornaram um passatempo aceito, apostar em dogecoins, por exemplo, dá a mesma descarga de adrenalina que apostar em Patrick Mahomes para levar o Kansas City Chiefs ao Super Bowl.

Hábito compulsivo

Médicos e psicólogos dizem que têm percebido mais casos de jogo compulsivo nos mercados financeiros. Sua expectativa é que o problema piore.

O mercado de ações subiu mais de 23% este ano e há pouco tempo o bitcoin ultrapassou a marca dos US$ 100 mil pela primeira vez, o que instiga muitas pessoas a investirem em negociações especulativas.

Wall Street continua a introduzir maneiras novas e mais arriscadas de jogar no mercado por meio de opções de ações ou produtos complexos negociados em bolsa.

Algumas pessoas que estão desesperadas para parar de negociar se voltam para grupos de autoajuda, como o do Jogadores Anônimos (JA).

Um panfleto do JA aconselha os membros a ficarem longe das apostas em ações, commodities e opções. Às vezes, os membros entregam o controle de suas contas de aposentadoria para seus cônjuges.

Nos mesmos moldes do Alcoólicos Anônimos, o JA começou em 1957 e hoje tem centenas de locais de encontro em todos os Estados americanos. No Brasil, a entidade possui escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo.

“Oi, meu nome é…”

Mais de 30 pessoas entrevistadas pelo “The Wall Street Journal”, muitas das quais frequentam as reuniões do Jogadores Anônimos regularmente, disseram que têm lutado contra o jogo compulsivo nos mercados financeiros.

Lyndon Aguiar, diretor clínico do Williamsville Wellness, um centro de tratamento para viciados em jogo na Virgínia, disse que os conselheiros se reúnem com os traders e removem de seus celulares dezenas de aplicativos. É o primeiro passo de um programa de tratamento de 28 dias em regime de internação.

Eles podem instalar o Gamban, um aplicativo que impede as pessoas de usarem seus celulares para fazer apostas. O aplicativo começou a bloquear o Robinhood e o Webull em julho de 2021.

O centro Williamsville Wellness observou um aumento de 25% no número de pacientes com problemas de apostas ligadas a mercados financeiros desde 2020, em comparação com os quatro anos anteriores.

Abdullah Mahmood, coordenador de um programa para viciados em jogo no centro de tratamento de dependências Maryhaven, em Columbus, Ohio, afirmou que viu vários clientes entrarem no centro este ano para tratar de vício de negociações.

Segundo Mahmood, os casos de viciados em operar com opções são especialmente problemáticos.

A ascensão dos aplicativos

Conselheiros sobre casos de dependência dizem que a obsessão por apostar nos mercados financeiros passa despercebida. Assim, pode ser difícil de rastrear dado que as pessoas confundem suas ações com a prática de investir.

Então, ao contrário de aplicativos de apostas em esportes, como o FanDuel e o DraftKings, a maioria dos aplicativos de corretagem não publica avisos sobre jogo compulsivo. Tão pouco nem oferecem linhas diretas para quem quer buscar ajuda.

A proliferação de instrumentos financeiros, junto com aplicativos de corretagem chamativos que os tornam fáceis de negociar, também ajudou alguns jogadores compulsivos a se convencerem de que na verdade não estavam fazendo apostas.

Com informações do Valor Econômico.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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