Reajuste da Petrobras também vai afetar varejo
Consultorias agora preveem queda das vendas de combustíveis em 2022, com possível impacto para varejo como um todo
Para além dos efeitos na inflação, o aumento dos combustíveis anunciado ontem pela Petrobras deve atingir em cheio as vendas do setor, que já vem sofrendo com o efeito dos preços elevados no volume vendido desde o ano passado. Com o anúncio, Tendências Consultoria e LCA Consultores reviram suas projeções para as vendas de combustíveis e lubrificantes em 2022 e agora preveem quedas de 0,5% e 0,6%, respectivamente, ante estimativas anteriores de alta de 2,4% e 1,6%.
A inflação mais alta deve repercutir não só nas vendas de combustíveis, mas também do varejo como um todo, que sofrerá as consequências de um orçamento mais apertado das famílias. A Tendências Consultoria reduziu sua expectativa para o crescimento do varejo restrito (que não inclui veículos nem material de construção) de 1,1% para 0,7%. Já a LCA Consultores manteve sua projeção em 1,2%, mas com uma composição diferente: retração nos combustíveis e aumento maior em artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria.
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“Até então nossa ideia era que as vendas de combustíveis e lubrificantes iam melhorar por causa do arrefecimento dos preços e da volta dos serviços mais presenciais, com as pessoas saindo mais de casa em razão do fim da pandemia. Agora vê o efeito da guerra, com as pressões na inflação e nos preços de combustíveis, inclusive com esse reajuste de hoje [ontem]”, afirma a economista da Tendências Isabela Tavares.
As consequências da guerra na Ucrânia ocorrem em um momento já delicado para as vendas de combustíveis e lubrificantes. As restrições de mobilidade social trazidas pela pandemia provocaram uma queda de 9,7% em 2020. O setor começou 2021 com alguma reação em volume, mas a disparada do preço do petróleo no mercado internacional a partir de meados do ano começou a pressionar o setor.
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Para ter uma ideia, as vendas encerraram 2021 com uma variação de apenas 0,3% em volume, mas a receita avançou 35,5%. Esse descompasso entre a variação de receita e de volume de vendas têm ocorrido nos últimos meses, pelos dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e revelam o peso da inflação no setor, conta o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. Em janeiro, dado mais recente, o volume de vendas caiu 0,4%, mais que o recuo de 0,2% da receita.
Pelos cálculos do economista Lucas Rocca, da LCA Consultores, mesmo que as vendas de combustíveis e lubrificantes escapem do terreno negativo e fiquem estáveis ainda encerrarão o ano com patamar perto de 10% abaixo do que estavam no fim de 2019. Os dados da PMC mostram que, em janeiro, o nível era 12,9% inferior ao registrado antes da pandemia, em janeiro, o nível era 12,9% inferior ao registrado antes da pandemia, em fevereiro de 2020, o quarto pior desempenho entre as oito atividades que compõem o varejo restrito.
“Sabemos muito pouco do que virá com a guerra, mas incorporando as informações já conhecidas, do reajuste da Petrobras e do resultado do comércio em janeiro, nossa previsão é de nova queda em 2022, de 0,6%. A questão é que o patamar de vendas de combustíveis já está muito baixo”, diz.