PIB do Brasil de 2024 terá agro e fiscal menores, mas investimento e consumo serão boas notícias
Para 2024, o crescimento deve ser menor, mas há expectativa de aumento dos investimentos e de melhora no já consistente consumo das famílias
O PIB do Brasil em 2024 deve desacelerar, mas isso não é exatamente má notícia, tendo em conta que a base da comparação (2023) veio forte.
Assim, o PIB brasileiro, divulgado nesta sexta-feira (1), cresceu 2,9% no ano passado.
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Dessa forma, para este ano, o crescimento deve ser menor. Mas há expectativa de aumento dos investimentos e de melhora no já consistente consumo das famílias.
A maioria dos especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira aponta crescimento de 2% ou acima disso em 2024.
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A projeção do Itaú BBA é um pouco menor, de alta de 1,8%, mas “com viés de alta por conta de uma percepção mais positiva para o crédito, principalmente pessoa física, e perspectiva melhor para o PIB mundial, que deve crescer 3,1%”, destaca Natalia Cotarelli, economista do Itaú BBA.
Assim, o cenário de 2024 deve ser diferente, “com uma perspectiva de um PIB agro bem mais fraco com efeitos negativos do El Niño sobre a safra, principalmente de soja e milho”, acrescenta Natalia.
A parte fiscal, que deu impulso em 2023, também deve ter efeito mais discreto neste ano.
PIB 2024: consumo das famílias
Já o consumo das famílias foi uma “surpresa negativa” no quarto trimestre, segundo Natalia. “A gente não estava esperando uma queda na margem, mas acabou vindo”.
Apesar disso, a expectativa é de recuperação do consumo já no primeiro semestre de 2024, “sustentando por reajuste do mínimo e mercado de trabalho ainda mostrando aquecimento, com desemprego caindo e salários subindo”, acrescenta a economista do Itaú BBA.
Já com relação à inflação, a alta do PIB em 2024 ainda com grande participação do consumo não tende a impulsionar os preços de maneira alarmante.
PIB atual: destaques de 2023
A alta do PIB em 2023 está relacionada em primeira instância ao PIB agro, que veio muito forte em 2023 e contribuiu com o contexto do PIB via efeitos diretos e indiretos, que impactaram principalmente setores como o de transporte e armazenagem.
“Foi um ano mais positivo para agricultura e serviços, com o comércio também ajudando com um crescimento mais forte neste ano”, destaca Natalia Cotarelli.
O crescimento do agro foi acompanhado pelo setor de commodities, com destaque para minério de ferro e petróleo.
Nesse sentido, as exportações subiram 9,1% no ano.
Por outro lado, as importações caíram 1,2% por conta do desempenho fraco da indústria.
Assim, o superávit de 2023 foi de US$ 98 bilhões, quase o dobro de 2022.
Então, pelo lado da demanda, “o grande destaque foi o consumo das famílias”, ressalta Natalia. “O que a gente vê por trás disso é o impulso fiscal, aumento de salário mínimo, ajuste de bolsa família”.
“Tudo isso impulsiona o consumo, além disso a gente ter um mercado de trabalho resiliente, que também contribuiu para esse consumo mais forte”, complementa a economista.
Ainda assim, na avaliação do Santander, “os dados do PIB confirmaram a expectativa de desempenhos fracos no segundo semestre de 2023, “com a produção agrícola surpreendendo negativamente” na metade final do ano, diz Gabriel Couto, economista do banco.
Isso porque o agro, destaque no ano, recuou 5% no quarto trimestre, o que ajudou a deixar o PIB no zero a zero no período.
“O resultado do PIB do último trimestre de 2023 confirmou o cenário de desaceleração esperado para o período. Mesmo assim, há sinais de resiliência para a economia brasileira”, ressalta Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, com destaque para os resultados positivos de indústria e serviços, que cresceram no 4T23.
Investimentos
A redução dos juros, iniciada em meados de 2023, pode ter criado um pano de fundo instigante ao investimento, como mostra o avanço de serviços e indústria no final do ano.
Mas os efeitos positivos da queda dos juros devem aparecer com maior força em 2024, diz Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos.
“Se o governo mantiver a linha da política fiscal, determinada pelo ministro (Fernando) Haddad, 2024 poderá até apresentar crescimento econômico um pouco menor que o do ano anterior, mas com uma composição muito boa. A indústria deve se recuperar na esteira da alta do consumo e do investimento”, avalia Salto.
Assim, o economista diz que o momento é de otimismo, mas destaca a necessidade de “cautela” atualmente, em que há “tantas pressões por gastos novos, que precisarão ser neutralizadas”.
Juros
Para Paulo Gala, economista-chefe do banco Master, o grande desafio em 2024 é retomar o investimento. Para tanto, a queda dos juros é essencial.
“Caímos para a mínima em 20 anos, indo para 16% do PIB, o que é muito baixo, depois de termos chegado perto de 22% entre 2014 e 2015”, avalia.
Então, o ano de 2023 é o segundo em que o Brasil cresce quase 3%, algo que não acontecia desde o início da década passada.
“Isso melhora bastante a situação do governo. O Brasil conseguiu crescer com uma Selic de quase 14%, isso é quase heroico. E esse ano deve ser melhor, com crescimento de quase 2%.”, ressalta Paulo Gala.
Porém, ele alerta para os sinais dados pelo crescimento zero no último trimestre de 2023.
“Na ponta, há uma estagnação, isso é efeito de juro muito elevado”, diz Gala.
Dessa maneira, como resultado, a formação bruta de capital fixo (investimento) caiu 3%, “muito em consequência dos juros elevadíssimos”, reforça.
No ano anterior a formação bruta de capital fixo tinha aumentado 1,1%, o que mostra o recuo acentuado nessa linha do PIB.
Outra notícia ruim é que a indústria de transformação e manufatura (que exclui a extrativa) caiu 1,3%, “mostrando que houve nova desindustrialização”, alerta.
Queda dos investimentos estava na conta
Mas para a economista do Itaú BBA, a queda dos investimentos estava na conta para um equilíbrio fiscal e, nesse sentido, não é esperado que o Banco Central acelera sua política de queda de juros, que tem se mantido em 0,50 p.p. por reunião desde meados de 2023.
“Os investimentos realmente foram impactados por conta da política monetária contracionista, isso faz parte do ciclo de aperto monetário”, diz a economista.
“Na margem, a gente teve um investimento subindo para 2024, talvez uma primeira indicação de que o ciclo de corte de juros pode começar a impactar positivamente o investimento”, avalia.