Riscos financeiros ainda podem emergir do sistema bancário dos EUA, diz ex-economista-chefe do FMI

Raghuram Rajan diz que desenvolvimento industrial pode não ser o caminho para países como Índia e Brasil e fala sobre exportação de serviços

Raghuram Rajan, ex-economista-chefe do FMI, em painel de discussão do Itaú BBA Macro Vision 2024 Foto: Divulgação/Itaú Unibanco
Raghuram Rajan, ex-economista-chefe do FMI, em painel de discussão do Itaú BBA Macro Vision 2024 Foto: Divulgação/Itaú Unibanco

O professor da Universidade de Chicago Raghuram Rajan se mostra preocupado com a falta de compreensão das autoridades e da sociedade sobre os riscos financeiros que se avolumaram nos últimos anos, com o crescimento das dívidas públicas e taxas de juros em patamares históricos.

Rajan, que foi economista-chefe do FMI, alertou sobre a disseminação dos riscos em setores mais desregulados da economia.

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“Os grandes bancos têm tanta regulação que acabaram deixando muito dos riscos para outras áreas”, disse o economista durante o Itaú BBA Macro Vision, realizado nesta segunda-feira (14).

Ele lembrou da crise dos bancos menores nos Estados Unidos, com destaque para o Sillicon Valley Bank (SBV).

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Tratava-se de um banco que atendia principalmente iniciativas voltadas para o setor de tecnologia e que ruiu em março de 2023.

O economista brincou com a afirmação de que foi um dos responsáveis por prever a crise do sistema financeiro em 2008 e mostrar que o cenário hoje é mais turvo.

“Tive sorte de prever a primeira crise (dos subprimes) e as pessoas acham que vou fazer de novo”, disse

Risco no sistema bancário ‘ainda pode emergir’

O ex-FMI destacou ainda que, assim como foi visto recentemente nos Estados Unidos, “o risco ainda pode emergir do sistema bancário”. Contudo, de setores que estão fora do foco das grandes autoridades.

“Os grandes bancos estão relativamente bem supervisionados. Porém, os médios e os pequenos demandam atenção mais próxima”, ressaltou.

Outro alerta feito por Rajan é em relação à falta de liquidez nas economias menos desenvolvidas.

Isso, na comparação com o dinheiro concentrado em títulos de dívida pública de economias mais robustas, como a norte-americana.

“(A concentração de capital nos títulos públicos de países desenvolvidos) não faz tanta diferença no curto prazo, mas se algo ruim acontecer, isso pode aumentar os efeitos (negativos)”.

Vimos em março de 2020 que algo grave estava acontecendo e teve uma demanda grande por dinheiro em vários mercados”, lembra.

Caminho para Índia e Brasil não é mais a industrialização

Em outro momento da conversa, o economista, que também foi presidente do banco central da Índia, disse que tem sido mais desafiador retomar a ideia de desenvolvimento industrial para economias emergentes.

As formas que China, Coreia do Sul e Taiwan encontraram de buscar o desenvolvimento podem não ser suficientes.

Mesmo para a Índia, o caminho para o desenvolvimento, segundo Raghuram Rajan, é outro.

“O governo (indiano) tem pensado na manufatura de eletrônicos, mas, nos últimos anos, a parcela da Índia na produção não mudou”.

O economista diz que a produção industrial hoje é muito competitiva e a disputa por mercado não é mais com Estados Unidos e Europa e trabalhadores especializados do mundo desenvolvido.

Mas, sim, com países de renda média e, portanto, mão de obra mais barata.

Ainda que a Índia tenha encontrado maneiras de abastecer seu mercado interno e ainda exportar componentes eletrônicos, a forma que achou para fazer isso é apenas limitada do ponto de vista de criação de empregos e melhora da renda.

Isso porque a solução foi a mecanização da produção, com baixo recrutamento de mão de obra.

Exportação de serviços

Nesse sentido, países como Brasil e Índia devem exportar serviços em áreas em que são referência para buscar o desenvolvimento.

“A Índia tem desenvolvido esse setor, principalmente depois da pandemia. Atualmente, não precisamos ir aos EUA para serviços de consultoria”, destacou. “Vemos transmissão de serviços a distância que vão desde medicina até a parte de maior valor agregado da manufatura”, acrescentou o economista.

Raghuram Rajan disse que os gráficos de desempenho das cadeias de suprimentos se mostram hoje mais com uma elevação nas extremidades, onde há maior valor agregado, e um vale na região central, que é a produção.

“No iPhone, a parte intelectual é de muito valor, mas a produção é a mesma desde 2004, e tem menos valor”, exemplifica.

Ele destaca que, tendo criado a ideia e terceirizado a produção para regiões de renda média, a Apple hoje se destaca pela venda de serviços de aplicações para seus gadgets.

As economias que desejam crescer devem apostar na oferta de serviços desse tipo, superespecializados.

Nesse ambiente, as economias emergentes saem atrasadas na briga por espaço nesse mercado de exportação de serviços, mas podem avançar se conseguirem o nada trivial objetivo de especialização da mão de obra.

“Hoje, os países industriais também exportam seus serviços e vão perder (espaço) se não se protegerem”, complementou.

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