Surpresa no 4º tri não muda visão de economia estagnada em 2022, dizem Citi e XP

Política monetária e guerra na Ucrânia devem contribuir para desaquecimento da atividade no ano

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O resultado melhor do que o esperado do PIB brasileiro no quarto trimestre de 2021 não muda a vida do Citi de que a economia ficará praticamente estagnada daqui para frente, “na melhor das hipóteses”, diz a equipe em relatório.

O Citi esperava contração de 0,1% da atividade no último trimestre do ano passado, em relação aos três meses imediatamente anteriores, mas o dado oficial foi um crescimento de 0,5%. A mediana da pesquisa do Valor indicava alta menor, de 0,2%.

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O resultado trimestral foi favorecido pelo desempenho da demanda doméstica, especialmente do consumo das famílias (0,7%) e do governo (0,8%), bem como dos serviços (0,5%) e da agropecuária (5,8%) do lado da oferta, destaca o Citi.

“Olhando para o futuro, além dos ventos contrários mais fortes provenientes da política monetária mais apertada, os acontecimentos recentes estão enfraquecendo alguns fatores importantes para a atividade, como o potencial desempenho mais forte do setor agrícola e as expectativas sobre uma melhora de curto prazo da atual interrupção da cadeia de suprimentos global”, aponta o relatório.

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Além da recente revisão para baixo na safra de soja feita pelo IBGE (-2,3% neste ano em relação a 2021, segundo o banco), a escalada do conflito Rússia-Ucrânia pode prolongar/agravar as interrupções na cadeia de suprimentos por mais tempo e prejudicar ainda mais o desempenho do setor agropecuário ao longo deste ano, por meio do risco de escassez de fertilizantes, afirmam.

Assim, embora a subestimação do PIB no quarto trimestre de 2021 pudesse implicar uma revisão para cima na projeção para 2022, os desdobramentos mencionados deixam o Citi confortável com sua estimativa de crescimento abaixo do consenso, de -0,3%, para este ano. A pesquisa do Valor aponta alta de 0,3%.

A XP tem uma visão semelhante. Apesar do “suspiro de alívio” com o PIB de volta ao terreno positivo no quarto trimestre de 2021, a corretora afirma continuar vendo uma atividade estável em 2022.

O resultado do fim do ano passado deve deixar uma “herança estatística” de 0,3 ponto percentual para 2022, segundo a XP. Já o rastreador de alta frequência para a variação do PIB do primeiro trimestre de 2022 está atualmente em 0,4%, na margem, segundo a corretora. Os próximos trimestres, no entanto, deverão apresentar retração da atividade doméstica, diz a XP, mantendo a expectativa de um PIB estável em 2022.

“O maior efeito estatístico do PIB do final de 2021 combinado com as estimativas de avanço no primeiro trimestre de 2022 daria um viés positivo à nossa projeção de estabilidade do PIB este ano. No entanto, a grande escalada da crise Ucrânia-Rússia suporta uma postura cautelosa em relação às perspectivas de crescimento econômico neste ano”, diz a XP em comentário a clientes.

Embora alguns setores domésticos possam se beneficiar do cenário de nova alta dos preços das commodities, afirma, o aumento da aversão ao risco global e o potencial de piora das condições financeiras, problemas adicionais na cadeia de suprimentos e inflação ainda mais alta – portanto, menor renda real das famílias – levam a casa a manter a projeção de taxa de crescimento nula para o PIB de 2022.

A XP pondera que a alta de 5,8% da agropecuária no quarto trimestre do ano passado, em relação aos três meses imediatamente anteriores, deve ser vista “com cautela”, por causa da baixa base de comparação (o setor caiu 7,4% no terceiro trimestre).

Dentro da indústria, que recuou 1,2% nos três últimos meses de 2021, na margem, um destaque positivo foi a construção civil, que cresceu 1,5%, marcando o sexto ganho consecutivo, observa a XP. “Esse resultado foi a grande surpresa em relação à composição do PIB do quarto trimestre de 2021, pois esperávamos um recuo de cerca de 1%”, diz.

Com Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico

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