Montadoras anunciam investimento recorde de R$ 95 bilhões no Brasil até 2032

Cifras podem ser ainda maiores. Pelos cálculos da Anfavea, entidade que representa a indústria automotiva, a previsão de aportes chega a R$ 117 bilhões até 2029

Indústria automotiva. Foto: Monty Rakusen/Getty Images
Indústria automotiva. Foto: Monty Rakusen/Getty Images

Com o anúncio feito pela Stellantis – dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM – de que irá investir R$ 30 bilhões no Brasil até 2030, o volume de investimentos programados pelas montadoras no país alcançou a marca de R$ 95 bilhões até 2032, o maior ciclo da história.

As cifras podem ser ainda maiores. Pelos cálculos da Anfavea, entidade que representa a indústria automotiva, a previsão de aportes chega a R$ 117 bilhões até 2029.

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Há dois meses, o governo Lula lançou um novo programa de apoio à indústria automotiva, o Mover, cuja regulamentação é esperada para este mês. Sucessor do Rota 2030, que terminou em dezembro de 2023, o Mover – acrônimo de Mobilidade Verde – vai liberar R$ 19,3 bilhões para as montadoras produzirem carros mais seguros e menos poluentes.

O programa, que vai até 2028, já surte efeitos, com os anúncios de investimentos pelas montadoras. Só nesta semana, em dois comunicados, o volume divulgado chega a R$ 41 bilhões, pois, além dos R$ 30 bilhões da Stellantis, a Toyota informou que deve investir R$ 11 bilhões também até 2030 para ampliação da oferta de automóveis híbridos flex. A montadora japonesa é pioneira nessa tecnologia, ao combinar um motor a combustão movido a gasolina e etanol com um elétrico, no Corolla, desde 2019.

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No caso da Stellantis, os investimentos são fruto não apenas do Mover, mas também da prorrogação dos incentivos regionais, que beneficiam sua fábrica em Pernambuco. Em novembro, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), disse que a manutenção dos estímulos – conquistada pela Stellantis após uma queda de braço com Volkswagen, GM e Toyota na tramitação da reforma tributária – assegurava pelo menos US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 7,4 bilhões) na operação da Stellantis na cidade de Goiana.

O Mover tem o objetivo de acelerar a eletrificação no país. Previsões de consultorias como a A&M e Bright Consulting indicam que até o fim desta década metade dos automóveis vendidos no Brasil terá algum grau de eletrificação. Na indústria, porém, ainda há uma avaliação de que será difícil alcançar essa marca.

Nesta semana, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse que é preciso recuperar a indústria.

“O Brasil teve um processo de desindustrialização precoce ocasionado por juros altos, pelo câmbio e por impostos. Precisamos de iniciativas verdes e sustentáveis para descarbonização da matriz e formação de uma indústria exportadora.”

R$ 30 bi em descarbonização

Até 2030, o grupo Stellantis vai investir R$ 30 bilhões para lançar 40 produtos, entre novos modelos e a renovação do portfólio atual, incluindo seus primeiros carros híbridos produzidos no país.

A empresa não revela ainda quanto vai investir em cada marca, mas assegura que o plano é exclusivo do Brasil, onde a Stellantis produz em Betim (MG), Porto Real (RJ) e Goiana (PE). Na Argentina, onde o grupo tem fábrica da Fiat e da Peugeot, estão previstos outros R$ 2 bilhões.

Neste ano, a montadora encerra um ciclo, iniciado em 2018, de R$ 16,2 bilhões. O novo pacote, que começa no ano que vem, prevê quatro novas plataformas (bases comuns para produção de diferentes modelos). Essas plataformas permitirão a produção de automóveis tanto híbridos flex – que combinam um motor elétrico com outro a combustão, movido a etanol e gasolina – quanto, no futuro, puramente elétricos, com baterias a princípio importadas.

A empresa anunciou que irá investir em uma tecnologia híbrida batizada de Bio-Hybrid, constituída por sistemas híbridos e híbridos plug-in (de carregamento na tomada), além de prever também o desenvolvimento de automóveis puramente elétricos. O lançamento do primeiro híbrido flex está previsto para o segundo semestre deste ano.

O anúncio do investimento foi feito primeiramente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela manhã, no Palácio do Planalto, pelo CEO global da Stellantis, o português Carlos Tavares. No encontro, o executivo elogiou o programa Mover – sucessor do Rota 2030 -, classificado por ele como um programa “extremamente inteligente”. Mais tarde, em entrevista coletiva à imprensa, Tavares considerou que a América Latina se tornou uma região estável, e destacou que o Brasil é hoje um país que faz esforços para estabilizar sua economia, algo fundamental para a definição de novos investimentos.

Elétricos

A Stellantis tem como meta chegar a 2030 com os carros puramente elétricos representando 20% de suas vendas no Brasil. A eletrificação do portfólio está contemplada no volume de investimentos anunciado ontem.

Mas, com o ritmo de adoção dos carros elétricos avançando mais lentamente nos mercados emergentes do que nas economias desenvolvidas, a escala de produção é limitada, o que compromete a capacidade da indústria de oferecer novas tecnologias a preços mais acessíveis.

“Estamos assistindo neste momento a uma fragmentação do mundo e uma tendência em que a regionalização está cada vez mais forte, o que não é necessariamente uma coisa boa”, comentou Tavares.

“Os europeus querem veículos elétricos; os americanos ainda estão hesitando; aqui na América Latina temos o flex fuel; obviamente que os africanos não poderão pagar pelos veículos elétricos. Portanto, são necessárias soluções específicas a cada região”, acrescentou o executivo.

A saída para popularizar os carros elétricos, emendou Tavares, seria, então, vender a tecnologia com prejuízo, o que comprometeria a saúde financeira das empresas, com consequente risco de demissões. Por outro lado, subsídios a novas tecnologias esbarram no maior endividamento dos governos após os gastos extraordinários na pandemia.

Nesse sentido, o CEO da Stellantis disse que o biocombustível brasileiro, combinado a um motor elétrico em carros híbridos, permitirá que a eletrificação aconteça de forma acessível à classe média, ao contrário de outros mercados. O motor flex representa, conforme Tavares, uma solução que é tanto “amiga” do meio ambiente quanto acessível.

Entre as tecnologias contempladas pelos novos investimentos da Stellantis, em várias etapas de descarbonização, a montadora planeja aprimorar propulsores movidos apenas pelo etanol. Em todo o mundo, o grupo investe € 50 bilhões na transição energética.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo

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