IPCA não captura efeito das queimadas e preço dos alimentos deve subir, dizem especialistas
Especialistas dizem que IPCA de agosto não capturou efeito das queimadas e esperam aumento dos preços dos alimentos daqui em diante
A nuvem de fumaça que fez do ar de São Paulo o mais poluído do mundo na segunda-feira (9) chegou com alguma demora à capital paulista, depois das queimadas do final de agosto.
Assim, também o impacto sobre o preço dos alimentos, ainda não observado no IPCA divulgado nesta terça-feira (10), deve chegar atrasado.
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O IPCA de agosto registrou deflação de 0,44% no preço dos alimentos e bebidas. Contudo os especialistas dizem que a pressão sobre os preços dos alimentos deve se acentuar daqui em diante.
“A leitura de agosto, tanto do IPCA quanto do IPCA-15, não capturou o ápice dos incêndios”, diz Matheus Dias, economista do FGV-Ibre.
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Dessa forma, a coleta do IPCA terminou perto dos períodos mais intensos das queimadas, nos últimos dias do mês passado. Assim, nos próximos meses, algumas colheitas podem registrar avanço dos preços relacionado às queimadas.
Alimentos mais afetados
Dessa maneira, entre os alimentos já afetados Dias menciona a laranja. A produção é concentrada no estado de São Paulo, além de melancia, banana, café e açúcar.
A produção do açúcar também tem sido especialmente impactada porque parte da produção da cana de açúcar está sendo destinada para manter a produtividade do etanol.
Assim, para o longo prazo Claudio Felisoni coloca nessa lista grãos, carnes, frutas, hortaliças, leite e derivados. Claudio é presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo) e professor da FIA Business School.
Ademais, ele menciona “os efeitos indiretos provocados pela precarização do solo e suas consequências para a produtividade”.
Motivo da quedas dos preços em agosto
Felisoni pondera que alguns itens da lista tiveram quedas significativas de preços até então “porque as áreas dessas lavouras foram menos afetadas ou os volumes já colhidos produziram maior oferta”.
É o caso de alguns grãos que não foram muito afetados. Aqui estão dois exemplos: arroz e soja. Dessa maneira, isso ocorre porque a maior parte de sua produção já havia sido colhida antes das queimadas.
Mas há outros casos. O feijão é um deles.
O produto foi poupado porque a produção está mais concentrada no Nordeste e no Centro-Sul do país.
Assim, ao redor do mundo houve queda generalizada do preço das commodities. “Trazendo os alimentos como um todo para preços mais tranquilos”, avalia Victor Furtado. Ele é head de alocação na W1 Capital.
Assim, o índice de preços da FAO caiu para 120,7 pontos em agosto. Foram 121 pontos de julho. O índice acompanha as commodities alimentares mais comercializadas globalmente,
Aumento de preços no horizonte?
Então, para boa parte dos analistas há aumento do preço dos alimentos no horizonte.
E além das queimadas há questões como aquecimento do mercado de trabalho e do setor de serviços. Similarmente isso pode forçar o preço dos alimentos para cima.
Mas há a sazonalidade. Assim, isso significa que os preços praticados em junho, julho e agosto ficam aquém dos que serão observados nos meses seguintes.
Por fim há a análise Leandro Gilio. Ele é pesquisador do Insper Agro Global.
Assim, ele ressalta ainda impactos sobre as culturas que estão em fase de início de plantio.
E que devem ter algum atraso por conta da falta de chuvas. Em resumo, esse atraso pode reduzir a janela de safra e diminuir a produtividade.
Assim, com o prosseguimento das secas é possível que haja revisão da safra para baixo na próxima temporada.
“Como a maior parte das áreas de cultivos de grãos importantes ainda está em fase de plantio não há uma previsão mais exata de como será esse desenvolvimento inicial”, alerta.