Quanto custa a gasolina no país mais rico do mundo? Conheça a vida no Catar, sede da Copa

Uma alta receita do petróleo e um governo ditatorial criam estruturas de preço muito diferentes das dos países ocidentais

Vista aérea de Doha, capital do Catar (Foto: Kazuo Ota/Unsplash)
Vista aérea de Doha, capital do Catar (Foto: Kazuo Ota/Unsplash)

O aumento dos combustíveis por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia é um fenômeno global. No Brasil, há uma semana, a Petrobras elevou o preço da gasolina em 18,8% e o do diesel em 24,9%, causando indignação geral. Outros países também estão registrando fortes elevações: nos Estados Unidos, o galão da gasolina (o equivalente a 3,79 litros) subiu 51% desde março do ano passado e está custando US$ 4,32 dólar (R$ 22,18 pelo câmbio desta quarta-feira, 16 de março).

Mas a situação é um pouco diferente no Catar, o país mais rico do mundo, que vai sediar neste ano a Copa do Mundo de futebol. A produção de petróleo e gás responde por cerca de 60% do PIB (Produto Interno Bruto). Com esse tesouro em forma de combustível, a renda per capita é de cerca de US$ 130 mil (R$ 667,4 mil) por ano ou US$ 10,8 mil (R$ 55,4 mil) por mês, segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional). O litro da gasolina está custando hoje 2,10 riais do Catar, ou R$ 2,94. Considerando essa renda per capita, praticamente de graça.

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A cotação da moeda local, o rial, nem é muito absurda em relação ao brasileiro real (1 para 1,4), mas tanta riqueza cria, na economia, uma estrutura de preços de produtos e serviços totalmente diferente daquela à qual estamos acostumados. O combustível é super barato, mas as bebidas, caríssimas. Uma escova simples num cabeleireir fica em 250 rials (R$ 350), mas roupas na rede de fast fashion MNG custam o mesmo, em reais, do que na Zara, no Brasil. Depois de visitar o país em dezembro passado para conhecer os preparativos para a Copa, queria dar uma sugestão ao governo. Na área de desembarque do aeroporto, deveria haver uma faixa para recepcionar os turistas parafraseando Dante Alighieri na Divina Comédia: “Vós que entrais, abandonai… TODA E QUALQUER REFERÊNCIA DE PREÇO“, porque no país a lógica do dinheiro é diferente.

.Saiba como funcionam os ganhos e gastos no país da Copa:

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  • O Catar precisa atrair muita mão de obra estrangeira para todos os setores. Dos seus cerca de três milhões de habitantes, 80% são estrangeiros – indianos, paquistaneses, filipinos, birmaneses. Só é possível entrar no país para trabalhar com um convite do empregador e vaga garantida. Os patrões são responsáveis por pagar o alojamento dos funcionário de todos os escalões, então até constroem prédios de quatro ou cinco andares em bairros mais afastados do centro da capital Doha para hospedar seus funcionários. Uma vaga em quarto compartilhado em um dos predinhos custa cerca de 250 rials (R$ 350,50) para o contratante; um apartamento mobiliado de 90 metros quadrados com dois quartos e dois banheiros em um bairro central de Doha custa 6.500 rials (R$ 9.090) por mês. Se não tiver um prédio próprio, o empregador é obrigado a pagar uma ajuda de custo para hospedagem de 500 rials (R$ 599).
  • Caso o profissional queira se instalar definitivamente em Doha, vai pagar até 2 milhões de rials (R$ 2,8 milhões) por um apartamento do mesmo perfil. Para pegar um financiamento, os juros são de 5% ao ano. (Dependendo da modalidade, os juros da Caixa, no Brasil, podem chegar a 10,75%.) Ter casa própria no Catar vem com um bônus: quem compra um imóvel no país ganha a cidadania catari. Presenteada com um apartamento no bairro mais luxuoso de Doha pelo seu então marido, o bilionário Wissam Al Mana, a cantora americana Janet Jackson recebeu a cidadania. O casamento dos dois terminou em 2017, cinco meses depois de ter começado. Não se sabe se ela renunciou à cidadania catari.
  • Monarquia absolutista, o Catar é governado por um ditador, o emir Tamim bin Hamad Al Thani, que herdou o trono de seu pai. Thani é também o dono do clube de futebol Paris Saint Germain, onde joga o brasileiro Neymar. Seu governo subsidia parte das despesas com energia elétrica, gás e água dos cidadãos. Um plano pós-pago de telefone celular da Vodafone ou da operadora local, a Ooredoo, varia de 100 rials (R$ 139,80) a 500 rials (R$ 699).
  • O governo também dá de presente para todos os cataris que se casam um lote para que construam sua casa e comecem uma família.
  • O salário mínimo no Catar é de 1.000 rials (R$ 1.398), não muito diferente do Brasil. Foi instituído em março de 2021 em resposta às críticas da comunidade mundial às condições de trabalho de profissionais menos qualificados, como pedreiros. Os relatos de utilização de mão de obra escrava nas obras dos 11 estádios que receberão jogos da Copa também fizeram a Fifa pressionar por melhorias. Calcula-se que 6.500 operários tenham morrido nas obras.
  • Um professor ganha, em média, 15.000 rials (R$ 20.970) por mês. Um médico, de 35.000 rials (R$ 48.900) a 40.000 rials (R$ 55.920) por mês.
  • O patrão também é responsável por bancar a alimentação dos funcionários. Caso não tenha um refeitório, precisa pagar uma ajuda de custo de 300 rials (R$ 419,40).
  • Os cidadãos cataris usufruem de um sistema público de saúde, grátis. Recentemente, uma lei proibiu o acesso ao sistema para os estrangeiros, que precisam contratar um plano de saúde. Quem paga? Claro, o patrão.
  • A passagem de ônibus metropolitana em Doha custa de 3 rials (R$ 4,19) a 10 rials (R$ 13,98).
  • Como o país não produz quase nada de alimentos, os supermercados são abastecidos com importações. Mesmo com a recente disparada da inflação no Brasil, os preços assustam: 1 litro de leite custa 7 rials (R$ 9,79) e uma dúzia de ovos, 15 cataris (R$ 20,97).
  • Nos restaurantes, há opções para todos os bolsos. Um McLanche Feliz no McDonald’s fica em 25 cataris (R$ 34,95). Um jantar para dois em um restaurante fino não sai por menos de 400 cataris (R$ 559,20).
  • As bebidas são caras. Um capuccino vai de 15 rials (R$ 20,97) a 25 rials (R$ 34,95). Uma caneca de cerveja em um bar fica em 50 rials (R$ 69,90), enquanto uma garrafa comprada no supermercado custa 30 rials (R$ 41,94).
  • A cereja do bolo? O Catar não cobra impostos sobre vendas, como o ICMS, nem sobre propriedades, nem imposto de renda.

Vale a pena ($$$) conhecer? Com toda certeza.

(A jornalista viajou ao Catar a convite do grupo de turismo Águia, que comercializa pacotes de viagem e tem a exclusividade das vendas, no Brasil, dos camarotes nos estádios da Copa.)

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